Por Francisco Jaime Quesado (*)

Cumprem-se vinte anos sobre a implementação de políticas públicas ativas da Sociedade da Informação e do Conhecimento em Portugal. Quando no final da década de 90 a Sociedade da Informação entrou na agenda do país, passou a ser dada prioridade à missão de estimular fortemente a acessibilidade e participação social, assegurando a dinamização, o desenvolvimento e a consolidação das Tecnologias de Informação e Comunicação como um instrumento central de modernização e melhoria da qualidade de vida das pessoas. Passado este tempo todo, o balanço é muito positivo e embora haja ainda trabalho pela frente, podemos falar de um roteiro inovador de que nos podemos orgulhar.

A construção duma Sociedade da Informação e do Conhecimento é um desafio complexo e transversal a todos os actores e exige um capital de compromisso colaborativo entre todos. Com a Internet a nossa sociedade mudou muito e o grau de liberdade de participação das pessoas ganhou uma dimensão nunca antes possível – a informação passou a estar disponível a todo o momento e a ser a base de novas plataformas de inteligência estratégica, dinamizadoras de novas redes de colaboração e de novas soluções para os novos problemas que surgiram. Por isso a mobilização da sociedade e da economia para uma Sociedade da Informação positiva e aberta mobilizou o nosso país para uma agenda de futuro.

Deste roteiro inovador da Sociedade da Informação que agora celebramos fica claramente uma nota muito positiva. Mas faltam ainda dar alguns passos e neste tempo de balanço algumas questões se suscitam de forma aberta a todos ao que têm um compromisso com esta agenda estratégica:
- Qual o caminho a dar às TIC enquanto instrumentos centrais duma política activa de intervenção pública como matriz transversal da renovação da nossa sociedade ?

- Qual a forma possível de fazer das empresas (e em particular das PME) os actores relevantes na criação e valor e garantia de padrões de qualidade e vida social adequados, num cenário de crescente “deslocalização” económica?

- Qual o papel efectivo da educação como quadro referencial essencial da adequação dos actores sociais aos novos desafios da sociedade do conhecimento? Os actores do conhecimento de que tanto se precisa são “educados” ou “formados”?

- Qual o papel do I&D enquanto área capaz de fazer o compromisso necessário entre a urgência da ciência e a inevitabilidade da sua mais do que necessária aplicabilidade prática para efeitos de indução duma cultura estruturada de inovação?

- Qual o sentido efectivo das políticas de empregabilidade e inclusão social enquanto instrumentos de promoção dum objectivo global de coesão social? O que fazer de todos os que pelo desemprego se sentem cada vez mais marginalizados pelo sistema?
A Sociedade da Informação e Conhecimento não se faz por decreto. Constrói-se de forma aberta e moderna num “espaço público em rede”, como muito bem refere o pensador Manuel Castells. Com uma Sociedade da Informação e do Conhecimento participada e colaborativa, sentimo-nos mais cidadãos do mundo e mais capazes de dar o nosso contributo individual e coletivo para uma agenda positiva de futuro.

(*) Economista e Gestor – Especialista em Inovação e Competitividade