Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook que acusou a empresa liderada por Mark Zuckerberg de dar prioridade aos lucros em detrimento da tomada de medidas para combater o discurso de ódio e desinformação na rede social, é uma das oradoras da edição de 2021 do Web Summit, que regressa em modo presencial a Lisboa entre os dias 1 e 4 de novembro.

A confirmação chega por parte do próprio Paddy Cosgrave, presidente executivo e cofundador do Web Summit, através do Twitter. O responsável dá a conhecer que Nick Clegg, vice-presidente do Facebook para assuntos globais, também fará parte do evento.

Recorde-se que Frances Haugen, que trabalhou para o Facebook até maio de 2021, deu a cara no programa 60 Minutos. Na entrevista, a “whistleblower” referiu que houve conflitos de interesse entre o que era o melhor para os utilizadores e o que mais beneficiava os “cofres” da rede social, afirmando que a empresa optou várias vezes por otimizar a plataforma para os seus interesses e lucros.

Frances Haugen revelou-se como a responsável pelo fornecimento dos documentos que deram origem a uma investigação do Wall Street Journal, acionando uma audição no Senado sobre os efeitos negativos do Instagram nas adolescentes.

Facebook deu prioridade ao lucro em detrimento das medidas para combater o discurso de ódio e desinformação
Facebook deu prioridade ao lucro em detrimento das medidas para combater o discurso de ódio e desinformação
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Nas suas declarações ao programa 60 Minutos, Frances Haugen salientou que o Facebook mentiu ao público sobre o progresso que tinha feito na redução do discurso de ódio e desinformação na sua plataforma. A ex-funcionária indicou ainda que o Facebook foi utilizado como forma de organização das invasões ao Capitólio em janeiro, depois da empresa ter desligado os sistemas de segurança, após as eleições presidenciais dos Estados Unidos.

De acordo com a “whistleblower”, a rede social sabia que os seus algoritmos e plataformas promoviam este tipo de conteúdo, mas falhou em lançar contramedidas duradouras ou recomendações internas, indicando também que o Facebook descobriu que, se mudasse o algoritmo da plataforma para ser mais segura, as pessoas passavam menos tempo no website, clicando menos vezes nos assuntos, o que significava ganhar menos dinheiro.

Frances Haugen vs. Facebook: o caso que está a abalar a rede social

Durante o seu testemunho no Senado norte-americano, na última terça-feira, Haugen reiterou que o Facebook coloca os lucros à frente da segurança dos utilizadores e que a rede social esconde que as suas plataformas são prejudiciais para os menores, fomentam a divisão social e minam a democracia.

A Lusa avança que, no seu testemunho, a ex-funcionária pintou um retrato impiedoso da empresa, porque durante o seu tempo de trabalho lá, percebeu uma "verdade devastadora": o Facebook retém informações do público e dos governos.

"Os documentos que forneci ao Congresso provam que o Facebook enganou repetidamente o público acerca do que a sua própria investigação revela sobre a segurança das crianças, a eficácia da sua inteligência artificial e o seu papel na divulgação de mensagens divisórias e extremistas", denunciou Frances Haugen.

Por outro lado, Mark Zuckerberg nega as acusações da “whistleblower”. Num longo post na sua página do Facebook, o responsável afirma que "no cerne destas acusações está a ideia de que damos prioridade aos lucros em detrimento da segurança e bem-estar. Isto simplesmente não é verdade".

O CEO e cofundador do Facebook enfatiza que  "muitas das acusações não fazem sentido" e que não reconhece "o falso quadro da empresa que está a ser pintado".

"O argumento de que promovemos deliberadamente conteúdos que enfurecem as pessoas para obterem lucro é ilógico. Ganhamos dinheiro com a publicidade e o que os anunciantes nos dizem constantemente é que não querem que os seus anúncios apareçam ao lado de conteúdos que sejam prejudiciais ou que gerem raiva", frisou.

O Facebook tentou também desacreditar a denunciante e negou a sua versão dos acontecimentos. Numa declaração, Lena Pietsch, uma das diretoras de comunicações políticas do Facebook, afirmou que a empresa discorda da descrição da denunciante feita perante o Senado.

"Ela só trabalhou no Facebook durante dois anos; não tinha empregados sob o seu controlo; nunca assistiu a uma reunião com a direção onde fossem tomadas decisões; e ela própria testemunhou em mais de seis ocasiões que não trabalhava nas questões de que falava", sublinhou Pietsch, citada pela Lusa.

Em linha com a responsável, Andy Stone, outro dos diretores de comunicações políticas da empresa, disse no Twitter que Haugen "não trabalhou em questões de segurança infantil ou Instagram ou investigação sobre estas questões" e, portanto, "não tem conhecimento direto" da questão.

Já Joe Osborne, porta-voz do Facebook, também insistiu que a denunciante "não sabe" do que está a falar, neste caso referindo-se à acusação de que a rede social desativou logo após as eleições todas as medidas de prevenção que tinha implementado antes das eleições presidenciais norte-americanas do ano passado.

"Isso é incorreto. Mantivemos várias medidas até 06 de janeiro, e acrescentámos novas medidas após a violência que teve lugar no Capitólio", disse Osborne, referindo-se à invasão do Capitólio por milhares de apoiantes do então Presidente Donald Trump.

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