De acordo com a equipa, que publicou as conclusões do seu estudo na revista científica Geophysical Research Letters, a descoberta foi feita ao longo de um período de 10 horas de observação, a 29 de novembro de 2024, com recurso ao instrumento NIRSpec (Near Infrared Spectrograph) do telescópio James Webb.

Os cientistas tinham como objetivo detetar emissões de iões de hidrogénio, moléculas que desempenham um papel importante nas reações que ocorrem na atmosfera de Saturno e podem revelar pistas valiosas sobre estes processos, no espetro de luz infravermelha.

Não perca nenhuma notícia importante da atualidade de tecnologia e acompanhe tudo em tek.sapo.pt

Com o NIRSpec foi possível observar estas moléculas na ionosfera, a cerca de 1.100 quilómetros da superfície nominal de Saturno, mas também moléculas de metano na estratosfera, a uma altitude de 600 quilómetros. 

Foi precisamente na ionosfera que a equipa detetou um conjunto de manchas escuras, com um formato semelhante a contas, integradas em auroras. As estruturas mantiveram-se estáveis durante várias horas, mas deslocavam-se lentamente após períodos mais longos.

A cerca de 500 quilómetros mais abaixo, a equipa encontrou uma estrutura assimétrica em forma de estrela, com apenas quatro dos seus “braços” visíveis. O padrão invulgar estende-se desde o polo norte do planeta em direção ao seu equador.

Clique nas imagens para ver com mais detalhe

Tom Stallard, professor na Universidade de Northumbria e um dos principais autores do estudo, detalha em comunicado que as camadas superiores da atmosfera de Saturno têm vindo a revelar-se “incrivelmente difíceis de estudar com os telescópios e missões que temos até à data, devido às emissões extremamente fracas desta região”.

O investigador realça que a sensibilidade do telescópio James Webb transformou a capacidade que os astrónomos tinham de observar estas camadas atmosféricas, revelando estruturas nunca antes vistas no planeta.

Ao mapearem as localizações exatas dos padrões e estruturas detetados, a equipa descobriu que se sobrepunham na mesma região, mas em diferentes níveis da atmosfera.

Os “braços” da estrela parecem emanar de pontos situados acima das extremidades da tempestade hexagonal que existe em Saturno. Os investigadores sugerem que os processos por trás destes padrões podem estar a influenciar uma coluna que atravessa toda a atmosfera do planeta.

Maior lua de Saturno tem oscilações misteriosas na atmosfera com a mudança de estações
Maior lua de Saturno tem oscilações misteriosas na atmosfera com a mudança de estações
Ver artigo

As manchas escuras poderão resultar de “interações complexas entre a magnetosfera e a atmosfera em rotação de Saturno”, o que poderá trazer novas pistas sobre a troca de energia que “alimenta” as auroras do planeta,  explica Tom Stallard.

Já o padrão em forma de estrela assimétrica sugere a existência de processos atmosféricos até agora desconhecidos na atmosfera de Saturno e que podem estar ligados à tempestade hexagonal.

Embora a descoberta possa ter um impacto significativo na compreensão das dinâmicas atmosféricas em planetas gasosos de grandes dimensões, ainda é necessário mais trabalho para explicar a sua causa. 

Nesse sentido, a equipa espera que futuras observações com o telescópio James Webb possam ajudar. Com o planeta no seu equinócio, que ocorre a cada 15 anos terrestres, as estruturas podem mudar dramaticamente à medida que a orientação do planeta em relação ao Sol muda.