Por António Eduardo Marques (*)

Quando, em novembro de 2017, criei a página Auto Electric no Facebook, ainda não sabia quando iria comprar o meu primeiro carro elétrico; sabia apenas que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde – e, de preferência, mais cedo.

Em 2011 conduzi um Nissan Leaf de primeira geração numa pequena demonstração em Lisboa e, dessa experiência, ficaram claras duas coisas: que estava ali o futuro… mas, pelo menos para mim, ainda não estava o presente.

No final de 2015, na sequência do escândalo “dieselgate”, continuei a achar que ainda não tinha chegado a hora de trocar o meu diesel por um EV, mas troquei-o por um automóvel a gasolina de baixa cilindrada, prometendo a mim próprio que seria esse o último veículo movido a “sumo de dinossauro”. No final de 2021, ao chegar ao final o período de leasing desse carro, vendi-o e troquei-o finalmente por um EV. É sobre esta minha experiência pessoal que vos quero falar hoje.

O feedback que tive ao longo dos anos (e continuo a ter) perante os posts sobre mobilidade elétrica que faço no Facebook confirmam que este é um tema polarizante. Creio que até sei porquê, mas não é sobre isso que quero falar.

A minha ideia, caso tenham a paciência de ler até ao fim, é simplesmente a de vos transmitir qual foi a minha experiência pessoal (porque cada caso é um caso) e, se o meu cenário de utilização for semelhante ao vosso, poder desta forma contribuir para uma decisão informada quando chegar a vossa vez. Ou seja: este não é um artigo para convencer ninguém a comprar um EV ou sequer dizer o que devem comprar e porquê; é apenas um artigo de quem já comprou para dar pistas a quem já tomou a decisão de optar por um veículo elétrico.

Vamos lá então à lista de coisas que eu fiz (e aprendi) durante este processo.

  1. Pesquisar sobre o carro…

Desde o momento em que decidi comprar um EV até o ter nas minhas mãos passaram vários anos. Isto permitiu-me ter todo o tempo necessário para pesquisar calmamente qual o EV que faria mais sentido para o meu cenário de utilização – que é basicamente o de condução em cidade com apenas uma ou duas pessoas a bordo.

Aqui, como em tantos outros casos, a Internet é nossa amiga e as redes sociais ainda mais. Algo que fiz para me ajudar na escolha foi participar em diversos grupos de utilizadores portugueses de marcas/modelos específicos de EVs no Facebook.

Estes grupos são uma ajuda preciosa porque os seus membros são (sobretudo, mas não apenas) pessoas que já conduzem determinado EV e estão ali para partilhar as suas experiências – boas e más.

Claro que, como em tudo na vida, é preciso distinguir o trigo do joio (haverá sempre as pessoas que tiveram azar com o seu carro, da mesma forma que haverá “fanboys” das marcas…) mas, de uma maneira geral, é possível ficar com uma ideia do consenso que existe sobre a experiência de utilização daquele veículo concreto – dicas de compra, eventuais problemas recorrentes, experiência com a assistência técnica, carregamentos, etc.

  1. … pesquisar sobre como usar o carro…

Uma vez selecionado o modelo a comprar, é preciso continuar a pesquisar, desta vez sobre o carro concreto que decidimos comprar. Tal como acontece com os modelos a combustão, existem variações das características e funcionalidades consoante a versão escolhida, mas no caso dos EVs estas variações podem ter um impacto grande na experiência de utilização.

Por exemplo, no caso do EV que decidi comprar, há modelos que não têm carregamento rápido – algo que não sendo complicado para quem (como eu) só usa o EV em cidade, põem em causa a sua utilização em viagens maiores e… terá um impacto muito negativo no momento em que se quiser vender o EV.

Há também EVs de primeira e segunda geração que utilizam uma interface de carregamento rápido, designada CHAdeMO que, ao que tudo indica, irá cair em desuso num futuro próximo substituída pela que é agora a norma usada por todas as marcas, CCS.

Outras variações passam por diferentes capacidades de bateria e equipamentos de conforto mas, também, funcionalidades importantes como sistemas de condução autónoma mais ou menos sofisticados. Já questões como EVs com baterias alugadas vs. baterias próprias são coisas do passado e referem-se sobretudo a veículos Renault e Nissan de primeira geração – ou seja, só deverá ser algo a verificar para quem pretender adquirir um desses EVs no mercado de usados.

  1. … e perceber como será viver com um EV

Só mesmo depois de termos um EV nas mãos e o conduzirmos regulamente é que vamos realmente descobrir como é viver com veículo elétrico. Mas, também aqui, os grupos de utilizadores podem dar-nos uma ideia.

Provavelmente, já chegou à conclusão de que a maior diferença entre um EV e o veículo com motor de combustão está na sua autonomia e na forma como é (re)carregado. E, de facto, assim é. Não me encontro no grupo dos privilegiados que vivem numa moradia e que podem ter um carregador próprio, mas ando lá perto: antes de comprar o meu EV, consegui instalar um ponto de carregamento no meu escritório.

Sinceramente, caso não tivesse essa possibilidade, provavelmente não teria (ainda) comprado um EV. No entanto, o que acabei por descobrir é que a rede de carregamento pública também me serviria perfeitamente – quer em termos de disponibilidade de postos (tenho-os perto do meu trabalho e perto da minha casa), quer de custo.

Mas, e este é um grande “mas”, tudo depende de onde se mora e da respetiva disponibilidade dos postos públicos. Uma vez mais, cada caso é um caso. O que nos leva ao quarto ponto:

  1. A minha razão é só minha

Para mim, a principal motivação para comprar um EV nunca foi gastar menos dinheiro em combustível (embora isso seja um “efeito secundário” positivo) mas sim poluir menos. No entanto, também acabei por descobrir outros benefícios de ter um carro elétrico que vão para além desses dois fatores.

Um deles, e que raramente vejo referido, é que passei a conduzir melhor. Pelo menos no meu caso, dou por mim a andar mais devagar e a sentir-me menos “stressado” com a condução. Para tirar partido da recuperação de energia na travagem, aprendi a antecipar melhor o que se passa à minha frente. E, porque o EV que acabei por comprar tem uma bateria relativamente pequena, também dou por mim a andar muito mais devagar em autoestrada.

E já para não falar na condução só com um pedal no “para-arranca” da cidade: é algo que, depois de experimentarmos, nos interrogamos como foi possível andarmos tantos anos a conduzir de outra forma que não essa.

Se encontro um ponto negativo na minha experiência de pouco mais de meio ano a conduzir diariamente um EV? Sim: quando pego no automóvel com motor a combustão da minha mulher quase que parece que não sei conduzir! E interrogo-me: porque raio é que não fiz esta opção há mais tempo…?

(*) O autor é o fundador da página Auto Electric no Facebook e proprietário de um EV desde outubro de 2021.

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