Já sabemos que fazer previsões é tudo menos uma ciência exata, mas o analista independente Benedict Evans não deixou de tentar a sua “sorte”, conseguindo captar a atenção do público do Web Summit a partir do palco central com uma (acelerada) visão perspicaz e provocante daquilo que a paisagem tecnológica atual nos pode revelar sobre a paisagem tecnológica do futuro.

Benedict Evans começou por citar o ex-gestor Jorge Paulo Lemann na reflexão em que se assumiu como “um dinossauro apavorado” que viveu por muitos anos num "mundo aconchegante de velhas marcas em que nada mudava drasticamente" e que agora está a ser “disruptivado” de todas as formas. A frase, dita em 2018, continua atual.

No caso específico do ecommerce, a pandemia acabou por acelerar a adoção no geral, que já vinha crescendo, mas também mudou hábitos relativamente ao tipo de produtos e serviços comprados, entre outros.

“Tudo agora pode ser comprado online, mas há diferentes modelos de logística para diferentes compras”.

A restauração serve de exemplo: enquanto a generalidade das compras online segue via correio, na restauração é recolha ou entrega – “o que já levou o emprego na área das entregas a aumentar consideravelmente nos Estados Unidos”, referiu o analista.

No entanto nem só de pandemia se faz a mudança no online. Antes os consumidores sabiam o que queriam e usavam a internet para comparar preços. Agora as pessoas querem o melhor produto versus o mais barato e recorrem à internet para encontrarem recomendações.

As mudanças também se sentem ao nível do marketing, havendo igualmente alterações fundamentais na publicidade. “As cadeias estão a ser quebradas e toda a gente quer ir diretamente ao consumidor, mas nem todos serão bem-sucedidos”, avisou o analista.

Acima de tudo, defendeu Benedict Evans, “o que se passa é que todas as gerações fazem uma espécie de reset à forma como encaram o retalho e como funciona o marketing e é isso que está a acontecer neste momento”.

O analista fala ainda dos tempos em que a internet servia para comprar bilhetes, aceder a listagens de hotéis e comparar preços. “Construímos coisas que providenciavam informação em redor do negócio”. Vieram, entretanto, os tempos em que o software conseguiu mudar indústrias inteiras, e aqui entra o Netflix, a Uber, a Tesla ou a Airbnb.

“Houve uma reconfiguração da forma como todas estas indústrias funcionavam e os seus modelos de negócio ou o tipo de serviço que prestavam em primeiro lugar”.

Benedict Evans ilustra ainda mais a ideia ao dar como exemplo o surgimento do avião ou do carro. “Os primeiros 50 anos são sobre o que é um carro, como funciona, para que serve. Os segundos 50 anos são sobre o que acontece quando toda a gente tem um carro”. O mesmo acontece com a tecnologia, sublinhou.

“Estamos à espera de uma nova mudança geracional que pode ser VR, IA ou criptomoeda. O que acontecerá quando toda a gente tiver computador?”.

O analista deixou uma última referência: em 1995 o online dating - conhecer pessoas através da internet - era praticamente uma piada, quando atualmente 40 a 50% das relações nos Estados Unidos começam online. “Um exemplo de algo que começou por ser curioso e que se está a transformar em algo que faz parte da forma como vivemos as nossas vidas”.

Veja as imagens captadas pela equipa do SAPO TEK que dão uma perspetiva por dentro do Web Summit

4 dias de agenda cheia

O Web Summit 2021 começou ontem com uma sessão de abertura onde as startups subiram ao palco mas onde a notícia principal foi Frances Hugen, a denunciante do Facebook que tem acusado a rede social de adotar práticas nocivas em favor do lucro financeiro. Também Carlos Moedas e o ministro Pedro Siza Vieira estiveram em palco para promover o empreendedorismo em Portugal e acolher as startups que se queiram instalar no país. O novo presidente da Câmara de Lisboa anunciou a criação de uma "fábrica de startups" para 2022.

Este é só o início do Web Summit, e de uma agenda cheia. No SAPO TEK, já tínhamos dado a conhecer 10 oradores que vale a pena ouvir no Web Summit 2021 e para ajudar a compor a sua agenda para o evento, destacamos ainda algumas das talks que deve apontar no calendário, e que poderá também consultar ao detalhe no website do Web Summit, ou na própria aplicação do evento.

Clique nas imagens para conhecer algumas talks que vale a pena acompanhar no Web Summit 2021

Dia 2 de novembro

Fora dos ecrãs, a atriz e comediante Amy Poehler tem vindo a trabalhar para ajudar jovens mulheres a tornarem-se líderes e, nesta sessão marcada no palco central do Web Summit, dará a conhecer mais sobre a forma como podemos dar mais poder às gerações futuras.

Ao longo dos últimos anos, a Cloud mudou significativamente o mundo em que vivemos. Nesta sessão, Werner Vogels, CTO da Amazon, apresenta o exemplo da AWS, detalhando a forma como evoluiu ao longo do tempo, começando por operar apenas alguns serviços em certas regiões e passando a levar a tecnologia na “nuvem” a quase todos os cantos do mundo.

Dia 3 de novembro

O lançamento oficial da European Startups Nations Alliance (ESNA) está em destaque no palco central do Web Summit, numa sessão liderada por Pedro Siza Vieira, Ministro da Economia. Apresentada neste ano, a ESNA, onde Portugal apresenta um papel de destaque, afirma-se como um passo essencial para tornar o ecossistema europeu de empreendedorismo mais competitivo.

A pandemia de COVID-19 pôs a “nu” as disparidades que existem no mundo, incluindo no acesso ao digital, que se tornou numa ferramenta fundamental para manter a vida a funcional no “novo normal”. Será possível atingir uma maior equidade digital entre países? É esta a pergunta a que Brad Smith, presidente da Microsoft, se propõe a responder nesta sessão.

O desenvolvimento do metaverso é um dos novos objetivos do Facebook, que, ainda na semana passada mudou de identidade, passando a chamar-se Meta, refletindo os seus novos propósitos. Nesta sessão, Chris Cox, CTO da empresa, dará a conhecer um pouco mais do que podemos esperar do metaverso e sobre a forma como promete transformar as nossas vidas.

Dia 4 de novembro

Estaremos a entrar na época áurea da tecnologia europeia? Embora a Europa tenha apenas um décimo de todos os “unicórnios”, com as empresas dos Estados Unidos e China a liderarem nesta categoria, há potencial para ter um papel ainda mais relevante no ecossistema tecnológico global. Nesta sessão, António Dias Martins, CEO da Startup Portugal, e Kat Borlongan, Founding Member da Scale-Up Europe, darão a conhecer o que será necessário para a Europa atingir o seu potencial.

A sustentabilidade e a luta contra as alterações climáticas também fazem parte das temáticas em debate no Web Summit 2021. Patrick Brown, CEO da Impossible Foods, sobe ao palco central para uma sessão acerca da forma como a redução do consumo de produtos animais e a escolha de uma alimentação à base de plantas pode ser uma das formas mais poderosas de pôr um travão nas alterações climáticas.

O “pai” da World Wide Web está de regresso ao Web Summit para uma sessão centrada no uso desregrado de dados. Acompanhado por John Bruce, CEO e cofundador da Inrupt, Tim Berners-Lee, também cofundador e CTO da empresa, deixará um apelo aos governantes um pouco por todo o mundo, focando-se na forma como será possível catalisar a próxima era da web.

Deixe também na caixa de comentários outras sugestões e acompanhe o trabalho do SAPO TEK no Web Summit através do dossier dedicado à conferência.