
Por Márcia Patrício (*)
A IA está a transformar o modo como as Organizações identificam, avaliam e desenvolvem talento. O que antes exigia processos de assessment mais longos e manuais pode hoje ser acelerado por ferramentas que analisam padrões, processam volumes elevados de dados e oferecem suporte à decisão com uma qualidade de informação e precisão interessantes.
Mas desengane-se quem pensa que a mais-valia da IA reside apenas num aumento de eficiência de processos. A grande mais-valia está na possibilidade de libertar o tempo humano para aquilo que exige discernimento, leitura contextual e sensibilidade relacional, ou seja, aquilo que só o ser humano consegue assegurar e que a IA não replica. Utilizada com critério, a IA permite desenhar processos de assessment mais rápidos e ágeis, mas nunca completos sem a intervenção e interpretação humanas.
Hoje, muitas empresas recorrem à IA para apoiar desde o mapeamento de competências até à triagem inicial de perfis. No chamado screening digital, por exemplo, algoritmos analisam CVs, perfis online ou formulários com base em critérios predefinidos – background profissional e académico, competências técnicas, palavras-chave, etc. Utilizando processamento de linguagem natural e modelos de machine learning, estes sistemas conseguem adaptar-se a históricos de sucesso e detetar talento potencial.
Existem empresas que vão mais longe e que recorrem a entrevistas digitais com apoio de IA, onde os candidatos gravam vídeos com respostas a perguntas pré-definidas. Depois, algoritmos analisam o conteúdo verbal, o tom de voz, a estrutura das respostas e até micro expressões faciais - com o objetivo de avaliar soft skills como comunicação, iniciativa ou pensamento crítico. E existem plataformas que aplicam métodos semelhantes, combinando análise comportamental com benchmarks internos.
Mas estas ferramentas não são neutras. Um algoritmo treinado com dados enviesados pode reforçar estereótipos e comprometer a diversidade. A ausência de transparência, o risco de generalização e a automatização de decisões sensíveis exigem uma supervisão crítica (humana) constante. É precisamente por isso que empresas na linha da frente da utilização da IA neste tipo de processos monitorizam ativamente os seus modelos para mitigar enviesamentos. A tecnologia pode ajudar a ver de forma mais eficiente - mas não substitui o olhar humano.
E é neste ponto que as soft skills ganham protagonismo. A IA não capta intenção, não lê o impacto emocional de uma decisão nem interpreta subtilezas nos comportamentos e nas relações humanas. Competências como consciência relacional, comunicação autêntica, agilidade emocional, capacidade de inspirar com propósito e de fazer crescer os outros são apenas alguns exemplos de soft skills que são hoje essenciais – para liderar, colaborar, adaptar-se e evoluir, e que exigem o olhar crítico humano para serem analisadas com um nível de profundidade alinhado com a sua importância.
A inovação associada à transformação digital não reside unicamente na IA ou em ferramentas específicas, mas no modo como estas são utilizadas. O futuro do assessment passa pela integração da inteligência artificial com a inteligência humana - para ver com mais rapidez, sim, sem nunca esquecer a consciência e a leitura de subtilezas no processo de análise. Para avaliar talento com profundidade, propósito e impacto real, com o insubstituível toque humano.
(*) Senior Manager Talent Assessment na Neves de Almeida - Search & Talent Advisory
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