O Samsung Galaxy Fold chegou ontem às lojas portuguesas, depois de um período de pré-registo, e no SAPO TEK já o estamos a testar há alguns dias, comprovando o entusiasmo que o conceito envolve e que faz com que todos queiram experimentar a sensação de “abrir” o telefone e ouvir o “click” ao fechar. Mas isso não chega para provar que realmente os dobráveis são uma tendência para ficar.
Alguns dias de utilização e muitos “abrir e fechar” depois, com muitas mãos e olhares diferentes, o Galaxy Fold passou de ser um simples objeto de entusiasmo, que se tirava da caixa com alguma reverência e medo, para se tornar um substituto credível dos atuais smartphones, com vantagens em algumas tarefas, sobretudo para visualização de multimédia e jogos.
Quando aberto, o ecrã AMOLED de 7,3 polegadas (XL) é excelente para ver vídeos e fotografias, e mesmo para ler eBooks ou simplesmente notícias no SAPO TEK, mas a “dobra” ou “vinco” acaba por estar quase sempre visível, sobretudo em situações com reflexo, e torna-se difícil de ignorar. Quando fechado o smartphone continua a poder ser utilizado, mas o formato é estranho, demasiado estreito e volumoso, e o ecrã frontal não é aproveitado na totalidade.
Ao contrário da primeira versão, já não há a sensação de fragilidade, embora a proteção lateral que foi colocada para tornar o ecrã mais resistente faça com que o smartphone não fique tão bonito como outros modelos Galaxy que têm o ecrã “estendido” em toda a superfície frontal.
Um ano à espera dos dobráveis
As propostas de equipamentos com ecrãs que se dobram, enrolam ou de alguma forma se “esticam” não são novas. Estão em muitas BDs de ficção e filmes que antecipam o futuro, mas a verdade é que só nos últimos dois anos é que começaram a surgir protótipos viáveis, com capacidade de chegar ao mercado e demonstração de funcionalidade que põe em prática o desejo de poder passar muito rapidamente de um equipamento pequeno para um ecrã grande, sem aumentar significativamente o peso e o tamanho do dispositivo.
No equilíbrio entre o smartphone e o tablet, o conceito é apelativo e tem potencial, e a vantagem é que existe agora a capacidade de engenharia para o tornar real, embora ainda a preços pouco acessíveis.
A Royole já tinha mostrado o FlexiPai no ano passado, colocando no mercado um smartphone de ecrã flexível, que se abre e fecha de acordo com as necessidades, mas a Samsung deu um passo em frente com o Galaxy Fold, com um equipamento mais “afinado” e “apurado”. Mas, mesmo assim, foi demasiado apressada, e depois de ter mostrado o protótipo no MWC manteve os jornalistas longe do equipamento, ao contrário da Huawei, que não teve problemas em passar o Mate X para as mãos de um grupo de jornalistas, numa conferência de imprensa em Barcelona.
Naquilo que parecia ser uma corrida contra o tempo, as duas empresas disputaram a primazia de lançarem um smartphone dobrável, mas a Samsung acabou por avançar em junho com um Galaxy Fold com demasiadas falhas e problemas para aquilo que dizia ser um produto final, prestes a chegar às lojas, e isso acabou por arrefecer o entusiasmo.
Agora com as falhas técnicas, que deram azo a vários artigos, já corrigidas a Samsung começou a comercializar o Galaxy Fold de forma gradual em vários países, com o smartphone a chegar a Portugal numa nova vaga de países a receberem o smartphone ainda em 2019. A empresa não tem poupado em publicidade mas não há ainda números que provem a adesão dos consumidores a um equipamento que custa mais de 2 mil euros, apesar de ter sido avançado o número de um milhão de vendas, que acabou por não ser confirmado e que afinal correspondia apenas a uma meta e não a valores reais.
Um smartphone único
Pelo menos por enquanto, o Galaxy Fold é um smartphone único, e isso é um apelo interessante para os early adopters, que gostam de experimentar novos conceitos e que estão dispostos a pagar por isso. Esse tem sido um argumento válido para os equipamentos com preços acima de mil euros, alguns bastante acima, e os dados de mercado mostram que há uma fatia importante de consumidores que aderem a estes smartphones premium. Mas o Galaxy Fold custa mais de 2 mil euros, mais concretamente 2.049,89 euros, um valor duplamente difícil de desembolsar.
Claro que o Fold tem todas as características de um smartphone premium, a começar no ecrã principal, AMOLED de 7,3 polegadas, a que a Samsung chama de Infinity Flex, e que é feito de camadas flexíveis de um polímero, em vez de vidro, mas que embora não seja tão suave oferece a mesma qualidade de visualização. O chassi é metálico e demasiado sensível a dedadas que rapidamente fazem com que fique com um ar sujo, mesmo na versão Cosmos Black, mas a coluna articulada que garante a capacidade de abrir e fechar, e o som do click quando se fecha o smartphone, dá um aspecto de robustez e fiabilidade que transmite segurança.
