A Europa tem a “estratégia de biodiversidade mais ambiciosa do mundo” por várias razões, uma delas é o facto de ter metas quantificadas, que podem mostrar preto no branco se estamos ou não a fazer os avançados definidos.

Este posicionamento foi delineado “depois do pacto ecológico ter explicitado que a Europa devia liderar na estratégia da biodiversidade, como fez para as alterações climáticas”, frisou ao SAPO TEK Humberto Rosa, à margem do Digital with Purpose Global Summit, onde participou e onde lançou a afirmação.

“A liderança europeia faz-se pelo exemplo e isso motivou uma estratégia de biodiversidade muito ambiciosa, inclusive quanto a metas quantificadas”, admitiu o diretor da direção geral de Ambiente da Comissão Europeia. Até 2030, a Europa quer ter 30% de áreas protegidas em mar e terra, um terço das quais sobre proteção estrita; reduzir o risco e uso de pesticidas ou a perda de nutrientes em 50%, entre outros. “Vimos em estratégias anteriores que o que se alcançava era o que estava quantificado, como aconteceu por exemplo as áreas protegidas, enquanto outros objetivos genéricos e sem uma data clara ficavam para trás”, ilustrou.

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Digital with Purpose créditos: SAPOTEK

Não é um posicionamento novo para a Europa, o de ambicionar traçar as regras que o resto do mundo vai observar em áreas críticas. A região está a tentar fazê-lo também no domínio da inteligência artificial, com mais regulação do que em qualquer outra parte do globo. Vale a pena? Humberto Rosa acredita que sim. “A UE é há muito o bloco mais ambicioso em política climática. Quer isto dizer que atingimos tudo o que nos propusemos? provavelmente não, mas ter essas metas ambiciosas ajuda seguramente à ação e estas políticas avançadas vão-nos ajudando a ser o farol do mundo”.

Um exemplo que destaca é o da polémica lei do restauro da natureza, única no mundo e a primeira a definir metas quantificadas de restauro de ecossistemas de vários tipos, sejam florestais, agrícolas, marinhos e outros. “Está aprovada, o regulamento vai ser publicado em breve e vai despoletar um conjunto de iniciativas nos Estados-membros e nos planos nacionais de restauro”.

Olhando para Portugal, Humberto Rosa, acredita que “há condições para o país fazer o seu trabalho nesta matéria” e identifica três frentes de interesse nacional claro. Antecipa que é um bom instrumento para promover a prevenção de fogos florestais - através da promoção da biodiversidade no restauro dos ecossistemas que ardem. Vai contribuir para preservar a pesca, com a introdução de zonas restritas e, numa vertente urbana, vai obrigar as cidades ao planeamento de infraestruturas verdes, áreas permeáveis e outras medidas que vão contribuir para melhorar a qualidade de vida e responder melhor a fenómenos extremos.
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Tecnologia é central nessa mudança e ferramentas inovadoras de financiamento que a UE está a desenhar também lá querem chegar

Para pôr no terreno a estratégia europeia para a biodiversidade, o financiamento público vai continuar a ser fundamental mas não vai chegar. “Para estas questões do restauro, conservação e recuperação da biodiversidade não vai bastar dinheiro público”, confirma Humberto Rosa.

A Comissão Europeia tem vindo a estudar outros mecanismos de financiamento, que ajudem a atrair o sector privado para a causa. Garantir retorno dos investimentos realizados é a condição essencial para incentivar o interesse em projetos de diferentes áreas e a UE, como outras regiões do globo, está por isso a olhar com atenção para o modelo dos créditos de carbono e a tentar encontrar uma forma de o replicar aqui. Humberto Rosa falou disso mesmo na apresentação em que participou durante a conferência.

“Um dos instrumentos inovadores que estamos a estudar é criar, tal como existe a certificação de créditos de carbono, uma metodologia para uma certificação também na área da biodiversidade”.

As empresas que fizerem investimentos numa determinada área vão poder usar essa ferramenta para certificar que daí resultou um ganho para a biodiversidade. Se esse crédito tiver um valor económico é um aliciente para o investimento privado.

Desempenhando a tecnologia um papel fundamental na promoção da biodiversidade, com sistemas e aplicações que vão ser usados em quase todas as áreas para implementar ou monitorizar projetos, o Humberto Rosa admite que estes novos instrumentos de financiamento possam interessar e beneficiar muito também empresas do sector. O facto de a ESA ter identificado a biodiversidade como área prioritário é um bom exemplo de como a tecnologia vai ser fundamental na promoção da biodiversidade, sublinhou.

O responsável europeu participou num painel da conferência onde também estiveram Massimo Labra, diretor científico do National Biodiversity Future Center, criado em Itália há dois anos. Nasceu com a revisão da constituição, que passou a prever a preservação da biodiversidade e agrega iniciativas e programas em oito áreas relacionadas com o tema.

Kate Meyer, fundadora e CEO da Planetary Accounting, apresentou no mesmo painel a plataforma que a organização tem vindo a desenvolver e que vai permitir classificar a pegada ambiental de um produto muito além daquilo que se faz hoje, mostrando de que forma isso impacta diferentes recursos do planeta. A ferramenta chama-se Planetary Facts.

O SAPO TEK é Media Partner do Digital with Purpose Global Summit 2024 e pode acompanhar tudo no dossier que criámos.