Por Brian Proffitt (*)

O mundo mudou muito em apenas alguns meses. Onde antes havia cidades vibrantes e escritórios ocupados, hoje há espaços desertos porque muitas organizações estão a pedir aos seus colaboradores que fiquem em casa. Muitas organizações, incluindo a Red Hat, tomaram a decisão de encerrar todos os escritórios tão cedo quanto se revelou prático. Trabalhar como uma comunidade distribuída é algo que muitos projectos open source fazem há muito tempo. À medida que as empresas e os seus colaboradores se adaptam ao trabalho remoto, há lições a aprender com o mundo do open source e com o modo como as comunidades distribuídas conseguem funcionar à distância para construir produtos e colaborar em ideias.

As comunidades open source são conjuntos de colaboradores organizados em torno de um projecto, normalmente de software. Estas comunidades juntam pessoas com interesses partilhados para colaborarem na construção de algo, e esse algo pode ser partilhado com qualquer pessoa dentro ou fora da comunidade. E, quase sempre, os projectos open source resultam de comunidades distribuídas.
Trabalhar em comunidades open source

Quando as organizações tentam trabalhar em comunidades open source, um dos seus maiores erros costuma ser pegarem no código que têm e entregarem-no à comunidade open source na expectativa de que os membros desta comecem de imediato a trabalhar nele. Isto acontece muito e quase nunca funciona a favor da empresa ou do projecto. As organizações precisam de mostrar que têm disponibilidade para se envolverem e para participarem de igual para igual no desenvolvimento do código. Na outra ponta do espectro, alguns colaboradores tentam juntar-se a comunidades open source e trazer consigo a sua abordagem corporativa ao desenvolvimento de software, a qual inclui as regras e as linhas orientadoras de como trabalham os seus programadores. Esta abordagem pode falhar porque as organizações trazem regras próprias que não combinam com a liberdade que muitos esperam encontrar no open source. Existe sempre o meio-termo entre entregar o código a uma comunidade e esperar que o trabalho seja desenvolvido sem orientações e impor demasiadas regras e demasiada estrutura.

Esta lição pode ser aplicada à organização de uma empresa com uma força laboral inteiramente distribuída. Os colaboradores precisam de perceber que a organização ajuda e se envolve no apoio à sua força de trabalho, mas sem a limitar ou criar demasiados constrangimentos que limitem a criatividade e a inovação ou que exigam um regime de trabalho difícil ou stressante para quem não está habituado a trabalhar a partir de casa.

Apoiar e activar a sua comunidade remota

Quando tentar apoiar os seus colaboradores remotos, é importante deixar para trás algumas regras. Nas comunidades open source, os programadores não se focam tanto na quantidade de tempo que trabalham num projecto. Não interessa a que hora começam ou terminam. O foco está, e deve estar, nos resultados.

Num ambiente de teletrabalho, afaste o manual que descreve como cada um deve cumprir as suas funções, mantendo apenas as partes importantes que precisam de ser concretizadas, e deixe que as pessoas usem a sua liberdade e criatividade para alcançar os objectivos da forma mais adequada ao seu caso. O papel de um gestor de comunidades open source não é apenas certificar-se de que determinadas funcionalidades aparecem. É também assegurar-se de que as pessoas gostam daquilo que fazem e têm as ferramentas necessárias para o fazer. Dê aos seus colaboradores as ferramentas para fazerem o trabalho e deixe-as decidir como por elas mesmas. Um gestor de comunidade open source observa de forma livre e só intervém quando é necessário.

Abrace a mudança

À medida que todos aprendemos a trabalhar em equipa de forma distribuída, é importante não tentar replicar a cultura que existia no escritório. O espaço não é igual e, como tal, já não é tão fácil ter momentos de convívio junto à máquina do café. A mudança drástica do trabalho no escritório para o teletrabalho revela-se particularmente difícil para alguns colaboradores, pois a cultura que existia no local de trabalho não é aplicável ao trabalho remoto.

A cultura tem de se desenvolver de forma orgânica. As culturas e as comunidades desenvolvem os seus rituais e as suas sinergias com o tempo e são estes aspectos que criam uma comunidade. É assim que os colaboradores open source se juntam a comunidades e permanecem activos e dedicados a estas, muitas vezes ao longo de vários anos.

(*) manager, open source program office, Red Hat