O grande protagonista dos anúncios da Nothing é Carl Pei, que tornou a OnePlus um caso de estudo, mas com o empreendedor estão investidores, engenheiros e designers que têm uma importância relevante na estratégia da empresa, alguns dos quais já tinham trabalhado com o empreendedor na marca que começou pequena e rapidamente ascendeu a um estatuto de quase ícone no mercado dos smartphones. David Sanmartín é um dos fundadores da Nothing e em entrevista ao SAPO TEK explica a estratégia e a visão da empresa que nasce no Reino Unido e que se prepara para lançar o primeiro smartphone, o Phone (1) e que pretende tornar a tecnologia divertida outra vez, inspirar criatividade e construir uma comunidade.
Baseada em Londres, a Nothing tem trabalhado no desenvolvimento da marca, procurando replicar o sucesso da OnePlus, mesmo que isso não esteja nos slogans da marca. A adesão da comunidade às várias iniciativas que têm sido lançadas, e o apoio dos investidores, mesmo antes de ser mostrado qualquer produto, é um sinal de que existe apetência, mas vai ser necessário mais do que esse interesse para concretizar os objetivos da empresa.
O SAPO TEK já conversou por duas vezes com David Sanmartín, responsável para a Europa do Sul e Este da Nothing, e o entusiasmo e expectativa são os mesmos, apesar da proximidade do lançamento do smartphone e da carga de trabalho que isso acarreta. E também da responsabilidade em cumprir os desígnios da marca.
“Cruzei-me com Carl Pei ainda antes da OnePlus e depois juntei-me a ele na empresa”, explica David Sanmartín defendendo que nos últimos anos a indústria parou de inovar. “Desde que o iPhone saiu que parece que tudo se mantém […] os smartphones são todos semelhantes”, explica, lembrando que “antes havia muito mais inovação e a sensação de que a tecnologia podia ajudar a humanidade”.
“A tecnologia tornou-se chata, não merece a nossa confiança e queremos trazer uma alternativa que seja confiável e divertida”, defendeu o empreendedor.
Mais longe dos holofotes, David Sanmartín está envolvido também na definição das características dos novos produtos, nas escolhas de software e de hardware, e foi um dos responsáveis pela escolha do nome, Nothing, que denota um minimalismo que a empresa quer assumir. “Tivemos uma reunião para definir a marca e os fundadores estavam divididos, havia muitas possibilidades em discussão”, explica, adiantando que sugeriu a palavra Nothing que se enquadra com a ideia da transparência e a linguagem de design que foi escolhida para os produtos.
No rol de investidores iniciais está a Google Ventures, Steve Huffman do Reddit, Paddy Cosgrave do Web Summit, Kevin Lin do Twitch, Liam Casey do PCH e o Youtuber Casei Neistat, mas a equipa que desenha e pensa os produtos é mais vasta e conta com a Teenage Engineering e engenheiros experientes da área de mobile, mas também com o envolvimento da comunidade.
Depois da criação da empresa em outubro de 2020, o primeiro investimento, de 7 milhões, veio de um núcleo duro inicial, onde se inclui Tony Fadell, Kevin Lin e Casei Neistat, com a Google Ventures a entrar mais tarde para investir 15 milhões na primeira ronda da série A. Já em 2021 a empresa abriu o investimento à comunidade em crowdfunding e em apenas 54 segundos conseguiu ultrapassar 1 milhão de dólares, tornando-se o mais rápido do género. Mais de 25 mil pessoas registaram-se e a empresa reuniu mais de 35 milhões de dólares para apoiar a sua estratégia.
“As pessoas que têm contribuído nas rondas que abrimos à comunidade não têm apenas interesse sentimental, mas também podem crescer com a empresa […] No primeiro investimento nem sabiam onde estavam a investir mas mesmo assim avançaram”, adianta David Sanmartín.
O co-fundador da Nothing que é resposável pela I&D e por novas linhas de produtos explica que o objetivo é que a comunidade também tenha uma posição na administração da empresa para ajudar a definir a estratégia. Este ano já abriu outra ronda de investimento para a comunidade mas os resultados finais ainda não foram divulgados.
