De acordo com dados partilhados por Luís Portela, Presidente da Fundação BIAL, no palco do 34º Congresso da APDC, a saúde em Portugal tem evoluído. Do crescimento das despesas de saúde à melhoria das esperanças médias de vida a aumentarem, a evolução também passa pela investigação. “O trabalho realizado em ciência em Portugal é notável”, realça.

No entanto, há vários “calcanhares de aquiles” que nos impedem de crescer ainda mais, com destaque em particular para a área da investigação clínica. Em comparação com o que investem em outros locais do mundo, as “empresas multinacionais praticamente não investem em Portugal”.

34º Congresso da APDC
34º Congresso da APDC Luís Portela, Presidente da Fundação BIAL, numa participação gravada durante a sessão Business & Science working together in Life Sciences.

Para Luís Portela é necessária uma "estratégia desenvolvimentista", que envolva a economia, saúde, ciência e negócios estrangeiros. A ela junta-se a necessidade de apostar a nível nacional na investigação clínica, assim como na criação de incentivos para o desenvolvimento de projetos de institutos de I&D e startups.

A atração de investimentos para produtos e serviços inovadores e para a produção de medicamentos, dispositivos médicos de e-health afirma-se como outro ponto esencial, passando ainda pela criação de centros de I&D de empresas multinacionais.

Em linha com Luís Portela, Rui Diniz, Presidente da Comissão Executiva da CUF, afirma que ainda há muito espaço para melhorar a área dos ensaios clínicos. No caso dos prestadores de cuidados de saúde, a contribuição para a investigação clínica permite dar melhores soluções aos pacientes, mas também reforçar a contratação de novos médicos, detalha o responsável.

A CUF tem vindo a apostar na área de investigação clínica, através do CUF Academic Center, com resultados positivos, além de parcerias a nível internacional, e quer manter a aposta nesta área, com o objetivo de ter mais ensaios clínicos, o que Rui Diniz descreve como “positivo para todos”, dos pacientes aos prestadores e profissionais de cuidados de saúde.

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34º Congresso da APDC Pedro Silva, Head of the Funding and Innovation Office da GIMM, e Rui Diniz, Presidente da Comissão Executiva da CUF, na sessão Business & Science working together in Life Sciences

A falta de investimento, assim como de mecanismos de financiamento sólidos, apoiados por multinacionais, que permitam avançar para a investigação clinica, destaca-se como um dos grandes entraves nesta área, defende Pedro Silva, Head of the Funding and Innovation Office da GIMM.

Para alterar esta realidade, o responsável afirma que é necessário apostar na criação destes mecanismos de financiamento, mas também de atração dos centros de decisão das grandes empresas farmacêuticas para Portugal, trazendo para o país as suas equipas de cientistas, e no desenvolvimento de centros de investimento especializado.

A chegada de novos “cérebros” vindos de outros países, incluindo dos Estados Unidos, poderá beneficiar a Europa e, por conseguinte, Portugal, mas, como realça Rui Diniz, tal necessita de um esforço concertado entre múltiplos decisores, quer do ponto de vista do Estado, quer das universidades. Para fazer face à concorrência europeia, Portugal precisa de se organizar para “dar tiros certeiros”.

“Nós precisamos de muita colaboração entre diferentes partes para garantirmos a escala que o país à partida não tem”, defende Rui Diniz.

Pedro Silva acrescenta que, entre o conjunto de medidas que devem ser tomadas para reforçar a ligação entre ciência e negócios, deve estar um fundo para provas de conceito, algo que ainda não existe em Portugal, mas que já faz parte das estratégias de outros países, apoiando o investimento tecnológico para os projetos que ainda estão em fases mais embrionárias.“Cabe a cada um de nós melhorar o ecossistema e melhorar aquilo que é a relação entre os institutos portugueses e a indústria”, realça.

Para Rui Diniz “há duas palavras-chave para progredirmos”, que se aplicam tanto às operações da CUF como à totalidade do ecossistema que junta ciência e negócios: foco e espírito de parceria. “Nós não podemos querer fazer isto sozinhos (…) enquanto não percebermos que temos de fazer isto mais em conjunto, nesta área não vamos ter escala”.