O ano que acaba de terminar teve um ritmo diferente do habitual, impondo “abrandamentos” indesejados, senão mesmo pausas, em praticamente todos os aspetos do quotidiano. Ainda assim, as principais agências espaciais mantiveram a maioria das suas missões, tal como as empresas ligadas ao setor da exploração espacial.

Já o Universo continuou a oferecer-nos todo o seu fascínio, com fenómenos nunca antes vistos, alguns novos mundos entretanto revelados e a sensação de que os mistérios remanescentes são infindáveis, o que só aguça, ainda mais, a vontade de os revelar.

2020 foi o ano em que foi recuperado o lançamento de astronautas de solo norte-americano com direção à Estação Espacial Internacional (ISS), a bordo da Crew Dragon, em resultado de uma parceria entre a NASA e a SpaceX.  Depois do primeiro teste entre março e agosto, a chegada dos cinco passageiros - quatro astronautas e um bebé Yoda - aconteceu em meados de novembro.

Entretanto, as miras não deixaram de apontar a outros destinos, com o regresso do Homem à Lua na liderança. Cumpridos vários marcos necessários, entre contratos comerciais e desenvolvimentos de hardware, a Agência Espacial dos Estados Unidos da América tem vindo a avançar nos seus planos de "devolver" astronautas ao satélite natural da terra até 2024 - entre eles, pela primeira vez, uma mulher -, 52 anos depois da última missão Apollo.

Este artigo faz parte do Dossier O melhor e o pior de 2020. E as expectativas para 2021

De acordo com os mais recentes planos da NASA, entre 2021 e 2024, na fase I da missão, serão lançadas três naves Artemis, acompanhadas por cápsulas Orion.

E já se sabe que o regresso dos astronautas à superfície lunar é o impulso para, literalmente, os primeiros passos da humanidade, há muito desejados, no Planeta Vermelho.

Por Marte foi ano de colocar sondas “a render”, com a recolha de dados que contribuíram para descobrir ondas de areia gigantes em movimento, lagos subterrâneos escondidos sob o gelo do pólo sul ou, que tal como a Terra, a crosta do planeta também é feita de camadas, tipo um bolo, numa revelação importante para desvendar como o planeta se formou e evoluiu com o tempo.

2020 foi igualmente um ano de “aniversários redondos”. Que o diga a Estação Espacial Internacional (ISS) que assinalou o seu vigésimo aniversário.

Para comemorar esta data especial, a NASA partilhou um vídeo de homenagem, com testemunhos de alguns dos 240 astronautas que passaram pela especial “morada”, incluindo Luca Parmitano, Alexander Gerst, Thomas Pesquet, Tim Peake, Andreas Mogensen, André Kuipers, Christer Fuglesang, Frank De Winne e Reinhold Ewald.

Quem também esteve de parabéns pelos seus 30 anos de existência foi o “olho” humano Hubble. O aniversário era para ser comemorado pela NASA e pela ESA em diversas iniciativas, mas devido à pandemia da COVID-19 foram adiadas. Mas mesmo sem “festa rija”, a data de "nascimento" do telescópio espacial que mudou por completo a nossa compreensão do cosmos.

Enquanto o seu sucessor e promissor James Web, com lançamento previsto para outubro de 2021, continua a ser preparado, os segredos desvendados pelo “velhinho” Hubble maravilham-nos. Entre os mais recentes está a descoberta de um exoplaneta com comportamento parecido com o procurado Planeta Nove.

Planetas, exoplanetas, super-terras, buracos negros & Cia

O misterioso HD106906 b foi apenas um dos novos mundos e fenómenos revelados pelos vários instrumentos ao serviço da astronomia ao longo deste ano. Instalado no Observatório do Paranal, o ESPRESSO tem ajudado a caracterizar atmosferas exoplanetárias de forma detalhada. Assim comprovam os resultados de três estudos que contaram com a participação de investigadores portugueses.

Ainda a sonda Rosetta, mas com a ajuda do observatório ALMA, foi revelada a linha interestelar de elemento essencial à criação da vida, ou seja, foi traçada a “viagem” do fósforo, presente no nosso DNA e nas membranas das células, das regiões de formação estelar até aos cometas. Daí até à Terra terá sido “um pulinho”.

Soube-se também que, nos céus longínquos há uma intrigante nuvem de gás que terá resultado de duas estrelas terem andado “à bulha”. Apesar da diferença de porte, a luta foi tão renhida que não se percebe onde começa uma e acaba a outra, descobriu o ALMA por si só.

Com o auxílio do Very Large Telescope (VLT), percebeu-se a misteriosa ausência de uma estrela instável massiva numa galáxia anã. Uma das explicações possíveis para o facto é que a estrela se tornou menos brilhante e parcialmente “escondida” por poeira. Em alternativa, a estrela pode ter colapsado num buraco negro sem, no entanto, dar origem a uma supernova, algo que é considerado como muito raro.

Já graças ao mesmo VLT do ESO, em parceria com o ALMA, foi encontrada a primeira evidência direta de que grupos de estrelas podem desfazer os seus discos de formação planetária, deixando-os distorcidos e com anéis inclinados, dando origem a planetas exóticos, talvez parecidos a Tatooine, de Star Wars.

E parece que cada exoplaneta, sua sentença: no WASP-76b chove ferro ao final da tarde, enquanto no LHS 1140 b terá um grande um grande oceano de água líquida e há até quem não tenha estrela e ande a vaguear pela Via Láctea, sem esquecer as “Super Terra” como o KOI-456.04, o quarto exoplaneta descoberto a orbitar a estrela Kapler-160, localizado a três mil anos-luz, ou o Kepler-62f, descrito como uma “Super Terra” rara, localizado na constelação Lyra, a cerca de 1.200 anos-luz da Terra.

Sobre os planetas oficiais também houve novidades. Nas nuvens de Vénus foi detetada uma molécula, que na Terra só pode ser feita industrialmente ou através de micróbios que se desenvolvem em ambientes sem oxigénio. Já na atmosfera de Titã, a maior lua de Saturno, haverá uma molécula rara.  A descoberta ajudará a NASA a preparar a missão Dragonfly que está prevista para 2027.

Imagens reais à vista desarmada

Já telescópios e outros instrumentos de observação e análise à parte, 2020 também foi marcado pela possibilidade de assistir a alguns fenómenos astronómicos “reais” à vista desarmada. Neste conjunto não faltaram as populares “chuvas de estrelas” a enfeitarem os céus noturnos,  entre Aquáridas e Perseidas, Dracónidas e Oriónidas ou Leónidas.

Igualmente bonitas de ver, estão sempre as luas cheias, e o seu registo em diferentes do mundo. E para encerrar um ano menos fácil, uma “recompensa” conhecida como Estrela de Natal, resultante da aproximação entre Júpiter e Saturno. O alinhamento entre os dois planetas, que dá a ilusão de aproximação, acontece a cada 20 anos, mas apenas a cada 400 anos ficam a uma “distância” muito curta entre si. E foi o que aconteceu em 2020.

Este artigo faz parte do Dossier O melhor e o pior de 2020. E as expectativas para 2021