Num novo teste, realizado em julho, a NASA demonstrou como a Inteligência Artificial pode transformar a forma como os satélites recolhem dados. Pela primeira vez, a tecnologia permitiu a um satélite de observação da Terra prever o que iria encontrar na sua órbita, analisar imagens em tempo real e decidir, de maneira autónoma, para onde apontar os seus sensores.

O sistema, chamado Dynamic Targeting, está a ser desenvolvido há mais de uma década pelos especialistas do Jet Propulsion Laboratory (JPL) da NASA. Como explica Steve Chien, especialista em IA no JPL, a ideia é fazer com que os satélites “se comportem mais como humanos”. “Em vez de apenas verem dados, queremos que pensem sobre o que significam e como devem reagir”.

“Quando uma pessoa observa uma imagem de árvores a arder, percebe que pode estar a ocorrer um incêndio florestal, não se limita a ver um conjunto de pixels vermelhos e laranja”, indica. “Queremos dar aos satélites a mesma capacidade, para que consigam dizer «isto é um incêndio» e apontam os seus sensores para o fogo”.

O primeiro teste à tecnologia não teve como objetivo detetar incêndios ou tempestades, mas sim enfrentar um obstáculo importante. Para os satélites de observação da Terra equipados com sensores óticos, as nuvens acabam por bloquear a visão até dois terços do tempo em que operam.

Para ultrapassar este obstáculo, o sistema Dynamic Targeting permite “olhar” até 500 quilómetros à frente na órbita e distinguir entre céu limpo ou coberto. Se o céu estiver limpo, o satélite capta imagens quando passar pela zona. Caso contrário, a captação de imagens é automaticamente cancelada, poupando espaço de armazenamento de dados.

NASA | Como funciona o sistema Dynamic Targeting?
NASA | Como funciona o sistema Dynamic Targeting? créditos: NASA/JPL-Caltech

Os testes estão a ser realizados com o CogniSAT-6, um pequeno satélite que pertence à categoria de CubeSats, que partiu para o Espaço em março de 2024. O satélite, construído e operado pela Open Cosmos, está equipado com um processador de IA desenvolvido pela Ubotica.

Em 2022, a equipa de cientistas já tinha testado algoritmos semelhantes numa experiência a bordo da Estação Espacial Internacional, usando o mesmo tipo de processador, tendo obtido resultados positivos.

Neste caso, o CogniSAT-6 inclina-se para a frente, num ângulo de 40 a 50 graus, para apontar o seu sensor óptico e recolher imagens. Os algoritmos analisam as imagens recolhidas e, a partir daí, o sistema Dynamic Targeting decide onde apontar o sensor para encontrar zonas livres de nuvens.

Depois, o satélite volta a mudar de posição, captando a imagem planeada. Segundo a NASA, todo o processo acontece num intervalo de 60 a 90 segundos, enquanto o satélite viaja na órbita baixa da Terra a uma velocidade de quase 27 mil quilómetros por hora.

Agora, os cientistas vão usar o sistema para procurar por tempestades e fenómenos climáticos extremos. Está também previsto outro teste focado na deteção de anomalias térmicas, incluindo incêndios ou erupções de vulcões.

Além de missões de observação terrestre, a NASA ambiciona usar a tecnologia para explorar outros elementos do Sistema Solar, inspirando-se em experiências anteriores da equipa com dados da missão Rosetta da Agência Espacial Europeia (ESA).