Pelo meio a empresa recebeu um reforço de 70 milhões com uma ronda da Série B liderada pela EQT Ventures e a C Ventures, com participação da Google Ventures, a Future Shape de Tony Fadell, a Gaorong Capital e a Animoca Brands, somando um total de 144 milhões de financiamento que vai ser usado para criar novas categorias de produtos com a Qualcomm Technologies e a plataforma Snapdragon, desenvolver as operações e o novo Hub de dessign de Londres que é liderado por Adam Bates, que veio da Dyson.
Smartphone no centro de uma visão mais próxima do utilizador
Só em julho de 2021 a Nothing lançou o seu primeiro produto, os auriculares ear (1) que foram primeiro comercializados na StockX numa edição limitada cujo preço chegou a ultrapassar os 1000 dólares, apesar do preço de mercado estar abaixo dos 100 dólares. A Nothing defende que estes auriculares true wireless são neutros em pegada de carbono e que já vendeu mais de 560 mil unidades, apesar de estar ainda a avançar gradualmente na disponibilização global.
O Phone (1) que a empresa vai anunciar amanhã, é agora o centro das atenções e a Nothing tem partilhado pequenos detalhes, especialmente do design, que mantêm os utilizadores na expectativa. Durante a primeira conversa com o SAPO TEK, ainda em abril, David Sanmartín não se quis focar nos detalhes das especificações nem avançar muitos pormenores, e defendeu também que este não é um elemento central da estratégia.
“As fabricantes estão muito focadas nas especificações e em aumentar os megapixels ou bateria sem olhar para o que verdadeiramente interessa”, sublinha, “queremos afastar-nos das guerras de especificações. O que adicionarmos será sempre a pensar na experiência do utilizador”, defende David Sanmartín.
A componente de software, o Nothing OS, que já pode ser experimentado com um launcher que se descarrega da Google Play, assim como a criação de um ecossistema “inteligente” e um mundo sem barreiras fazem parte do foco da Nothing que diz que está a trabalhar num conceito mais simples e amigável, que seja interoperável. “O smartphone está no centro da nossa estratégia para o ecossistema. Queremos criar um ecossistema aberto que possa beneficiar todos, gerido a partir de uma conta central”, justifica.
A sustentabilidade, a confiança os conceitos da Web3 fazem também parte das afirmações da marca, que vê oportunidades na tecnologia de blockchain para criar novas experiências, mas o design é naturalmente a parte mais visível.
Os anúncios dos últimos meses têm revelado gradualmente a opção pelas transparências, com um mecanismo que recorre a mais de 400 componentes e se inspira no design do mapa de Nova Iorque de Massimo Vignello, com a utilização de materiais premium e alumínio reciclado, assim como 50% dos plásticos incorporados.
Veja as imagens do design que já foi revelado
O interface Glyph foi divulgado pela própria empresa, com a sincronização de luzes em padrões únicos e sons personalizados para diferentes pessoas, notificações e o modo de carregamento, um sistema que pode ser desligado automaticamente a uma hora definida.
Na semana passada foi a vez das câmaras terem mais atenção, detalhando a utilização de apenas duas câmaras mas sublinhando que são “soberbas e não quatro medíocres”. O sensor é um Sony IMX766 de 50 MP e o Phone (1) tem estabilização OIS e EIS dupla.
Algumas das imagens captadas com o telefone foram divulgadas no site da empresa. Clique nas imagens para mais detalhes
Amanhã vamos ficar a conhecer mais do novo smartphone que quer quebrar barreiras, diferenciar-se pelo design e pelo software e tornar a tecnologia divertida e confiável. David Sanmartín admite que os objetivos são ambiciosos mas está confiante de que os consumidores vão reagir positivamente, até pelo apoio que estão a ter da comunidade e de grandes players no mercado de telecomunicações.
O SAPO TEK vai acompanhar o lançamento amanhã e pode ficar a saber todas as novidades do Nothing Phone (1) que vai estar à venda em Londres a partir de dia 16 e que também vai ser vendido em Portugal através da PC Diga e da FNAC, online e nas lojas.
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