Foi a primeira vez que se observou a deslocação de uma das estrelas em órbita do buraco negro supermassivo situado no centro da Via Láctea, num fenómeno que vem confirmar o defendido por Albert Einstein na sua Teoria da Relatividade Geral. De acordo com o registado pelo Very Large Telescope do ESO (VLT), a órbita da estrela apresenta a forma de uma roseta e não a de uma elipse como previsto na Teoria da Gravitação de Newton.
A Relatividade Geral de Einstein prevê que as órbitas ligadas de um objeto em torno de outro não são fechadas, como descrito na Gravitação Newtoniana, mas que precessam na direção do plano do movimento. Este efeito - observado pela primeira vez na órbita que o planeta Mercúrio descreve em torno do Sol – ficou conhecido como a primeira evidência a favor da Relatividade Geral.
Um século mais tarde, surge a “dança” protagonizada pela S2 em redor de Sagitário A*, registada pelo VLT, depois de quase 30 anos de observação, para que pudesse ser totalmente revelada a complexidade do seu movimento orbital.
A análise das medições revela que a S2 desloca-se em direção ao buraco negro atingindo uma proximidade de 20 mil milhões de km (o que corresponde a cento e vinte vezes a distância entre o Sol e a Terra), sendo assim uma das estrelas mais próximas encontradas em órbita do gigante massivo.
Na sua máxima aproximação ao buraco negro, a S2 desloca-se pelo espaço a uma velocidade de quase 3% da velocidade da luz, completando uma órbita a cada 16 anos, concluiu a equipa internacional de cientistas liderada pelo Instituto Max Planck de Física Extraterrestre (MPE), na Alemanha, que integra colaboradores da Alemanha, França, Portugal - como Paulo Garcia, investigador no Centro de Astrofísica e Gravitação, no Porto - e do ESO, que constituem o projeto GRAVITY.
De acordo com a análise, publicada na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics.com esta quinta-feira, a maioria das estrelas e planetas têm uma órbita não circular e por isso o seu deslocamento afasta-as e aproxima-as do objeto que orbitam. A órbita da S2 precessa, o que significa que a localização do ponto mais próximo do buraco negro supermassivo muda a cada órbita, de tal modo que a órbita seguinte se encontra rodada relativamente à anterior, fazendo assim com que o seu percurso siga a forma de uma roseta. A Relatividade Geral dá-nos uma previsão precisa de quanto é que a órbita muda e as medições mais recentes correspondem exatamente à teoria. Este efeito, chamado precessão de Schwarzchild, nunca tinha sido medido anteriormente numa estrela em órbita de um buraco negro supermassivo.
O estudo levado a cabo com o auxílio do VLT do ESO também ajuda os cientistas a compreenderem melhor o que se passa na vizinhança do buraco negro supermassivo situado no centro da Galáxia, assim como a formação e evolução dos buracos negros supermassivos.
Com o futuro Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, a equipa acredita poder observar estrelas muito mais ténues em órbitas ainda mais próximas do buraco negro supermassivo. “Com o ELT talvez possamos capturar estrelas suficientemente próximas do buraco negro para sentirem efetivamente a rotação, o spin, deste objeto supermassivo”, indica Andreas Eckart da Universidade de Colónia, Alemanha, outro dos cientistas que lidera o projeto. Se tal acontecer, os astrónomos poderão medir as duas quantidades, spin e massa, que caracterizam Sagitário A* e definir o espaço-tempo que o circunda. “Isto corresponderia, uma vez mais, a testar a Relatividade mas a um nível completamente diferente,” conclui Eckart.
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