Os bootcamps e cursos tecnológicos têm vindo a afirmar-se como uma opção a considerar para quem procura novas oportunidades: seja por uma situação de desemprego, de insatisfação com o seu atual trabalho ou por sentirem que precisam de evoluir a nível profissional.
A oferta é aliciante: num prazo de alguns meses ganham as ferramentas necessárias para mudarem de vida com a promessa de encontrarem emprego num setor onde as perspetivas de progressão são grandes e onde há uma forte procura por parte de empresas, entre startups, gigantes tecnológicas e empresas que não querem perder terreno na corrida rumo a um futuro digital.
De acordo com novos dados do Eurostat, o número de pessoas a trabalhar como especialistas em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na União Europeia quase alcançou a marca dos nove milhões em 2021, correspondendo a 4,5% da mão de obra na UE.
Embora ainda esteja longe do “pódio”, onde se destacam Suécia (8%), Finlândia (7,4%) e Luxemburgo (6,7%), Portugal está um pouco acima da média europeia, com 4,7% de especialistas em TIC.
Entre 2012 e 2021 o número de especialistas em TIC na UE registou um crescimento de 50,5%. Apesar da evolução, as empresas da continuam a ter dificuldade em preencher as vagas para esta área. Ainda no ano passado, um estudo conduzido pela RAND Europe para a Salesforce, revelou que 64% das grandes empresas e 56% das PMEs europeias têm dificuldade em recrutar para vagas de emprego ligadas a este setor.
Tendo em conta este contexto, como evolui o panorama de cursos e formações tecnológicas em Portugal, entre procura e oferta de cursos, e que é que as escolas e iniciativas estão a fazer para que mais pessoas possam aproveitar novas oportunidades de mudança de carreira e colmatar a escassez de mão-de-obra no setor da tecnologia?
Uma procura crescente por mudança
A procura por cursos em escolas de formação tecnológica está a crescer, algo que se reflete, por exemplo, no número de pessoas a recorrer a programas de apoio, como as bolsas reembolsáveis da Fundação José Neves, que querem “democratizar o acesso à educação e preparar os portugueses para os empregos do futuro, retirando o peso do custo da propina na hora de decidir estudar”, realça Carlos Oliveira, Presidente Executivo da Fundação José Neves.
O responsável avança que as bolsas, baseadas no modelo de acordo de partilha de rendimentos (Income Share Agreement), “têm tido uma procura crescente, tendo atualmente mais de 250 alunos, dos quais 76 já terminaram a sua formação”.
“Atualmente cerca de 40% dos ISA [Income Share Agreement] são de bootcamps tecnológicos. O facto de serem cursos de curta duração e de terem diversas edições por ano leva a que exista um elevado número de candidaturas, para uma área onde há uma enorme procura por parte do mercado”, afirma Carlos Oliveira.
Com a pandemia de COVID-19 a acelerar o contexto de transformação digital, forçando as empresas a repensar a forma como operam, também as escolas tecnologias tiveram de fazer mudanças às suas abordagens para apoiar pessoas que trabalhavam em áreas que foram fortemente afetadas pela crise de saúde pública, como hotelaria, aviação ou até retalho, a mudarem o rumo das suas carreiras para novas áreas.
“Em 2020, chegou a pandemia e tivemos de mudar a nossa estratégia, apoiando a mudança de carreira daqueles que ficaram sem emprego”, detalha Catarina Costa, responsável pelo campus de Lisboa da Ironhack Portugal.
Durante o primeiro ano da pandemia a escola tecnológica, que chegou a Portugal em 2019, registou um crescimento de 50%, que, de acordo com a responsável, se deve em grande parte ao “facto de muitas pessoas terem perdido os seus empregos e por esta paragem obrigatória se ter transformado numa oportunidade de reatar ou concretizar algo que já estaria há muito na sua bucket list”.
Catarina Costa afirma que a procura e o número de matrículas têm aumentado, acompanhando o crescimento da escola tecnológica. “Em 2021, continuámos a crescer e agora em 2022 já ultrapassámos 50% do objetivo que temos estabelecido para este ano”, realça.
A Assembly também regista um aumento na procura por parte de pessoas que se querem adaptar às mudanças trazidas pela transformação digital no mercado de trabalho e João Rodrigues, diretor da escola tecnológica, conta que, desde 2019, a escola tecnológica já ajudou centenas de alunos a transitarem “para este novo mundo” tecnológico. “Em cada ano que passa mais que duplicamos o número de pessoas que conseguimos impactar nesta mudança”.
Já na área dos cursos tecnológicos de duração mais prolongada, a 42 Lisboa, com o seu programa de aprendizagem de programação que demora, em média três anos e meio a concluir, revela que, desde que abriu portas em 2020, recebeu mais de 20.000 candidaturas, contando já com 400 alunos.
Em outubro deste ano a escola espera receber mais 200 novos alunos. “De forma a abrir as portas da 42 a mais candidatos, em julho iremos abrir a 42 Porto, escola para a qual estamos já a receber candidaturas”, avança fonte oficial da escola tecnológica.
Preparar o "salto" para o mercado de trabalho
No caso da Ironhack, Catarina Costa afirma que, em média, “os alunos conseguem fazer a mudança de carreira até 3 meses depois da graduação”. “Segundo dados de 2020, a nossa placement rate é ainda de 98% no curso de Web Development, 97% no de Data Analytics e no de UX/UI”. Os valores estão em linha com dados de outras escolas especializadas em bootcamps tecnológicos, como a Le Wagon, onde 97% dos formandos que passaram pela escola encontraram um novo trabalho.
No que toca à Assembly, João Rodrigues indica que “devido à escassez de profissionais desta área de conhecimento”, os alunos “conseguem entrar no mercado de trabalho das tecnologias de informação ainda antes de completarem a formação que demora um ano”.
Uma situação semelhante se passa com a 42 Lisboa, onde, apesar da duração mais longa do curso, há dezenas de alunos que, em menos de um ano receberam propostas de trabalho na área, procurando conciliar o trabalho com o curso.
O “salto” para o mercado de trabalho nem sempre é uma tarefa fácil, sobretudo quando se vem de um background completamente diferente da área da tecnologia. No entanto, as escolas têm em curso iniciativas para apoiar os alunos que terminam os cursos e tornar a transição um pouco mais fácil.
Do lado dos bootcamps, tanto a Le Wagon como a Ironhack contam uma semana no final dos cursos onde os alunos são guiados pelo processo de adaptação dos seus currículos e perfis no LinkedIn, assim como na preparação para futuras entrevistas de trabalho.
Aprender a estabelecer contactos lhes podem abrir a porta a uma nova carreira na área em que se formaram é também uma prioridade e, através de iniciativas como feiras de emprego, as escolas ligam candidatos a empresas tecnológicas com quem têm parcerias.
A Assembly também está a apostar neste tipo de iniciativas que ambicionam “fazer a ligação entre a formação e o emprego”, como afirma João Rodrigues. Neste contexto, os eventos “WTF is Work?” afirmam-se como sessões de mentoria onde os alunos têm a oportunidade de planearem a sua carreira em conjunto com “padrinhos e madrinhas” das áreas em que se especializaram.
“Não formamos apenas as pessoas, também damos apoio em todo o processo de carreira, através de um trabalho de coaching sobre como conquistar o seu primeiro trabalho numa área completamente nova”, afirma Catarina Costa. “O conhecimento é levado para toda a vida, sendo que temos alunos a mudar para um segundo ou terceiro emprego e a aplicar ainda as mecânicas que lhes passamos durante o bootcamp”
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