Cada vez que testamos um novo smartphone, especialmente um topo de gama, esperamos ser surpreendidos pela maior capacidade de processamento, uma câmara melhor, uma bateria mais durável ou alguma nova funcionalidade que faça a diferença e justifique o investimento. Nem sempre isso acontece, mas com o Huawei Mate 30 Pro há muito a descobrir, e também, ao contrário do que se pensaria quando o smartphone foi lançado, há muita continuidade e uma sensação de conforto em relação ao que estamos habituados no Android e no iOS.
Como é que isso é possível? Essa foi uma das questões a que tentámos responder desde que começámos a usar o Huawei Mate 30 Pro, e na verdade até é fácil de explicar.
Mas comecemos pelo princípio. O Huawei Mate 30 Pro carrega o “fardo” de ser o primeiro smartphone da marca chinesa a ser lançado depois do embargo dos Estados Unidos à empresa, o que impede a Huawei de usar os serviços da Google, mas não o Android, que vem pré-instalado no equipamento na versão base, open source, e é “afinado” com o EMUI 10, o interface desenhado pela Huawei. Mas então o que falta? Muita coisa, a começar pelas aplicações da Google e os serviços que garantem a sua interligação e a “fluidez” de comunicação a que os utilizadores de Android já estão habituados.
A verdade é que quase nada se perde irreparavelmente. Mesmo sem acesso à loja Google Play as aplicações já instaladas no smartphone antigo podem ser importadas logo de início usando a clonagem do Phone Clone, e há vários “truques” para ir buscar as que falham. A loja da Huawei, a App Galary, está a ser reforçada com o investimento que a empresa está a fazer no Huawei Mobile Services, e em dezembro já mais de 50 das principais apps portuguesas estavam na loja da empresa chinesa, incluindo as apps do SAPO.
Se perguntarem se isto define o Mate 30 Pro a resposta é sim. Só que não é de forma clara um ponto totalmente negativo, podendo representar uma oportunidade de mudança num mercado cada vez mais dividido no duopólio Android/iOS, até porque há muito mais a dizer sobre o Mate 30 Pro do que falar sobre o software e as aplicações.
Um smartphone à prova dos gostos mais exigentes
Como seria de esperar, o Huawei Mate 30 Pro é uma “máquina” a sério. A Huawei tem evoluído muito no design dos seus smartphones e nos últimos anos tem usado a série Mate para conjugar o que tem de melhor a nível de processador com o Kirin, na fotografia com a parceria da Leica, e na componente de comunicações, onde a sua ligação a redes móveis e ao Wi-Fi é reconhecida como uma das mais rápidas (se não mesmo a mais rápida) do mercado.
Todas estas partes estão somadas no Huawei Mate 30 Pro, que traz um SOC Kirin 990, com um processador octacore, uma memória RAM de 8 GB e 256 GB de armazenamento que podem ser duplicados com um cartão NM SD Card usado no mesmo slot do cartão SIM. Isto é o que está por dentro, e que dá capacidade a todas as tarefas feitas com o smartphone, mas o que salta imediatamente à vista é o design do telemóvel, com apenas um botão de ligar e desligar (curiosamente aquele que a Samsung optou por não incluir no seu Galaxy Note 10).
O ecrã OLED de 6,53 polegadas Horizon Display tem os cantos arredondados com menos moldura do que o Huawei P30, que dão uma sensação mais imersiva embora não funcione sempre muito bem, com algumas aplicações a não adaptarem o formato e o conteúdo a “escorregar” pelo ecrã, o que também acontecia em smartphones de ecrã curvo da concorrência. A resolução é FHD+ com 2400x1176 com 16,7 milhões de cores , ligeiramente superior ao modelo P30 Pro, mas abaixo do Mate 20 pro que tinha uma resolução de 3.120x1.440.
O notch é mais fino (podendo a moldura ser reposta na totalidade no interface) e um ângulo e visão de 88 graus no ecrã fazem com que consigam ver as imagens quase de margem a margem.
E tem a vantagem de ter a certificação IP68, resistente a salpicos e poeiras, o que é sempre um descanso para quem tem de colocar o smartphone à prova em situações mais “arrojadas”, ou simplesmente esperar que sobreviva depois de um grande aguaceiro.
