O Facebook, que enfrenta um crescente ceticismo em relação ao seu projeto de moeda digital, a Libra, poderá utilizar criptomoedas baseadas em moedas nacionais como o euro ou o dólar, designadas por stablecoins. A notícia é avançada pela Reuters que cita o atual responsável pelo projeto e significa uma mudança de planos relativamente ao projeto inicial.

De acordo com a agência, a informação foi divulgada por David Marcus numa conferência na área bancária este domingo, onde garantiu que o principal objetivo da empresa continua a ser a criação de um sistema de pagamentos mais eficiente. No entanto, o especialista explicou que a rede social está aberta a procurar abordagens alternativas para o token de moeda que pretende utilizar.

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David Marcus afirmou, durante o painel, que poderão haver alterações no projeto. "Em vez de termos uma unidade sintética poderíamos recorrer a uma série de stablecoins, de euros ou dólares por exemplo, uma moeda estável em stablecoins" explicou, admitindo que esta é uma das opções que devem ser consideradas. Ainda assim, David Marcus esclareceu que não estava a sugerir que as stablecoins fossem a nova opção preferida do grupo.

Após a sessão, o responsável pela Libra assegurou à Reuters que o Facebook continua a querer lançar o projeto em 2020, admitindo, no entanto, que essa meta pode acabar por não ser alcançada devido a vários obstáculos a nível de regulamentação que têm surgido. "Sempre afirmámos que não avançaríamos com o projeto a menos que abordássemos todas as preocupações legítimas e obtivéssemos a aprovação regulatória adequada. Portanto, não depende inteiramente de nós", referiu.

Um projeto que ainda não foi lançado mas que já enfrenta muitas dificuldades

Quando o Facebook anunciou em junho deste ano a Libra contava já com apoios de empresas como a MasterCard, Visa, PayPal, eBay, Uber, Lyft e Spotify, e outras, incluindo a portuguesa Farfetch, num total de 29 organizações envolvidas que vão funcionar como uma espécie de "membros fundadores" da criptomoeda. A rede social contava somar cerca de 100 parceiros até ao lançamento da tecnologia.

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No entanto, desde então tem vindo a surgir muita controvérsia em relação ao projeto. Em setembro Yves Mersch, membro do Banco Central Europeu, deixou claro que considera que a criptomoeda proposta inicialmente pelo Facebook poderá afetar a capacidade do Banco de definir a política monetária. Mais recentemente foi a vez da Comissão Europeia voltar a abrir um inquérito para saber que riscos é que a aplicação da moeda digital pode trazer em matéria de estabilidade económica e de privacidade dos dados dos utilizadores, quando em agosto já tinha aberto outro inquérito relativo a questões de quebra da lei da concorrência.

Para piorar a situação, este mês de outubro ficou marcado pelo abandono da Libra Association de vários parceiros,  como a Mastercard, a Visa, o eBay, a Mercado Pago e a Stripe. A notícia do abandonar do projeto por parte de cinco dos seus “membros-fundadores” chega uma semana depois de o PayPal ter anunciado o fim da sua parceria com a Libra Association.