Embora seja observado frequentemente na Terra, o efeito glória - uma espécie de arco-íris circular - até agora só tinha sido observado uma vez no Sistema Solar, no planeta Vénus. Uma equipa internacional, liderada pelo investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), Olivier Demangeon, parece ter detetado este efeito, emitido pela atmosfera infernal do exoplaneta WASP-76 B.
A 637 anos-luz de distância da Terra, o WASP-76b é um “júpiter” ultra-quente, que orbita a sua estrela 12 vezes mais perto do que Mercúrio em volta do Sol. Devido à enorme quantidade de radiação que recebe da sua estrela, este exoplaneta está inchado e apesar de ser 10% menos massivo que o maior planeta do Sistema Solar, tem quase o dobro do tamanho de Júpiter.
Um dos lados do WASP-7 b está permanentemente virado para a sua estrela, sendo extremamente quente (atinge os 2.400 graus Celsius) e brilhante. Aqui, os elementos que formaram as rochas da Terra, evaporam, condensando no lado noturno, mais fresco, por estar permanentemente na escuridão, dando origem a nuvens de onde chove ferro derretido.
“Há uma razão para nunca se ter visto uma “glória” fora do Sistema Solar - é necessário um conjunto muito particular de condições”, esclarece Olivier Demangeon, o primeiro autor deste estudo. “Primeiro é preciso partículas atmosféricas perfeitamente esféricas (ou quase), atmosfera completamente uniforme e estável o suficiente para que possa ser observável durante longos períodos de tempo".
A estrela, muito próxima do planeta, tem de brilhar diretamente sobre a atmosfera e o observador tem de estar perfeitamente orientado, neste caso, o telescópio espacial Cheops, acrescentou.
Além dos dados do Cheops, a deteção também contou com os dados das missões espaciais TESS, Hubble e Spitzer. As observações reunidas parecem indicar que a primeira “glória” extrassolar estará algures entre as duas metades.
Este efeito, semelhante a um arco-íris, ocorre quando a luz é refletida pelas nuvens, compostas por uma substância perfeitamente uniforme, mas até agora desconhecida.
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Apesar da semelhança no aspeto, um arco-íris não tem a mesma origem do que uma “glória”. Os arco-íris formam-se quando a luz passa de um meio com uma densidade para outro com densidade diferente (por exemplo, do ar para a água), o que provoca refração da luz. Como luz com frequências diferentes sofrem desvios diferentes, a luz branca divide-se nas várias cores que a compõem, formando o familiar arco colorido.
Já uma “glória” é formada quando a luz passa por uma fina abertura, por exemplo entre as gotas de água nas nuvens ou no nevoeiro. Neste caso a luz é desviada, mas devido à difração, o que frequentemente origina coloridos anéis concêntricos, com a interferência entre as diferentes ondas de luz a criarem um padrão de anéis claros e escuros.
Desde a sua descoberta, em 2013, que a aparente assimetria no terminador (a linha de transição da parte de dia para a parte de noite) deste planeta intriga os investigadores. O Cheops tem observado intensamente as passagens do WASP-76b em frente à sua estrela. Depois de 23 observações, ao longo de três anos, os dados mostram um aumento surpreendente da quantidade de luz proveniente do terminador este. Isto permitiu aos investigadores restringir as causas possíveis deste sinal.
“O planeta gigante WASP-76b já nos tinha surpreendido com a suspeita que lá chove ferro. E agora temos uma segunda surpresa - a indicação que poderá ter o efeito glória. Os sinais deste efeito são muito pequenos e difíceis de detetar”, comenta Susana Barros, igualmente citada em comunicado.
A confirmação do efeito glória significaria a presença de nuvens compostas por gotas de água perfeitamente esféricas, que ou duraram pelo menos durante os três anos de observações, ou foram constantemente reabastecidas. Para este tipo de nuvens persistir, a temperatura da atmosfera também teria de ser estável ao longo do tempo, o que dá uma visão fascinante e detalhada do que pode estar a acontecer no WASP-76b.
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A equipa irá agora tentar encontrar provas irrefutáveis desta rara “glória”, o que poderá ser alcançado com observações com o instrumento NIRSPEC, a bordo do telescópio espacial James Webb (NASA/ESA/CSA), ou com a missão espacial Ariel (ESA). Se se confirmar, a primeira “glória” exoplanetária poderá ser uma bela ferramenta para compreender melhor este planeta, assim como a sua estrela-mãe.
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