No evento digital Tech Trends 2021, Nuno Carvalho e Rui Vaz, partners da Deloitte, anunciaram as principais tendências tecnológicas previstas para os próximos 18 a 24 meses. A resiliência foi o tema principal, com a tecnologia a ter um papel essencial na vida pessoal e profissional das pessoas, diminuindo o impacto da pandemia e potenciando a evolução das empresas. São nove as tendências previstas, assentes em três pilares: o coração das empresas, os dados e a experiência de fundir o físico com o digital.

“A capacidade de resiliência das organizações é o indicador que mais se destaca ao longo do último ano e aquele que vai prevalecer como ponto-chave para o futuro das organizações. A enorme disrupção digital e aposta na inovação de serviços continuará a estar no topo das prioridades estratégicas para as empresas e, por isso, a capacidade de tomada de decisão estratégica dos CIO’s e dos executivos do C-level irão ser decisivas na sobrevivência e saída desta crise pandémica” destacou Nuno Carvalho.

1 - Strategy Engineered - A estratégia passa por juntar a tecnologia ao negócio, algo que está a tornar-se crescentemente inseparável. Esta tendência diz que os estrategistas estão a fazer escolhas criativas mais definidas e com maior planeamento nas possibilidades futuras. Com base na tecnologia faz-se negócios disruptivos, ainda que haja uma grande diferença entre o que as empresas querem fazer e aquilo que têm mesmo capacidade para o fazer. Para a Deloitte, é importante haver uma estratégia, mas é ainda mais importante a sua implementação, e não esperar dois ou três anos para a introduzir. Num exemplo prático apresentado, a Salesforce afirma que para se tomar decisões é necessário ter dados para analisar.

2 – Core Revival – Os líderes de TI estão a adotar mudanças estratégicas através de C-suites. Este ano, a Deloitte está a focar-se no renascimento das soluções core na estratégia da modernização das organizações, e explorou diferentes soluções tecnológicas e opções de financiamento inovadoras para esta transformação. A especialista conta ver nos próximos meses estratégias de “operate to transform” onde em parceria com diferentes players do mercado se consiga minimizar o capital de investimento necessário e avaliar contratos de longa duração com os mesmos.

Vai haver migrações para a cloud, com opções financeiramente mais otimizadas. Dá o exemplo das soluções Low code da Outsystems ou Salesforce, entre outras, que introduzem planos importantes às empresas. A especialista estima que o mercado “Low Code, No Code” representa aproximadamente 10 mil milhões de euros e espera que cresça 22% anualmente até 2027. A modernização do core relativamente à extração de regras de negócio que tipicamente era um processo manual e complexo e cada vez mais está a ser automatizado, através da capacidade de mining. Espera-se ainda a revitalização das interfaces para APIs modernas.

3 – Supply unchained – As empresas pioneiras estão a utilizar tecnologias digitais avançadas, dados virtualizados e cobots para transformar os centros de fornecimento focados no cliente. Esta tendência, segundo a Deloitte, aplica-se em particular às empresas de retalho, na transformação da sua linha de fornecimento. Devido à pandemia de 2020, “a cadeia de fornecimento é tão mais resiliente como o seu elo mais fraco”, destacando um estudo que afirmava que 73% das organizações destas indústrias planeiam uma transformação significativa do seu supply chain e do processo de compras.

Também esperam a adoção de ferramentas analíticas que permitam capturar este comportamento e mudanças de padrões dos consumidores, de forma a ajustar a cadeia de valor entre a procura e a oferta, e dessa forma abrir novas oportunidades de valor para as empresas. A transformação do supply chain será alavancado no paradigma de valor e não no centro de custo. Esta mudança está a ser explorada pelas organizações pioneiras que utilizam modelos preditivos de forma a otimizar tanto a componente de volume como de localização do inventário e calibrar os valores de compras com base na segmentação e hiperpersonalização dos clientes em diferentes grupos. A captura e análise de dados em tempo real vai fazer a diferença das prioridades. A partilha de dados será assim fulcral nesta tendência.

