É o mais recente “reforço” da plataforma de infraestruturas e serviços de órbita terrestre baixa da norte-americana LeoLabs, demorou menos de um ano a construir e já está a funcionar em pleno.

O radar espacial dos Açores tem sensivelmente o tamanho de um campo de futebol, apresentando entre cerca de sete e um metro de altura, respetivamente no ponto mais e menos elevado, numa disposição de quatro estruturas semelhantes a um tubo cortado que faz lembrar um parque de skate.

A sua missão é “olhar” para os céus e acompanhar os satélites e os detritos espaciais que cruzem o seu campo de visão, bastante alargado por sinal, na chamada região da órbita terrestre baixa - conhecida pela sigla LEO -, permitindo atualizações mais rápidas e observações mais rigorosas de eventos críticos, incluindo colisões, separações, manobras e lançamentos.

A partir da ilha de Santa Maria estima-se que consiga controlar 96% dos sete mil satélites atualmente operacionais, assim como dos restantes 13 mil objetos feitos por humanos que constituem o depósito de lixo espacial existente na órbita terrestre baixa.

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Mas irá além disso: vai ser capaz de incluir os detritos entre dois e 10 centímetros, que representam a maior parte do perigo de colisão, nunca antes rastreados, aumentando significativamente o volume de ativos mapeados.

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A escolha da localização do novo radar - que na realidade são dois - foi estratégica, “pela região do globo que monitoriza”, referiu Dan Ceperley, CEO e cofundador da LeoLabs, em entrevista ao SAPO TEK, explicando que a maior parte dos lançamentos de satélites se fazem no Oceano Atlântico e a instalação dos Açores vai ser a primeira a detetá-los.

Na parte do risco de colisão, o radar açoriano também traz vantagens, já que do seu ponto de observação será o último a monitorizar a passagem de satélites e a fornecer as derradeiras previsões de rota às empresas que os gerem, por exemplo, que assim ainda vão a tempo de mexer no percurso dos mesmos, caso seja necessário para evitar o choque com detritos espaciais.

Dos Açores para o mundo a ajudar no mapeamento da órbita terrestre baixa

Ao intensificar a monitorização na Europa e em África, a nova instalação vem preencher uma lacuna e complementar a rede global de sensores da LeoLabs. Criada em 2016 em Silicon Valley, a partir do spin off de um laboratório que também desenvolvia radares, mas para estudar auroras boreais, a empresa, serve quatro mercados: operadores de satélites, agências espaciais e entidades reguladoras, agências de defesa e indústria seguradora, na observação de eventos críticos como colisões, separações, manobras e lançamentos.

“Basicamente mantemos o retrato de tudo o que se passa na órbita terrestre baixa e depois vendemos serviços de subscrição de diferentes partes dos dados”, afirma Dan Ceperley.

Entre milhares de pontos verdes, vermelhos e amarelos, a partir da plataforma online é possível ter um vislumbre daquilo que esta espécie de Google Maps para a órbita terrestre baixa é capaz: a monitorização simultânea de mais de 20 mil objetos todos feitos por humanos.

Atualmente, sete mil são satélites úteis, um número que está a crescer depressa. “Em 2019 eram só 800, mas só no final deste ano serão 10 mil, ou seja, um aumento de 10 vezes em menos de cinco anos”, destacou o CEO da LeoLabs.

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Os outros 13 mil objetos são lixo. “Partes do corpo de foguetões que levaram satélites para o espaço, fragmentos resultantes de colisões, até misseis, está tudo junto no espaço, em grande parte detritos deixados dos anos 60 aos anos 90”.

Como soluções há três grandes possibilidades neste momento, apontou o responsável: criar menos lixo, construindo melhores foguetões, melhores satélites; contornar os detritos e limpar, recolhendo esses detritos, “e nesta parte já há algumas empresas a fazê-lo, mais ainda estamos no início e queremos fazer disso uma rotina”.

Daniel Ceperley notou também que hoje os operadores de satélites têm sentido de responsabilidade para não criarem lixo espacial, “porque não ameaça só um satélite, mas todos os satélites, fica nas órbitas que usam e é necessário manter a órbita limpa”.

Portugal em destaque numa rede de radares que vai continuar a crescer

A LeoLabs tem atualmente radares em funcionamento no Alasca, no Texas, na Nova Zelândia e na Costa Rica. Com a infraestrutura de Santa Maria, a rede global da empresa passa a incluir 10 radares independentes, sendo que a empresa tem planos de expansão para o final de 2023 e 2024.

À medida que a empresa constrói radares espaciais adicionais, é fundamental encontrar locais que sejam economicamente atrativos, estrategicamente situados e adequados para uma construção rápida e viabilidade a longo prazo. Foi isso que aconteceu com os Açores, além de outros motivos, confidenciou Daniel Ceperley.

“Também viemos para os Açores porque achamos que podemos ter mais sucesso quando nos rodeamos de entusiastas do espaço e sentimos essa empolgação por parte da Portugal Space”.

O CEO explicou que numa comunidade deste tipo há sempre muito empenho e orientação para ajudar em diferentes aspetos, desde encontrar o melhor local para a instalação aos empreiteiros para a construção. “É um compromisso de longo prazo: o radar vai operar pelo menos durante os próximos 20 anos”, sublinhou.

“O Radar Espacial dos Açores é um avanço crucial na expansão global da nossa rede de sensores, assegurando um futuro viável da órbita terrestre baixa para as gerações futuras". afirmou Dan Ceperley. “Esperamos poder colaborar com Portugal em temas como o Espaço e o desenvolvimento de uma indústria espacial sustentável”.

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