Há muito a dizer sobre a Nothing, e isto não é um trocadilho. A empresa lançada por Carl Pei depois de ter abandonado a OnePlus tem recebido muita atenção mediática antes mesmo de colocar no mercado os primeiros produtos. Depois dos auriculares ear (1), que já venderam mais de 500 mil unidades, apresenta agora o primeiro smartphone, o Phone (1) que assume ser a peça central de uma estratégia para simplificar e tornar mais divertida a tecnologia. Mas será que tem capacidade para se afirmar num mercado tão concorrencial?

O SAPO TEK já tinha entrevistado um dos fundadores da empresa, David  Sanmartín, responsável para a Europa do Sul e Este da Nothing que trabalha o mercado português e que mostrou os primeiros detalhes do smartphone antes mesmo do lançamento oficial, no dia 12, admitindo uma inspiração retro do Phone (1) mas também inovadora e futurista.

A aposta no minimalismo é um dos factores que a marca assume como distintivos, com as transparências e a utilização de um interface de Android simplificado, e isso é provavelmente um dos grandes trunfos que a Nothing pode usar para se afirmar num mercado dominado pela Samsung e a Apple e onde outras marcas com mais tempo de exposição mantêm quotas de vendas reduzidas.

O que move a Nothing que quer ser mais do que uma tecnológica normal? O Phone (1) é apenas um primeiro passo
O que move a Nothing que quer ser mais do que uma tecnológica normal? O Phone (1) é apenas um primeiro passo
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A verdade é que o Phone (1) não deixa ninguém indiferente e a atenção que está a receber nos media e nas redes sociais prova isso mesmo. Este é provavelmente um dos smartphones mais esperados dos últimos meses, gerando um volume significativo de rumores e mais de 200 mil pessoas pré reservaram o equipamento ainda antes do anúncio oficial, e antes de serem conhecidas as especificações.

Hoje o smartphone da Nothing chega às lojas de vários países na Europa, incluindo Portugal, ao Japão e Índia, mas não aos Estados Unidos, e vai ser interessante perceber como os consumidores reagem a este equipamento que se distingue claramente da maioria das propostas à venda nas lojas e que tem um preço acessível e equilibrado.

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Minimalismo no design e embalagem

O design traseiro transparente, a simetria, o formato quase quadrado com cantos arredondados e a opção por alumínio nas molduras já tornam o Phone (1) rapidamente identificável e o aspecto minimalista está até a ser copiado pela Dbrand, que o “clonou” com capas que imitam o design.  O smartphone está disponível em duas cores, preto e branco, ambas distintivas, embora o branco acabe por ter mais impacto pela notoriedade dos elementos enquanto na versão em preto o brilho dos leds se destaque mais.

O minimalismo começa logo na embalagem de cartão, com um sistema de abertura que é semelhante ao adotado para o ear (1) e todo o pacote é fino, leve e bonito. Por dentro encontra o smartphone, as instruções e um cabo de carregamento e partilha de dados, com a Nothing a aderir à tendência de não incluir carregador nem auriculares no pacote, fomentando a compra separada das peças com um design semelhante, assim como a capa transparente para quem quiser maior proteção.

A opção pela sustentabilidade faz parte dos pilares da estratégia da Nothing e por isso a opção de materiais bio ou reciclados, no smartphone e nas embalagens, procurando reduzir o impacto ambiental

O SAPO TEK fez o unboxing quando recebeu os smartphones para teste, em branco e preto, e partilhou o vídeo

É inegável que há muito ADN do iPhone no Phone (1), com a moldura em alumínio reciclado, o botão de ligar e desligar na lateral direita e os de volume à esquerda, com um aspecto e sensação premium ao toque, sem elementos de plástico, sendo a traseira e a frente cobertas por vidro Gorilla Glass 5. De frente parece um smartphone normal, com um ecrã OLED de 6,55 polegadas e qualidade HDR10+ com cores ricas e bons contrastes, que se destacam nas imagens e vídeos.

Apesar das transparências, nenhum dos elementos técnicos está verdadeiramente à vista, sendo cobertos por placas individualizadas, algumas lisas e outras com textura. O único visível é o espaço de carregamento wireless, o bloco redondo com mais destaque e que também funciona para carregar outros dispositivos, por carregamento inverso.

Nothing Phone (1)

Os espaços livres entre os elementos foram aproveitados de forma inteligente para a colocação de mais de 900 leds que são acionados para brilhar em momentos específicos, com o interface Glyph e que são o principal destaque.

Brilho sincronizado com o interface Glyph e NothingOS

A versão adaptada do Android, o NothingOS, quer também manter o minimalismo, com menos aplicações pré carregadas, um interface simplificado e ícones, papéis de parede e carateres “ponto a ponto” que seguem a linguagem de design da empresa.

A lógica está bem implementada e a utilização do sistema operativo do telemóvel é fluida e “sem espinhas”, mas não é assim tão diferente daquilo a que estamos habituados noutras marcas com “skins” próprias mas o objetivo é abrir a API para interfaces com outras empresas. A possibilidade de abrir um carro Tesla ou ligar as luzes, acessível diretamente do menu do Phone (1) é um dos exemplos desta integração mas é natural que no futuro surjam outros.

A Nothing garante que vai continuar a trabalhar no sistema operativo e já hoje foi feita uma nova atualização. É ainda assegurada a atualização de segurança durante 3 anos, algo que vários fabricantes já assumem como norma.

Os toques e notificações foram também trabalhados para esta lógica mínima e algo retro, com 10 toques especiais ligados ao interface que “brilha” e sons lo-fi que trazem à memória as consolas e modems de antigamente.

