É uma das principais clínicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA) em Portugal e quer garantir que está na vanguarda da inovação tecnológica. Daí à Ferticentro investir em soluções de inteligência artificial para otimizar os tratamentos de fertilização in vitro (FIV) foi “um pulinho”. Em entrevista ao SAPO TEK, Vladimiro Silva, Diretor Científico da Ferticentro - e também das clínicas Procriar e Ava -, revelou os motivos que levaram à adoção da IA, assim como os avanços e desafios enfrentados ao longo deste processo.
A incursão da Ferticentro no mundo da IA começou há mais de uma década, em 2013, quando a clínica começou a usar a solução EmbryoScope, uma incubadora de alta tecnologia equipada com uma câmara de vídeo que monitoriza o desenvolvimento embrionário de forma contínua. Este dispositivo permitiu à clínica observar detalhes do desenvolvimento dos embriões que anteriormente eram invisíveis ao olho humano, abrindo novas possibilidades no campo da reprodução assistida.
No entanto, as limitações da observação humana, como a dificuldade em distinguir variações subtis e a inconsistência entre diferentes observadores, impulsionaram a Ferticentro a explorar a IA.
Em 2019, a clínica deu o primeiro passo concreto nessa direção, em parceria com a Universidade de Aveiro, mas a pandemia interrompeu o projeto antes que pudesse ser implementado. Mais tarde, acabou por unir esforços com a AIVF, uma startup israelita que lidera estudos de grande escala na área da IA aplicada à PMA. Essa colaboração resultou no desenvolvimento de uma plataforma promissora, que já mostra potencial significativo, embora ainda em fase de validação pré-clínica.
A EmbryoScope, como explica Vladimiro Silva, é uma ferramenta crucial na aplicação da IA na FIV. A incubadora de alta qualidade captura imagens dos embriões em diferentes planos a cada 15 minutos, criando um vídeo time-lapse que permite aos especialistas monitorizar o desenvolvimento embrionário com detalhes sem precedentes.
A utilização da IA nessas imagens oferece vantagens significativas, como a capacidade de identificar parâmetros invisíveis ao olho humano e analisar grandes volumes de dados em tempo real.
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Em comparação com métodos tradicionais, a IA melhora a precisão na seleção dos embriões com maior potencial de implantação, o que pode reduzir o tempo necessário para alcançar uma gravidez.
“Os algoritmos de IA que usamos parecem ajudar-nos a identificar os embriões com maior potencial de implantação”, afirma Vladimiro Silva, ressaltando que esta tecnologia pode otimizar os recursos dos casais, evitando tentativas de menor probabilidade de sucesso.
Apesar dos avanços, o responsável alerta para a necessidade de cautela, uma vez que a utilização da IA na FIV ainda está nos estágios iniciais e os modelos estão em fase de validação. Considera igualmente a importância de não criar expectativas exageradas, dado que outras tecnologias promissoras já falharam no passado.
Em termos de segurança e privacidade, Vladimiro Silva garante que a Ferticentro “utiliza os melhores sistemas disponíveis e trabalha com especialistas de renome para proteger os dados” gerados pelos modelos de IA. Além disso, assegura que a clínica aborda as questões éticas de forma rigorosa.
“As decisões finais sobre a seleção de embriões são sempre feitas por embriologistas, mantendo a componente humana no centro do processo”, referiu o diretor científico da Ferticentro.
Para o futuro, pretende-se envolver a implementação da IA em toda a rotina clínica, uma meta que a Ferticentro pretende alcançar a curto prazo. Há também "na calha" um projeto inovador recentemente aprovado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), desenvolvido em parceria com as universidades de Aveiro e do Porto, que será publicamente apresentado em breve, antecipou Vladimiro Silva.
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