Apesar de ser ligeiramente maior do que o P30 e o Mate 20, o Mate 30 Pro é equilibrado e o sistema de quatro câmaras central, redondo, dá-lhe um bom balanceamento para uso enquanto está pousado numa mesa, o que é muito comum para quem está a trabalhar. O desequilíbrio causado pela arrumação de câmaras à direita da traseira dos smartphones é uma das situações que mais me incomodam neste uso sem capa em cima da mesa, porque cada vez que se toca no smartphone há um “balanço” desagradável.
O design curvo e o revestimento em vidro fazem com que o Mate 30 pro dê uma sensação de ser escorregadio. E é mesmo. É preciso agarrá-lo bem e em algumas situações foi necessário usar as duas mãos por temermos que caísse, sobretudo a tirar fotografias só com uma mão. É demasiado bonito para estar escondido, mas este é sem dúvida um smartphone que precisa de uma capa.
Menos botões, mais gestos
A Huawei arriscou a tirar quase todos os botões físicos do Mate 30 Pro, mantendo apenas o de power que serve para ligar e desligar, ou acordar o smartphone. Tudo fica resolvido por software, ou quase tudo, mas não é fácil de adaptação. Sobretudo o comando do volume do telefone, que passámos muito tempo a tentar “encontrar” quando corríamos algumas aplicações, e parecia que estávamos a “fazer festinhas” ao ecrã. Parece inócuo até estar a navegar em algumas apps e começar a tocar um daqueles vídeos com som irritante, num volume demasiado elevado, quando está no Metro…
Os gestos são também já o “novo habitual” no interface do EMUI 10, dispensando os botões de software na base do smartphone, assim como a utilização dos toques com os nós dos dedos para capturar a imagem do ecrã ou gravar, mas há mais algumas a aprender, para navegar nas páginas, abrindo e fechando a mão a cerca de 20 a 40 centímetros do ecrã, mas é melhor não a usar em público. Torna-se demasiado estranho…
Também para a autenticação os botões são dispensados. Pode usar a impressão digital no ecrã, agora mais próximo da base, ou o reconhecimento de rosto. Os dois sistemas estão mais rápidos e funcionais e o reconhecimento de rosto – que tem um novo método de captura dos vários ângulos da sua cara, mais semelhante ao iOS – é talvez o melhor e mais rápido que já testámos num smartphone Android. Mesmo em ambientes de pouca luz.
Uma máquina fotográfica à prova de “Prós”
A Huawei continua inabalável na sua parceria com a Leica, e isso tem trazido à área da fotografia dos smartphones da marca uma qualidade à prova de “Prós”. Os sensores e as lentes são de grande qualidade, mas também a combinação das várias câmaras faz a diferença para a qualidade final das imagens, combinada com o software de reconhecimento inteligente do contexto e adaptação da forma de captar a foto, e a edição final da “obra de arte”.
Compostas em circulo na traseira do Mate 30 Pro, o sistema de câmaras combina uma SuperSensing de 40MP, uma Cine de 40MP, uma câmara telefoto de 8MP e uma câmara com sensor 3D, mas para além dos MP também importante para o resultado final é a estabilização ótica de imagem com OIS e AIS (de inteligência artificial) e a deteção de profundidade 3D para efeitos bokeh.
Fizemos algumas fotografias e vídeos nos últimos dias, mas estamos longe de conseguir explorar o melhor das câmaras que se destacam também no vídeo como a DXOmark já comprovou nos seus testes, com vídeos em lapso de tempo e 4K com grande qualidade mesmo com pouca luz. Foram estas algumas das características que contribuíram para a boa classificação do smartphone que ficou entre os melhores Android nesta área.
Bateria quase inesgotável
A duração da bateria é cada vez mais uma questão essencial para a maioria dos utilizadores, mas no Mate 30 Pro deixou quase de ser uma preocupação. A bateria de 4.400 mAh dura à vontade mais do que um dia, mesmo sendo posta à prova com um uso acima do normal de multimédia, e manteve-se “fresca” mesmo em utilização intensiva de jogos, ao contrário do que acontece com a concorrência. Nisso é semelhante ao Mate 20 Pro, que já usamos há mais de um ano e que se mantém com um desempenho impecável.
