O gelo marinho na região da Antártida acaba de registar mínimos quase históricos pelo terceiro ano consecutivo, indicando uma tendência preocupante de longo prazo. Atribuídas ao aquecimento global, essas perdas recorrentes têm implicações significativas para o clima e para a saúde do planeta, alertam cientistas da NASA e do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo.

O gelo marinho é conhecido por atuar como um regulador crucial, impedindo a transferência de calor do oceano para a atmosfera. A redução da cobertura de gelo permite que o oceano aqueça a atmosfera, criando um ciclo vicioso de aumento das temperaturas, explica Linette Boisvert, do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA.

O declínio observado nos últimos anos contrasta com flutuações históricas, sugerindo uma mudança evidente desde 2016, com a cobertura de gelo a permanecer consistentemente abaixo do normal e atingindo a sua extensão anual mais baixa a 20 de fevereiro último, com um total de 1,99 milhões de quilómetros quadrados.

O valor é 30% abaixo da média do final do verão de 1981 a 2010. A diferença na cobertura de gelo abrange uma área aproximadamente do tamanho do Texas. A extensão do gelo marinho é definida como a área total do oceano em que a fração de cobertura de gelo é de pelo menos 15%, nota a NASA.

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O mínimo deste ano está a par do de fevereiro de 2022, para a segunda menor cobertura de gelo ao redor da Antártida, e perto do mínimo histórico de 2023, de 1,79 milhões de quilómetros quadrados.

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Os dados atuais, recolhidos pelos satélites Nimbus-7 da NASA e da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), mostram uma ligação entre os mínimos recentes e anos anteriores, marcando a média de três anos mais baixa para a cobertura de gelo na Antártida em mais de quatro décadas.

Enquanto isso, no outro extremo do planeta, a cobertura máxima de gelo no inverno no Oceano Ártico continua a baixar, refletindo um padrão de 46 anos de redução constante.

As imagens de satélite revelam que a área total coberta por gelo marinho estava nos 15,65 milhões de quilómetros quadrados a 14 de março. Isso representa menos 640.000 quilómetros quadrados de gelo do que a média entre 1981 e 2010. No geral, a cobertura máxima de gelo no inverno no Ártico diminuiu em uma área equivalente ao tamanho do Alasca desde 1979, compara a NASA.

O gelo marinho é crucial para refletir a radiação solar, ajudando a manter o planeta mais fresco, acrescenta Linette Boisvert. Além disso, o oceano exposto absorve mais calor, contribuindo para o aquecimento global. Paralelamente, medições recentes mostram que o gelo ficou mais fino ao longo dos anos, tornando-se mais suscetível a derreter.

“A ideia é que dentro de algumas décadas teremos verões essencialmente sem gelo”, aponta a investigadora, com a cobertura de gelo reduzida para menos de 1 milhão de quilómetros quadrados e a maior parte do Oceano Ártico exposta a o brilho quente do Sol.

É demasiado cedo para perceber se as recentes descidas do gelo marinho no Pólo Sul apontam para uma mudança a longo prazo e não para uma flutuação estatística, mas há quem acredite que os futuros declínios são inevitáveis. “É apenas uma questão de tempo”, refere Walt Meier, do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo da Universidade do Colorado. “Depois de seis, sete, oito anos, começa a parecer que talvez esteja a acontecer. É apenas uma questão de reunir dados suficientes para ter certeza”.