O futuro não se prevê, mas todos os gestores sabem que com muita informação é possível minimizar a incerteza e desenhar cenários que ajudem a preparar as organizações e a tomar melhores decisões. A capacidade de desenhar estes cenários (normalmente designados como foresight), olhando para as diferentes perspectivas de evolução e tirando partido dos dados existente, é cada vez mais relevante e Pedro Tavares decidiu criar um projeto para ajudar as empresas neste processo, antecipando o futuro em vez de serem apenas reativas.

Em entrevista ao TEK Notícias, Pedro Tavares, que foi secretário de Estado da Justiça, lembra que numa altura em que os organizações sentem uma pressão sem precedentes para agir de forma mais rápida e inteligente, com estratégias a longo prazo que são impactadas por mudanças geopolíticas, complexidade regulatória e alterações tecnológicas cada vez mais rápidas, é ainda mais importante ter ferramentas de apoio. "Todos os anos há mais de 50 mil atualizações regulatórias nos vários mercados e é impossível ter equipas que monitorizem todos os dados e interpretem todos os sinais", afirma.

O CEO da GovHorizon cita mesmo um estudo de um centro de investigação alemão que mostra que as organizações estão a usar o foresight para planear a curto prazo. "Já deu para ver que não podemos continuar a apagar fogos, temos de nos preparar agora para os cenários do futuro", avisa.

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No início do ano começou a desenvolver a GovHorizon, juntando a experiência de governação com dados, inteligência artificial generativa e políticas públicas num produto que já está pronto para ser implementado e com foco em áreas como a banca e o sector financeiro, para o mercado de empresas privadas, e a administração pública central e local. O primeiro modelo começou a ser desenvolvido logo em janeiro e em abril a empresa ganhou mais "músculo" e passou a contar com novos sócios, com experiência em IA Generativa.

Como co-fundadores estão Guido Santos, COO, também co-fundador do Genesis Studio, Isabel Rosa, CTO e especialista em LLM e IA ética, Luís Pinto, CIO do Genesis Studios e Sérgio Pereira, engenheiro de desenvolvimento e especialista em Python, automação de processos e GenAI.

Equipa govhorizon
Equipa govhorizon

A aplicação está pronta para responder às necessidades dos três sectores, juntando muitas fontes de dados públicos, informação regulatória e de compliance e IA Generativa, com LLMs, para ajudar os decisores a ter rapidamente acesso a modelos preditivos. A ideia do GovHorizon é apostar em algumas das áreas mais reguladas, como a banca, energia e defesa, mas também apoiar o sector público, de institutos a reguladores sectoriais, assim como os municípios que podem fazer comparação de impacto das políticas assumidas em outras regiões.

Um dos exemplos avançados por Pedro Tavares é o das políticas de crédito dos bancos, que têm de ter previsibilidade sobre a evolução dos modelos familiares. Neste caso a aplicação junta mais de 100 anos de dados de evolução das famílias, a nível global, para ajudar a traçar cenários de futuro a médio e longo prazo.

Para Pedro Tavares, esta é uma oportunidade de colocar em prática uma visão estratégica e usar os dados e as ferramentas que até agora estavam dispersas em software de analítica, CRM ou plataformas de foresight. Ao integrar a informação permite ligar a cenarização, políticas, risco e desempenho numa única ferramenta, com acesso em tempo real.

As primeiras demos públicas já estão prontas, com um modelo para a área financeira e outro para a administração pública central, estando também em preparação do da administração pública local, que aguarda agora a fase de eleições autárquicas para começar a ser apresentado. O objetivo é depois alargar ao sector da defesa e a outras áreas reguladas, e começar a internacionalização do negócio.

GovHorizon
GovHorizon

A empresa já foi selecionada para o WebSummit no programa Road2WebSummit, e vai estar também no Dubai, em novembro.

"Existe um potencial grande, não há nenhum produto do género no mercado", sublinha Pedro Tavares, que afirma que a GovHorizon quer ser uma boa prática na Europa e que o produto está pronto para escalar.

Democratizar o acesso com modelo SaaS

O plano é que a versão base do GovHorizon possa ser subscrita online, num modelo de Software as a Service (SaaS) onde o cliente pode escolher as bases de conhecimento que são mais relevantes para o seu negócio. Mas haverá também produtos premium, em que as organizações podem escolher usar LLMs fechados, ou modelos on premisses, com muitas cadeias temáticas e componente de serviços.

A facilidade de utilização, e customização, fazem parte das preocupações, e a arquitetura da aplicação foi pensada para reduzir o tempo de implementação, com as cadeias temáticas, as bases de conhecimento e a integração de dados do negócio a partir de APIs. A implementação poderá ficar a cargo de parceiros, mas a equipa da GovHorizon quer também apostar na componente de transformação cultural das organizações, com a integração da aplicação no processo de transformação digital e de mudança.

"As grandes empresas já podiam ter equipas para fazer este trabalho mas as pequenas e médias empresas têm agora ferramentas para fazer o seu foresight e desenvolver os cenários que ajudam a mitigar os riscos", com um modelo de pagamento por serviço que dispensa investimento inicial e que pode começar numa base mais reduzida, com escolha por módulos, e depois escalar.

GovHorizon
GovHorizon

A confiança no projeto é grande e já há testes a decorrer com algumas organizações, mas a equipa está a olhar para a internacionalização do negócio. O desenvolvimento faz-se em vários planos, passando também pela integração do ecossistema de inovação, e a empresa está já a avançar com candidaturas em projetos do Horizonte Europa, avança Pedro Tavares. O financiamento também não foi descurado e a GovHorizon está à procura de "fontes de financiamento privado numa lógica de internacionalização e alinhada com os nossos valores", justifica o CEO.

"Não queremos perder tempo, temos um bom produto, uma boa estratégia e um bom plano, mas temos de ser rápidos para sermos competitivos ou alguém pode ocupar este espaço", adianta ainda, garantindo que já há muitas ideias de roadmaps com agentes e automatização de tarefas que "vai ainda evoluir muito".