Na traseira, os leds integrados no Phone (1) funcionam em sintonia no interface Glyph para reagir a notificações e chamadas, podendo ser personalizados para a forma como pisca e para os sons emitidos. Demora um pouco a habituar-se mas ao fim de alguns dias já é possível reconhecer mais facilmente os padrões, que se tornam úteis.

Para além desta iluminação de notificações e chamadas, a interface também se ilumina quando pousa o smartphone sobre a mesa, ou quando está a utilizar o carregamento inverso.

Nothing Phone (1)

Há uma luz especial para o carregamento da bateria que mostra o nível de carga, e outra, vermelha, para quando está a gravar vídeo, mais um sinal retro de “velhas” câmaras de vídeo.

O “Glifo de luz” também serve para iluminar fotografias à noite, ajudando a difundir mais a iluminação e sendo menos intrusivo do que o flash.

Todo o brilho do Glyph pode ser demasiado intrusivo, mas a Nothing também pensou nisso e tem uma função para desligar os leds durante as horas de descanso e também para reduzir o nível de brilho, que pode ser muito intenso.

Hardware de gama média com justificação anexada

Desde o início que a Nothing deixou bem claro que não vai entrar em guerras de especificações e as opções de hardware foram feitas para conseguir um smartphone equilibrado, com funcionalidades que façam sentido, e com um preço acessível.

A integração do Snapdragon 778G+ da Qualcomm foi um dos elementos mais criticados, mas o chip foi costumizado para a empresa, com a inclusão do carregamento sem fios e do carregamento inverso que não é standard do resto dos smartphones que usam o mesmo chipset. Isto resulta de uma parceria da Nothing com a Qualcomm, que é um parceiro também para o desenvolvimento de novas iniciativas de produtos ligados ao ecossistema que a empresa quer desenvolver.

Mesmo assim, outros elementos do smartphone não são assim tão medianos, como o ecrã OLED com 1200 nits e taxa de refrescamento de 120 Hz, ou o carregamento rápido e carregamento inverso. A isto soma-se também o sensor de impressão digital por baixo do ecrã, que funciona bem e é rápido.

Nothing Phone (1)

Nos últimos dias algumas notícias falavam de ecrãs com problemas de pixels mortos, mas os dois modelos que recebemos para teste não têm nenhum dano visível.

Uma nota negativa para a resistência a salpicos e a poeira. O Phone (1) tem apenas certificação IP53, o que é melhor do que nada e está acima do apresentado em vários equipamentos de gama média.

Os testes que fizemos com a bateria foram também em linha com outros smartphones da mesma gama e apesar de dividirmos a atenção entre os dois equipamentos, branco e preto, só um com cartão móvel, a bateria chegou sempre para um dia inteiro.

O Phone (1) tem uma bateria de 4.500 mAh e suporta carregamento rápido a 33 W, recuperando rapidamente um nível aceitável de carga se ligado a um carregador, mas para quem já aderiu aos carregadores sem fios o suporte de 15W faz com que seja mais simples deixá-lo em cima de uma superfície de carregamento, mesmo que demore mais tempo o processo de carga.

De notar que o carregador não está incluído na caixa mas a Nothing tem carregadores de 33W à venda por cerca de 30 euros.

E como se sai o Phone (1) nas fotografias?

Esta é uma pergunta que nos tem sido feita desde que começámos a testar o smartphone da Nothing. Confesso que inicialmente não tinha muitas expectativas. Nas últimas semanas tivemos o Samsung S22 Ultra e o Vivo X80 Pro, que têm sido apontados como dois dos bons exemplos para quem quer tirar mais partido das imagens e vídeos, e estamos também habituados aos Mate da Huawei que têm uma qualidade acima do normal nesta área.

Só com duas câmaras traseiras, a Nothing compensa a falta de uma telefoto com software e com a utilização do sensor IMX766 da Sony com uma lente f/1.9 para conseguir resultados acima do esperado, com a ajuda do estabilizador ótico de imagem.

As fotografias que captámos em ambientes de boa iluminação são detalhadas e as cores estão um pouco saturadas, mas são vibrantes, em especial as que fizemos no mercado. O modo de retrato também traz bons resultados e mas com o zoom ótico é dificil conseguir bons detalhes, sobretudo dos que podem ser conseguidos com uma boa macro.

Veja as imagens

Não tivemos ainda tempo de explorar o vídeo mas pode contar com suporte a 4K e 30p com HDR, mas sentimos falta de mais modos de captura na câmara e as habituais aplicações de edição de fotos e vídeos, que não estão pré-carregadas por opções minimalistas.

Muito mais do que "nada"

Se somarmos toda a experiência com o Phone (1) e as muitas expectativas que existiam para o primeiro smartphone da Nothing podemos dizer que não ficámos desiludidos. O equipamento marca a diferença num mundo onde poucas marcas arriscam a apresentar telemóveis que não seguem a norma ou então abusam de elementos chamativos e cores. É discreto e elegante, o interface de luz anima as notificações e a utilização do telemóvel é fluida e sem problemas, para além de ter uma bateria decente que carrega rapidamente e uma câmara que acabou por surpreender pela positiva.

Em toda a apreciação pesa ainda o preço, que é um elemento positivo para quem tem de fazer contas. O modelo mais barato do Phone (1) custa 499 euros e traz 8 GB de RAM e 128 GB de armazenamento, mas só está disponível em branco. A versão que testámos tem 256 GB de RAM e 8 GB de memória e custa 529 euros, um upgrade que recomendamos e que justifica totalmente a diferença de preço. Está ainda prevista uma versão com 12 GB de RAM e 256 GB de armazenamento mas que só deve chegar no final do verão.

O Nothing Phone (1) está a partir de hoje à venda na loja online da marca, na PCDiga, nas lojas e online e na Fnac, também na plataforma online e na loja. Para já a parceria que tinha sido anunciada com a Worten ainda não avançou.

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