Por dentro há um processador Qualcomm Snapdragon 855, 12 GB de RAM e 512GB de armazenamento, uma bateria de 4.380 mAh e o sistema operativo Android 9.0 com a skin Samsung One. Um sensor de impressão digital lateral – e não no ecrã – complementado com o rápido sistema de reconhecimento de rosto para um desbloqueio mais fácil, e um sistema de seis câmaras fotográficas – três na traseira com 12.0 MP + 16.0 MP + 12.0 MP, duas no ecrã principal (10 MP + 8 MP) e uma no ecrã frontal (8 MP) complementam o “pacote” que a nível de especificações é impressionante e que na utilização mostra um desempenho ao nível das expectativas para um equipamento desta gama.
Certo é que é fácil esquecermo-nos do resto. Pela sua configuração única e conceito inovador, os testes acabaram por se centrar no ecrã principal e na usabilidade do conceito, deixando de lado outras características que normalmente centrariam uma análise, incluindo a fotografia.
Há uma satisfação estranha em abrir e fechar o Galaxy Fold e ouvir o “clique” que acompanha o processo. O smartphone vem aberto na caixa por isso mesmo, e também porque todas as pessoas que pegaram pela primeira vez no telemóvel quando fechado mostraram algum receio ao abrir, e dúvidas no momento de o fechar.
Usabilidade que se “entranha”
É quando está aberto que o Falaxy Fold “brilha”. O ecrã principal é flexível e fica com 7,3 polegadas num formato mais retangular do que os tablets que têm dimensões semelhantes, mas com uma qualidade de imagem excelente para ver vídeos e a leitura de textos, com uma resolução de 2152 x 1536 (QXGA+). O formato fora de habitual 16:9 faz com que alguns conteúdos apareçam mais esticados, enquanto os vídeos do YouTube são exibidos com as barras negras em cima e em baixo.
À volta, uma moldura mais saliente protege o ecrã para evitar que as peliculas sejam danificadas, e também para não permitir a entrada de pó ou outras partículas para debaixo do ecrã que é feito de várias camadas, um problema identificado na primeira geração do Galaxy Fold. A mesma moldura metálica protege e contorna as duas câmaras frontais e o efeito faz com que o aspecto do ecrã não seja tão bonito e elegante como o de outros smartphones e tablets Galaxy, mas é uma opção necessária para garantir a resistência e durabilidade do equipamento.
Menos simpático é o “vinco” que se vê no ecrã, e que é feitio e não defeito, como explica a Samsung, mas que se torna difícil de ignorar. Não prejudica a visualização de conteúdos, nem sentimos em nenhum momento que interferisse visualmente, mas depois das notícias dos problemas da primeira versão traz algum desconforto…
Nota positiva para o sistema de multitasking, que permite ter até três aplicações abertas em simultâneo, mas podia ser mais intuitivo, sobretudo na navegação entre janelas e na escolha das aplicações a usar em cada uma delas. Mesmo assim acaba por se tornar um hábito gerir as várias janelas, e o menu lateral que surge com as aplicações também é uma boa ajuda à navegação.
Quando fechado o Galaxy Fold apresenta um ecrã frontal de 4,6 polegadas, AMOLED, mas que tem uma área utilizável pequena para aquilo a que já estamos habituados. De qualquer forma é sempre um ecrã secundário, a utilizar para pouco mais do que a leitura de notificações ou uma chamada rápida, já que ninguém vai querer dispensar o uso do ecrã principal para qualquer outra tarefa mais longa.
Menos simpático é o espaço total que ocupa. A altura é semelhante à de outros smartphones como o S10 mas é mais estreito, e duplica a espessura, que é semelhante à de 2 smartphones empilhados. Isso torna-o mais difícil de colocar no bolso, e o peso de 276 gramas é mais 100 gramas acima do S10 e isso também pesa no bolso.
A Samsung tem uma capa especial de Kevlar para proteger o Galaxy Fold de quedas acidentais, e preparou também um serviço de proteção adicional, e uma assistência personalizada com o Serviço Galaxy Fold Premier e cobertura de 1 ano de proteção de ecrã para por 149 euros.
A duração da bateria é menor do que seria de espera para os 4.300 mAh de capacidade das duas células integradas. Dois ecrãs acabam por consumir mais energia, mesmo com uma gestão inteligente, e pela nossa experiência há também mais tentação para usar mais intensamente os recursos multimédia e de jogos do que noutros smartphones mais pequenos.
Um conceito no caminho certo
Tudo somado, o Galaxy Fold está no caminho certo para tornar os smartphones dobráveis uma tendência para quem procura um equipamento flexível e adaptável a várias funcionalidades. É difícil até chamar-lhe só smartphone, porque é mais um híbrido entre telemóvel e tablet, e na verdade já nos habituámos a estes conceitos com os computadores portáteis híbridos que rapidamente se transformam em tablets. Claramente é um modelo que usaríamos no dia a dia, mas há ainda algum caminho a percorrer para que todo o equipamento se torne mais robusto – a resistência ao pó e a água é já obrigatória e o Fold ainda não tem – mas também mais fino e leve.
E o preço, claro, é um obstáculo. Mais de 2 mil euros é ainda um valor demasiado elevado para permitir que o Galaxy Fold caiba na larga maioria dos bolsos, e o preço tem de baixar significativamente para ser mais acessível a quem quer experimentar o conceito.
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