A Europa está a progredir a duas velocidades no 5G. Alguns países têm conseguido avançar rapidamente na implementação da tecnologia que a região quer ver chegar a todos os europeus até 2030. Outros estão longe do ritmo do pelotão da frente e as decisões políticas são as que mais pesam nessas diferenças, revela um estudo da Ookla, baseado em dados da Speedtest Intelligence.

Portugal está a meio da tabela, com uma taxa de disponibilidade da tecnologia móvel de quinta geração de 62,9%, embora valha a pena referir que nos 30 países analisados só dois conseguem garantir uma cobertura da tecnologia superior a 80%, e outros seis têm níveis de cobertura superiores a 70%.

A liderar este ranking está a Dinamarca, onde a cobertura do 5G já chega a 83,9%. No fim da tabela está a Bélgica, que não vai além dos 11%. Neste grupo de países mais atrasados estão também nações como o Reino Unido e vários países da Europa Central, onde a disponibilidade da tecnologia está a menos de metade da que existe nos países da frente.

A fotografia geral mostra que no segundo trimestre de 2025, os países nórdicos e do sul da Europa mantiveram uma “vantagem substancial na disponibilidade do 5G”, destaca o relatório, “impulsionada pelas recentes implementações da banda de 700 MHz, que geraram ganhos de cobertura de dois dígitos em países como a Suécia e a Itália”.

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Focando a análise apenas no conjunto de países da União Europeia, os dados de utilização da tecnologia confirmam o impacto da expansão do acesso à tecnologia: em média, os assinantes móveis da UE passaram 44,5% do seu tempo ligados a redes 5G no segundo trimestre de 2025, mais 32,8% do ano anterior.

A contribuir para o ritmo dispar dos avanços do 5G na Europa estão “uma combinação complexa de políticas nacionais sobre atribuição de espectro e fatores económicos mais abrangentes”, que vão muito além de simples diferenças geográficas e demográficas.

Pesam nesta equação temas como os prazos e custos de atribuição do espectro, obrigações de cobertura, mecanismos de subsidiação, ou regulação sobre partilha e licenciamento de infraestruturas, prioriza o relatório.

“Isto indica que a competitividade do 5G é menos influenciada por lacunas tecnológicas ou desequilíbrios inerentes ao mercado e mais pela execução eficaz de políticas”.

Por exemplo, a Lei de Segurança das Telecomunicações no Reino Unido que veio obrigar os operadores a substituir equipamentos de fornecedores até 2027, é apontada como uma das razões do atraso do país no 5G.

Na Bélgica, também têm sido questões políticas a influenciar o ritmo de desenvolvimento da tecnologia, como as disputas regionais sobre a partilha de receitas - entre Flandres, Valónia e Bruxelas, que atrasaram o lançamento do concurso para atribuição de espectro de 2019 para 2022.

Nos países nórdicos, bons exemplos na implementação do 5G mesmo com as densidades populacionais mais baixas da região e territórios desafiantes, também foram as políticas a influenciar o mercado, mas em sentido contrário, criando condições para ultrapassar os desafios existentes com “obrigações rigorosas de cobertura rural ou regional às licenças de espectro 5G”.

Os países nórdicos são ainda apontados como bons exemplos nas estratégias de partilha de redes, de que é exemplo a joint venture TT Network, entre a Telia e a Telenor na Dinamarca e a Net4Mobility entre a Tele2 e a Telenor na Suécia.

Outro exemplo é o da Suíça, que com uma estratégia diferente e sem subsídios, conseguiu acelerar no 5G porque disponibilizou espectro rapidamente e a preços acessíveis, para que os operadores guardassem a capacidade de investimento disponível para o desenvolvimento das redes.

Nas redes 5G puras Europa fica para trás

O relatório também avalia os desenvolvimentos na região em termos de evolução das redes para redes 5G puras e conclui que a Europa continua a avançar lentamente a este nível e a ficar para trás na comparação com outras regiões do globo, como a América do Norte e a Ásia.

Espanha é o país europeu que mais se destaca para já na implementação de redes 5G standalone. Isso deve-se à decisão estratégica do país de aproveitar os fundos do plano de recuperação e resiliência para subsidiar estes desenvolvimentos, com foco no combate à exclusão digital e às disparidades entre zonas rurais e urbanas.

Ainda assim, EUA e China estão muito melhor posicionados neste indicador, especialmente a China, com um ritmo muito superior de cobertura e adoção da tecnologia. No segundo trimestre de 2025, a UE tinha uma quota de amostra 5G SA (um indicador da cobertura) de apenas 1,3%, face aos 20% observados nos EUA e aos 80% na China no mesmo período.

Entretanto, os esforços para harmonizar a atribuição de espectro na Europa prosseguem. Todos os Estados-Membros, exceto Malta, atribuíram 60 MHz na banda de 700 MHz e 400 MHz na banda de 3,4-3,8 GHz para o 5G. “Isto conclui efetivamente o processo de leilões 5G na Europa até que a procura aumente para a banda pioneira final, a banda mmWave de 26 GHz (1000 MHz)”.

Este passo é visto como crucial porque “marca o fim de quase uma década de fragmentação significativa na disponibilidade do espectro para 5G em toda a Europa”, sublinha o relatório.