Esta não é a única discordância que Arlindo Oliveira tem com as "políticas adotadas na Europa e nos Estados Unidos". Sobre a posição de banir a China nesta guerra tecnológica que se vive, o também presidente do INESC confessa, em entrevista à agência Lusa, ter uma opinião diferente.

A China "tem um regime que tem e não é, seguramente, uma democracia ocidental, mas eu acho que a maneira correta de melhorar as condições de vida e o relacionamento com a China não é afastar e bloquear a China e a tecnologia chinesa", considera o investigador do INESC-ID.

Aliás, "Portugal aí - não estava sozinho - mas foi dos poucos que proibiu a Huawei. Agora, nos Estados Unidos, o Tiktok também está sob uma regulação pesada que eventualmente irá conduzir ao próprio fecho do Tiktok e ao reforço das redes sociais da Meta", que já existem, prossegue.

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Ora, "na prática, vamos assistir a uma redução da concorrência, a uma redução da qualidade de serviços que são prestados ao consumidor e a um isolamento ou uma tentativa de isolamento da China que eu acho que só vai contribuir para piorar as relações entre o Ocidente e a China", reforça Arlindo Oliveira.

O professor e investigador reitera que o facto de Portugal ter ligação a Macau, uma das duas regiões autónomas da China, "devia ter uma responsabilidade especial na manutenção de canais abertos com Macau e, através de Macau, com a China, e não devia estar entre os países mais agressivos nesta componente de limitar a tecnologia chinesa".

E o "argumento de que os produtos da Huawei podem ser usados para espionagem também se aplica aos produtos de outros fabricantes e, portanto, parece-me que não é uma boa desculpa, entendo que não há razão para isso e acho que a posição de Portugal tomou não é justificada", sublinha.

Até porque tentar excluir a China do mercado central é estar a "partir o mundo em dois" e partir em dois é "mau do ponto de vista político e da defesa dos direitos humanos, é mau de um ponto de vista económico e, acima de tudo, é mau de um ponto de vista estratégico", argumenta, recordando que o mundo já viveu partido em dois. E agora "estamos a caminhar para lá rapidamente outra vez", lamenta Arlindo Oliveira.

"Viver no mundo partido em dois, numa altura em que a tecnologia é o que é, em que as armas nucleares são o que são, em que a manipulação social através de tecnologia é o que é (...), é muito perigoso e acho que a evolução positiva que houve quando acabou a Guerra Fria estamos agora em riscos de inverter", não só por causa da Rússia mas também devido à China, adverte.

Sobre quem domina a inteligência artificial (IA), o investigador é perentório: "Neste momento, o domínio é perfeitamente claro das empresas norte-americanas e do conglomerado de empresas e Estado chinês".

"Estão muito à frente na inteligência artificial de qualquer outro país (...), para nós são mais visíveis as empresas americanas, pelos produtos que usamos, mas dentro da China a realidade é diferente e, portanto, há um domínio enorme", sublinha.

Em suma, "tanto a China como os Estados Unidos estão muito à frente nestas tecnologias e a Europa está a correr um bocadinho atrás e só não usamos mais tecnologia chinesa por razões geopolíticas".

Arlindo Oliveira vai presidir ao 33.º congresso da APDC, que se realiza em 14 e 15 de maio, em formato híbrido, a partir do auditório da Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa, e que este ano decorrerá sob o mote "40 years futurizing".