Quando está com um nível de bateria baixo o carregamento rápido salva a situação, sendo possível repor mais de 80% da bateria em cerca de 30 minutos. A Huawei garante que a Huawei SuperCharge permite o carregamento “super rápido” sem fios mas não testámos este sistema.
Conte ainda com o carregamento inverso sem fios, que permite carregar outros telefones ou acessórios como relógios, e que foi atualizada para ser agora mais rápido.
Como conseguimos usar o Huawei Mate 30 Pro sem Google Mobile Services?
E agora o elefante no meio da sala. Como já tínhamos referido, o Huawei Mate 30 Pro não tem os Google Mobile Services. Isso quer dizer que não vai encontrar a habitual pasta de aplicações da Google, com o Maps, YouTube, Chrome, Drive Fotos e a Play Música, mas também a loja de aplicações Google Play. Mas não é só isso. Há várias aplicações que dependem de serviços Google Play para funcionar, e nem foi preciso muito para as encontrar.
E na App Galery da Huawei faltam notoriamente algumas aplicações de topo, com que nos habituámos a contar, como o Facebook, o Messenger, o LinkedIn e WhatsApp. Se usar o Phone Clone vai “importá-las” de forma fácil, e depois é só repor a autenticação para ter acesso a todas as funcionalidades.
O mesmo não se passa com outras apps que usamos habitualmente. A Uber, por exemplo, e o Waze, mas também jogos como o Mário Run, são algumas das aplicações que aparentemente são migradas com o recurso ao Phone Clone, mas que depois não abrem, e não funcionam. O mesmo se passa com a aplicação da TAP, por exemplo.
E estas fizeram falta nas últimas semanas em que usámos o Mate 30 Pro. Mais até do que as próprias apps da Google, porque através do browser é possível aceder ao Gmail e até usar a navegação e identificação de pontos de referência no Maps, como fizemos para preparar a viagem à CES em Las Vegas. O YouTube também pode ser acedido no browser, com os mesmos favoritos. Claro que a ligação à Drive para backups de documentos também não está disponível, e a interligação entre todas as informações de localização, email e navegação também não. Isso significa que a Google já não o vai avisar de que está na hora de ir para o aeroporto para o seu próximo voo, do bilhete que recebeu na conta do Gmail.
Existem várias formas de contornar a instalação de aplicações e até o acesso aos serviços da Google, mas isso será sempre complicado para utilizadores menos “techies”, mesmo com a ajuda especial que a Huawei está a preparar para quem comprar o smartphone.
Mas há boas notícias. Já estão disponíveis uma série de alternativas a apps da Google e a outras “grandes”, como o YouTube, e a Huawei tem feito um bom trabalho a “acarinhar” ou “aliciar” os developers a desenvolver para a sua plataforma. Em Portugal já há mais de 100 das principais apps que estão disponíveis na App Gallery da Huawei, incluindo as aplicações do SAPO como o SAPO Desporto, e nos próximos meses este número deve aumentar, especialmente se as condições oferecidas forem mais favoráveis do que na Google Play. Há ainda o aliciante adicional de abordar o mercado gigantesco da China que habitualmente é de mais difícil acesso.
São estas as oportunidades que esta mudança traz, abrindo espaço para uma alternativa nas plataformas de sistemas operativos móveis que atualmente se resume a uma divisão de domínio entre Android e iOS depois destes dois terem “secado” a concorrência do Windows Phone e do FireOS , entre outras tentativas de opções que surgiram na última década e morreram.
Mas isto faz com que recomendemos a compra de um Mate 30 Pro a qualquer pessoa? Não, de todo. Mesmo que este passe a ser o “novo normal” da Huawei, e que o Huawei Mobile Services continue a evoluir, ainda há muito caminho a fazer para ser tão intuitivo, simples e integrado como o Android com Google Mobile Services, ou o iOS. Se for mais geek, e especialmente se gostar de “quitar” os seus gadgets, e de descobrir novos caminhos e alternativas, então este é um smartphone em que pode apostar. Afinal, ainda recentemente descobrimos algumas comunidades de utilizadores que estão apostados em manter o Ubuntu nos telemóveis, e acreditem que é bem mais difícil!
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