Recorrendo a dados obtidos pelo espectrógrafo ESPRESSO, uma equipa internacional, que inclui vários investigadores do IA - Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, conseguiu estudar e caracterizar com grande detalhe as atmosferas de três exoplanetas conhecidos. Os resultados fazem parte de uma série de três artigos, aceites para publicação na revista Astronomy & Astrophysics.
Instalado no Observatório do Paranal do ESO, o ESPRESSO alia a sua estabilidade única ao incrível poder coletor do Very Large Telescope (VLT), o que torna possível o estudo de atmosferas de exoplanetas com grande resolução espectral. “Os resultados mostram que é possível, a partir do solo, usar o ESPRESSO para fazer medições semelhantes às que se conseguem com o telescópio espacial Hubble”, aponta Nuno Cardoso Santos, do Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
Nuno Cardoso Santos participou nos três artigos, sendo ainda primeiro autor de um deles, em que a equipa estudou a atmosfera do exoplaneta HD209458b, detetando a presença de óxido de titânio e sódio. “No entanto, os resultados mostram que existe algo que ainda não foi possível identificar. Serão precisas mais observações, ou modelos de atmosferas mais precisos, para podermos concluir”, acrescenta.
A técnica irá agora ser aplicada a outros exoplanetas, a maioria pertencente ao GTO (Guaranteed Time Observations) do consórcio do ESPRESSO, com o objetivo de alargar o conhecimento atual sobre atmosferas de exoplanetas, sobre os mecanismos que estão presentes sobre a sua composição.
Noutro desses artigos, a equipa estudou o espectro de transmissão do júpiter ultra-quente WASP-121b, detetando na sua atmosfera elementos como sódio, hidrogénio, magnésio, cálcio, potássio e vestígios de lítio. A presença deste último elemento pode ajudar a entender melhor a história de formação de planetas.
“O ESPRESSO pode até ter sido desenhado com a ideia de detetar planetas poucos massivos na busca de uma Terra 2.0, mas estes resultados vêm provar que é muito mais do que um simples detetor de planetas e permite também a caracterização das atmosferas de exoplanetas em trânsito”, sublinha o investigador do IA e da Universidade do Porto Sérgio Sousa, coautor dos três artigos.
No último destes artigos, a equipa usou o ESPRESSO para estudar o exoplaneta WASP-127b e aplicar uma nova técnica, que permite distinguir se um planeta tem ou não nuvens, através da deteção de vapor de água.
“Estes artigos são um bom exemplo da abundância de informação que o ESPRESSO pode fornecer sobre as atmosferas dos exoplanetas, como a presença de água, mas também de outros átomos e moléculas que raramente vemos na atmosfera da Terra, tais como absorvedor de calor como o óxido de Titânio”, refere Olivier Demangeon, investigador do IA e da UPorto.
Alexandre Cabral, responsável pela componente de instrumentação do ESPRESSO, considera por sua vez, que estes resultados refletem não só a excelência da ciência como também o impacto da participação portuguesa, durante quase uma década, no desenho e construção do ESPRESSO. “Estes resultados são agora uma das bases de trabalho para o desenvolvimento dos novos instrumentos, como o HIRES que será instalado no grande telescópio ELT de 40 m”, acrescenta o investigador do IA e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
A participação do IA no ESPRESSO faz parte de uma estratégia mais abrangente para promover a investigação em exoplanetas em Portugal, através da construção, desenvolvimento e definição científica de vários instrumentos e missões espaciais, como a missão CHEOPS, já em órbita. Esta estratégia irá continuar durante os próximos anos, com o lançamento do telescópio espacial PLATO, a recém aprovada missão Ariel e a instalação do espectrógrafo HIRES no maior telescópio da próxima geração, o ELT.
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