Por Sofia Fernandes (*)

Não estamos extintos, mas sempre que uma espécie se deixa de reproduzir os especialistas preocupam-se, e verdade seja dita, o número de startups criadas por ano está a diminuir, e muito!

De acordo com o Portugal Startup Outlook Report 2021, em 2016 foram criadas 159 startups, número que vai diminuindo significativamente de ano a ano, sendo que desce para 20 em 2021. Estamos a falar de uma redução de quase 90% na criação de startups. Assustador certo? 

Ora na extinção de espécies há sempre uma relação de causalidade entre o declínio e as variantes que levam a esse declínio. Eu já sei o que está a pensar: COVID. Tem sido efectivamente uma excelente desculpa para quase tudo: Más notas nas aulas, mau desempenho no trabalho, mau desempenho das empresas quando apresentadas aos acionistas, problemas nas relações amorosas… Bem você escolha, há toda uma panóplia.

De acordo com o estudo “O Ecossistema de Empreendedorismo Português e o COVID-19”, mais de 70% dos CEOs de startups afirmaram que foram afetados negativamente pela pandemia, e cerca de 45% acreditam que iriam ter de fechar as startups até o final do ano. Até o monstro Web Summit esteve perto da falência.

Mas… A pandemia não evidenciou às grandes empresas a rápida necessidade de digitalização? Sim.

Não teve a pandemia um papel fulcral no impulsionamento das iniciativas das grandes empresas de digitalização? Sim.

Então, por que os sonhadores implacáveis ​​que criam startups estão a diminuir?

Mesmo que o B2B tenha sido facilitado no que diz respeito às soluções digitais – e essas são de facto as mais comuns no mundo das startups em Portugal – as startups estão a perceber que as outras do mercado estão com dificuldades: para vender, para contratar e para conseguir financiamento. O Startup Voucher e o apoio do governo estão em desaceleração, o Covid tornou-se a grande prioridade, e depois as eleições, e depois a guerra. A bandeira de fazer de Portugal o “Silicon Valley” da Europa está a meia haste, e naturalmente, ao longo do tempo está a cair. Além disso, muitas das startups criadas têm fundadores internacionais e, como pode imaginar, também diminuíram o número de empreendedores estrangeiros quando as fronteiras foram fechadas. Com os requisitos dos vistos a tornarem-se mais rigorosos e complexos, os empreendedores estrangeiros começam a entender como é difícil vir para Portugal. E assim, enquanto a bola de neve desce a colina, o problema cresce cada vez mais…

Muitas vezes não olhamos para o futuro… Mas esta espécie em declínio terá um impacto crítico em 5 a 10  anos em termos de maturidade do mercado e respectiva capacidade de apoiar os novos projectos nas estatísticas de sucesso como unicórnios e exits. E evidentemente como hub de atração para outros virem a Portugal e iniciarem os seus próprios negócios.

Mas claro está, não é preciso ser um génio para perceber isto, e houve iniciativas a serem tomadas para contornar o declínio. O governo lançou um conjunto de programas de financiamento, como o “StartupRH Covid19” “Startup Voucher”para apoiar a pagar salários, “Vale Incubação – COVID19” para ter apoio de incubadoras ,o “Mezzanine funding for Startups”e a call da Portugal Ventures para apoio a financiamento. Os governos Francês e do Reino Unido lançaram fundos de investimento para apoiar o financiamento das startups, e o governo Alemão lançou um programa especial de ajuda a startups, incluindo formação e aceleração.

Com isto, uma verdade mantém-se, o decréscimo é significativo e o que foi feito ainda não é suficiente. Então o que podemos fazer?

  1. Imitar Boston no que eles têm de melhor: Rede de Contactos - Criação de programas que promovam mentoria direta entre empreendedores experientes, que já tenham criado startups e com sucesso conseguiram investimento e vender o produto, e os novos empreendedores que querem abrir startups. Nada como aprender com quem já teve sucesso a praticar.
  2. Criar programas onde as empresas Portuguesas, grandes ou pequenas, possam apresentar problemas específicos que atravessam agora, e através de uma rede de universidades, que estes problemas sejam abordados por alunos em investigação - de modo a criar soluções que são necessárias no mercado, facilitando a monetização do conhecimento e a transferência de tecnologia do mundo académico para o mundo empresarial.
  3. Iniciar a introdução ao empreendedorismo nas escolas. Em 2014 quando eu ouvi pela primeira vez falar de uma startup, eu perguntei ingenuamente “startup what?/ começar o quê?). Nem o termo eu conhecia. Claro que o Web Summit e o aumento de tempo de antena que esta espécie conquistou no grande ecrã faz com que a realidade seja outra. Mas o mistério mantém-se. Por isso, quanto mais cedo for introduzido o tema de forma clara e transparente, menor será o medo de começar uma startup.

Estando a trabalhar há 7 anos na indústria de startups em Portugal, e vendo o trabalho das aceleradoras, incubadoras, investidores, programas de inovação aberta, programas da ANI e do IAPMEI, sinto que estes 3 pontos ainda não estão a ser trabalhados. Fala-se neles, mas ainda não estão em curso. Precisamos de atuar. Já é claro para todas as nações da Europa, e as mais desenvolvidas do mundo, que as startups são cruciais para o desenvolvimento económico, para a reação rápida a uma situação de crise, para a empregabilidade e desenvolvimento do país. Em última instância para a competitividade económica, social e sustentável do país. Esta espécie tão especial, como são as startups, está em perigo em Portugal. E convenhamos: estamos a falar de potências criaturas mágicas como unicórnios! E quem não gosta de unicórnios?

(*) Diretora de Negócio na BGI

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