Por Rui Martins (*)
Portugal e Embraer deram um passo relevante: foi assinada uma carta de interesse para estudar a instalação, em Beja, de uma linha de montagem final do A-29N Super Tucano, com a ideia de servir as necessidades portuguesas e, potencialmente, exportar para outros países europeus via acordos governo-a-governo. Isto não é ainda "fábrica garantida", é um compromisso político-industrial para avançar com o projeto e definir as condições para o seu lançamento.
O ministro da Defesa, Nuno Melo, foi explícito sobre a narrativa operacional que o Governo quer imprimir ao programa: além de ser uma nova capacidade de ataque ao solo/apoio, o A-29N "oferece a possibilidade" de desempenhar missões de luta anti-drone: o que, na linguagem prática, aponta para emprego em cenários de baixa/média ameaça, vigilância armada e interceção de UAVs lentos/medianamente permissivos, mais do que para substituir sistemas C-UAS dedicados.
A guerra na Ucrânia, aqui, é o pano de fundo óbvio: os drones mudaram a guerra, reduziram brutalmente a liberdade de manobra de colunas blindadas, e obrigaram a uma adaptação constante: dispersão, camuflagem, guerra eletrónica, redes/grelhas anti-FPV, proteção improvisada e muita "infantaria ligeira" com alta mobilidade (viaturas ligeiras, motos e quadriciclos).
E é aqui que convém ser frio: querer transformar o Super Tucano numa "aposta NATO para abater drones" pode soar bem mas não pode ser a "solução": o avião pode ajudar em certas camadas do problema (patrulha, resposta rápida, interceção de alvos lentos, dissuasão), mas a defesa anti-drone séria - sobretudo para aeroportos e infraestrutura crítica - é um sistema em camadas: deteção (radar/EO/IR/acústica), identificação, guerra eletrónica, armas de energia dirigida (que ainda têm de ser produzidas em série), canhões/munição programável, mísseis de curto alcance e baratos assim como regras claras de empenhamento. Estas aeronaves podem ser parte da solução, mas não podem ser o "escudo" principal.
Dito isto: faz sentido e concordo com a tese de reforçar base industrial de defesa, trazer produção e manutenção em Portugal e garantir padrões NATO. Se houver mesmo uma linha de montagem final em Beja, Portugal ganha alavancagem: emprego qualificado, cadeia de fornecedores, MRO, e margem para integrar sensores/links de dados, pods, guerra eletrónica e doutrina operacional com parceiros europeus.
(*) do CpC: Cidadãos pela Cibersegurança
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