No estudo “Jornalistas e Inteligência Artificial: perceções, práticas, desafios e oportunidades”, apresentado hoje na Universidade Nova de Lisboa, os investigadores Paulo Nuno Vicente, José Sotero, Ana Marta Flores realçam que há uma lacuna significativa entre o potencial transformador da IA e o grau de preparação das empresas de media e profissionais do setor.
Os dados partilhados mostram que 59,5% dos jornalistas inquiridos não têm conhecimentos aprofundados sobre IA e que 83,8% nunca receberam formação sobre este tema, se bem que tenham interesse em adquirir mais conhecimentos.
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Mais de metade dos jornalistas (59,5%) têm preocupações e inseguranças quanto à aplicação de IA no seu setor profissional. 67,6% dos inquiridos reconhecem que a IA vai alterar a natureza de algumas funções, mas que surgirão também novas profissões no setor.
O risco de substituição do jornalismo pelas práticas e soluções desenvolvidas pelas grandes tecnológicas é uma preocupação partilhada por 74,3% dos jornalistas que participaram neste estudo.
A falta de transparência relativamente à utilização de conteúdos para treino de IA é outra das preocupações assinaladas. 74,3% dos jornalistas desconhecem se as empresas onde trabalham permitem que os conteúdos criados sejam utilizados por terceiros para treinar modelos de IA generativa
Uma resposta coordenada aos crescentes desafios
Os autores do estudo reconhecem que a crescente integração de IA traz oportunidades, mas também desafios complexos, o que exige uma resposta coordenada para “garantir que a transformação digital seja acompanhada de medidas que promovam a qualificação dos profissionais, a proteção dos direitos autorais e a adoção de práticas éticas”, realçam os investigadores. Nesse sentido, o estudo apresenta um conjunto de recomendações em áreas-chave para empresas de media, organizações profissionais e entidades estatais.
Para abordar o problema do défice de conhecimento é recomendado às empresas de media que invistam em programas de formação contínua sobre IA. As organizações profissionais devem desenvolver guias e recursos educativos sobre a tecnologia, apostando também na promoção de eventos como seminários e conferências. Já às entidades estatais é recomendado que criem incentivos financeiros ou subsídios para apoiar programas de formação especializados para jornalistas.
Mapear funções que serão impactadas pela IA e antecipar necessidades futuras, de modo a promover a requalificação dos profissionais, é uma das recomendações feitas às empresas de media para abordar os desafios da transformação do mercado de trabalho. As organizações profissionais devem criar parcerias com instituições académicas e tecnológicas para desenvolver programas de capacitação e as entidades estatais devem implementar políticas de apoio à transição digital no jornalismo.
Quanto a diretrizes sobre IA, a recomendação para as empresas de media passa pelo desenvolvimento e implementação de “estratégias editoriais robustas e diretrizes específicas” para o uso da tecnologia, sem esquecer a colaboração com jornalistas e entidades académicas. Às organizações profissionais é recomendado que elaborem um conjunto de boas práticas que sirvam de referência para o setor e às entidades estatais que promovam “normativas que exijam transparência e responsabilidade no uso de IA”.
Apostar na criação de conteúdos que reforcem a identidade editorial e a relação com os leitores é a recomendação às empresas de media para abordarem os desafios do jornalismo face às Big Tech. Neste âmbito, o estudo recomenda também que as organizações profissionais lancem campanhas de sensibilização sobre a importância de um jornalismo ético e independente e que as entidades estatais regulem a utilização da IA por grandes empresas tecnológicas para assegurar que os direitos dos jornalistas e meios de comunicação são respeitados.
Por fim, quanto à utilização de conteúdos para treino de IA, as empresas de media devem definir políticas claras sobre a partilha de conteúdos com terceiros para proteger a propriedade intelectual. As organizações profissionais necessitam de “fornecer apoio jurídico aos jornalistas para compreenderem e negociarem questões relacionadas” com este tema e as entidades estatais devem estabelecer regulamentações que protejam os direitos de autor no contexto do treino de IA generativa, indica o estudo.
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