No ano em que Inglaterra e Espanha assinaram o Tratado de Londres, pondo termo a uma guerra de 20 anos, no espaço aparecia uma nova estrela que surpreendeu os astrónomos. Estávamos em outubro de 1604, quando o alemão Johannes Kepler a viu pela primeira vez, tendo começado a observá-la a olho nu, no dia 17, e durante um ano, sem chegar a qualquer conclusão relativamente ao que poderia ter provocado quer o aparecimento, quer o desaparecimento da estrela.
Ao longo desse tempo, brilhou até à magnitude -2,5, ofuscou Júpiter e permaneceu visível mesmo durante o dia. Kepler publicou as suas observações em 1606, no livro “On the New Star in Ophiuchus’ Foot”. Os astrónomos inicialmente chamaram ao astro “Supernova de Kepler”, hoje designada como supernova SN1604, do Tipo Ia, resultante da explosão de uma estrela anã branca.
Segundo a NASA, a descoberta deste astro, ajudou a moldar a cosmologia europeia em direção ao modelo heliocêntrico, proposto meio século antes por Nicolau Copérnico. Atualmente, os restos da estrela são observados por telescópios terrestre e espaciais.
Veja na galeria mais informação sobre a supernova SN 1604 e sobre Kepler
A supernova de Kepler, foi observada pela primeira vez pelo astrónomo Lodovico delle Colombo na constelação Ophiuchus, localizada na região do céu conhecida como Zodíaco. Kepler ouviu os rumores e dias depois começou a monitorizar a estrela durante um ano, inspirado pelas anteriores observações de um fenómeno semelhante, pelo astrónomo Tycho Brahe, em 1572.
A nova estrela rapidamente atingiu um brilho de magnitude -2,5, mais do que Júpiter, e, durante três semanas, pôde ser vista durante o dia antes de finalmente desaparecer na obscuridade em março de 1606. As observações de Kepler foram feitas a olho nu. O telescópio só seria inventado por Galileu Galilei, quatro anos depois do desaparecimento da estrela.
Estima-se que a SN 1604 esteja a 20 mil anos-luz de distância, perto da borda de um complexo de nebulosas escuras. Foi a última supernova ocorrida na Via Láctea e a última visível a olho nu até 1987, quando, a 4 de fevereiro, foi observada pela primeira vez a Supernova 1987A, que surgiu na Grande Nuvem de Magalhães, uma pequena galáxia satélite da Via Láctea a aproximadamente 160 mil anos-luz.
Os astrónomos há 420 anos pensavam estar a assistir ao nascimento de uma estrela, hoje sabe-se que as observações representam a morte violenta de uma estrela.
A SN 1604 é uma supernova de categoria Ia, tipicamente encontrada em sistemas solares compostos por duas estrelas, uma anã branca e uma gigante vermelha.
A NASA explica que a força gravitacional da anã branca atrai material da sua companheira maior e menos densa até atingir uma massa crítica, cerca de 1,4 vezes a massa do nosso Sol. Nesse momento, inicia-se uma reação termonuclear em cadeia, provocando a libertação de enormes quantidades de energia, incluindo a luz, que vemos como um súbito brilho de uma estrela que, de outra forma, seria ténue.
As explosões de supernovas deixam vestígios e os da SN 1604 continuam visíveis. Instrumentos em terra e em órbita utilizam diferentes partes do espetro eletromagnético para estudar estes restos e compreender melhor as suas origens. A energia emitida pelos restos da SN 1604 faz predominantemente parte dos rádio e raios-X do espetro eletromagnético.
Nos últimos anos, os astrónomos usam as supernovas de Tipo Ia para determinar a taxa de expansão do Universo. Como todas as supernovas de tipo Ia ocorrem em estrelas com cerca de 1,4 massas solares, emitem aproximadamente a mesma quantidade de luz. O que as torna úteis como indicadores de distância. Com base nesta informação, os astrónomos acreditam que a expansão do Universo acelera, possivelmente causada pela presença de uma substância misteriosa chamada energia escura.
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