Este ano terão sido entregues às escolas cerca de 450 mil computadores, nos vários níveis de ensino, um número que o Ministério da Educação tem vindo a divulgar e que deu prioridade a alunos do escalão da Ação Social Escolar e a docentes. Com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) este número vai ser reforçado e chegar a 1 milhão, estando a decorrer um concurso para compra de mais 600 mil computadores que se espera cheguem às escolas no próximo ano letivo.

São kits que incluem computador, acesso à internet, uma mochila e auscultadores, e que fazem parte de um plano para transformar o acesso a ferramentas digitais, na medida Escola Digital, e que prevê também outras iniciativas, como o reforço da conetividade interna e externa das escolas, a criação de Laboratórios de Educação Digital, e a desmaterialização de processos de avaliação, entre outros.

A distribuição de equipamentos aos alunos mais carenciados foi aplaudida pelas escolas e educadores, mas também criticada por ter chegado tarde, já depois do primeiro confinamento em 2020, como também sublinhou um relatório do Tribunal de Contas. Nas escolas, a sobrecarga de preparar todo o processo logístico de entrega dos equipamentos aos alunos, com a exigência de introdução de dados, assinatura de documentos e explicação das responsabilidades envolvidas aos encarregados de educação, foi também vista como um trabalho adicional, apesar do reconhecimento da importância da medida.

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Com o fim do ciclo do ano letivo de 2020/21, os alunos que mudam de escola ou que terminam o ciclo de estudos – no 4º ano, 9º ano e 12º ano – têm de devolver os equipamentos às escolas para que sejam recondicionados e preparados para serem usados no próximo ano letivo, e isso é um trabalho que está mais uma vez a sobrecarregar as equipas.

Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), reconheceu ao SAPO TEK que é um processo “muito trabalhoso”. “É necessário verificar o estado do Kit atribuído e reconfigurar o computador, na presença do EE, posteriormente é necessário atualizar a informação na plataforma da Escola Digital”, explica, indicando que os equipamentos ficam depois disponíveis na plataforma para nova entrega e são, entretanto, guardados num local seguro.

As escolas estão a optar por agendar as recolhas, e o processo de recondicionamento é feito pelos professores de TIC, com ajuda de assistentes operacionais, e os recursos são escassos.

“Só recebemos os computadores dos alunos que mudam de ciclo e que mudam de escola. Só, mas são centenas e computadores por cada escola”, lembra o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira.

Isto somado à recolha dos manuais escolares é “uma brutalidade”, afirma o responsável pela ANDE que também é diretor do agrupamento de Cinfães. “No agrupamento recebemos cerca de 250 computadores. São muitas horas de trabalho porque é preciso reavaliar, limpar e preparar para reatribuir”, adianta, lembrando que tem de se formatar, retirar as palavras passe e fazer manutenções várias que muitas vezes são realizadas com dinheiro da bolsa disponível nas escolas, mas que serve para quase nada.

Computadores a precisar de reparação

O acordo assinado pelos encarregados de educação para a entrega dos computadores previa que danos existentes por descuido ou má utilização deveriam ser reparados antes da entrega, ou a reparação ficaria a custo dos utilizadores dos equipamentos. Mas esta é uma questão que está a ser difícil de resolver para algumas escolas onde o SAPO TEK sabe que foram entregues PCs com ecrãs partidos, danos nos chassi e teclado e auscultadores danificados, e onde os próprios professores admitem que vai ser difícil conseguir recuperar o valor das reparações necessárias.

O Ministério da Educação confirmou ao SAPO TEK, a 21 de julho, que existiam cerca de 800 computadores em reparação, e que estes seriam redistribuídos pelos alunos e/ou professores, conforme cada caso, normalmente dentro do mesmo agrupamento escolar.  “Estas situações de avarias ou inconformidades com os equipamentos são globalmente geridas pelas escolas”, adianta fonte do Ministério.

Os diretores de escolas contactados pelo SAPO TEK revelaram que não têm conhecimento direto de grandes problemas, que são mais frequentes em algumas zonas de escolas mais problemáticas.

Manuel Pereira diz que no caso do agrupamento que dirige não há casos graves de danos. “Alguns estão mais mal cuidados, mas sem grandes avarias”, justifica, dizendo também que não houve muito tempo para estragarem os equipamentos porque alguns foram entregues em março.

Mesmo assim admite que haverá casos mais complicados em algumas zonas e famílias menos estruturadas. “As escolas são o reflexo da comunidade”, justifica.

São necessários mais técnicos de informática nas escolas

A chegada de mais computadores às escolas é vista por Filinto Lima com um misto de satisfação e preocupação. “Quase num ápice, passaremos do 8 para o 80 em termos de material digital nas escolas (e em casa dos alunos, através dos contratos de comodato celebrados)”, justifica, lembrando que “emerge a necessidade do Ministério da Educação autorizar as escolas a contratar técnicos de informática para a manutenção dos computadores”, um alerta que o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) já tinha feito no ano passado.

A Associação Nacional de Professores de Informática (ANPRI) já tinha alertado para aquilo que considera ser uma ausência de estratégia do Governo para distribuição, apoio e manutenção dos computadores.

"Relembre-se que as escolas, salvo raras exceções, não têm técnicos de Informática e no final da aquisição e entrega dos KITs Equipamento e Conectividade os agrupamentos de escolas ou escolas não agrupadas mais pequenos terão cerca de 1000 computadores e os maiores mais de 3000 à sua responsabilidade", indica uma posição pública, assinada por Fernanda Ledesma, da ANPRI.

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