4 - MLOps: Industrialized AI é uma tendência que muitas empresas estão a abordar, na utilização de inteligência artificial, mas sem muitas vezes saber o caminho por onde seguir. Para a Deloitte é necessário utilizar ferramentas de machine learning, onde os modelos devem estar no mesmo sítio, deve haver uma monitorização e todas as equipas devem ter acesso a essas ferramentas. Os modelos de machine learning ajudam as empresas a descobrir padrões, revelar anomalias e fazer previsões e decisões para gerar insights.

5 - Machine data revolution: feeding the machine – Prevê a forma como as empresas capturam, armazenam e processam os dados. Quando vamos a um site de um retalhista, com diversos produtos, gostamos de experiencia personalizada, os modelos permitem gerir isso para milhões de utilizadores. A primeira etapa é a captura e armazenamento da informação não estruturada. Vai haver a transição para a cloud, através de algoritmos para estruturar os dados, depois da sua análise através de modelos cognitivos. Por fim, o 5G e o edge computing vai permitir aumentar a capacidade de processamento e ser capaz de tomar decisões em tempo real para oferecer ao consumidor. O objetivo é personalizar os produtos aos respetivos utilizadores, que satisfaçam as necessidades dos clientes.

6 – Zero trust: Never trust, always verify – Prevê uma postura zero trust de cibersegurança, capaz de criar sistemas de segurança mais robustos e resilientes, simplificando a gestão de segurança e melhorando a experiência do utilizador final. Os recursos de cloud ou contas de redes sociais são todas “policiadas” por práticas de segurança. Na adoção desta tendência, há uma nova forma de pensar na abordagem da segurança, os skills, os processos e a tecnologia que a suporta. Os modelos de cibersegurança são assegurados no perímetro da rede e redes privadas virtuais aplicados ao acesso remoto de terceiros.

7 – Rebooting the digital workplace – A Deloitte prevê que o trabalho remoto vai continuar a ser uma tendência. Mas como manter a produtividade, e acima de tudo, como desenvolver as relações entre os colaboradores? Antes havia uma ajuda de um colaborador ao nosso lado, ou havia discussões que “espicaçavam” os trabalhadores. A Deloitte acredita que isso deve ser capturado para o contexto do digital. Dando o exemplo das sugestões de músicas das plataformas digitais, que sugerem gostos semelhantes, isso pode ser adaptado ao contexto do trabalho. O escritório do futuro passa pelos hubs de colaboração e reuniões. Na Reuters, como exemplo, os seus 25 mil trabalhadores começaram a trabalhar de casa desde março de 2020. Houve um ajuste cultural, baseado em sistemas e plataformas de cloud.

8 – Bespoke for Billions: Digital meets physical – Dando o exemplo os alfaiates que fazem fatos personalizados, em que os clientes escolhiam os botões e o tecido, esta tendência pretende escalar esse pensamento a milhões de utilizadores. Ao ter a capacidade de fundir o físico com o digital, o objetivo é dar às pessoas experiências únicas. Um exemplo, se quiser comprar um sofá, ver a cor, as medidas e ver como fica na sala é possível. Mas falta o último componente físico, o toque do tecido, sendo esse o passo que falta no processo. O objetivo desta tendência é tentar oferecer experiências virtuais o mais “humanas” possível. As pessoas querem, cada vez mais, o melhor dos dois mundos, as interações personalizadas, combinado com a conveniência do digital.

9 - DEI tech: Tools for equity – As organizações têm acesso a ferramentas cada vez mais sofisticadas para suportar a sua diversificação, igualdade e iniciativas de inclusão. Esta é cada vez mais uma prioridade das organizações. A Deloitte refere um estudo recente em que foram questionados os principais CIOs das organizações e 96% dos inqueridos responderam como sendo uma das mais importantes prioridades estratégicas. A adoção destes princípios e a capacidade de exceder os seus objetivos financeiros, ser mais inovador e ágil para atingir os resultados de negócio acaba por haver uma correlação entre os mesmos. A especialista afirma que mais de metade dos candidatos a trabalhar numa empresa identificam estes princípios como um dos fatores principais na sua escolha.