Dependendo da nossa posição e velocidade, o tempo pode passar mais rápido ou mais devagar em relação aos demais num outro local e altura. Para os astronautas da Estação Espacial Internacional (ISS), isso significa envelhecer ligeiramente mais devagar do que as pessoas na Terra.

Tal acontece por causa dos efeitos de dilatação do tempo. Primeiro, o tempo parece mover-se mais devagar próximo de objetos massivos, porque a força gravitacional do objeto duplica o espaço-tempo. Chama-se ao fenómeno "dilatação do tempo gravitacional" o que, resumidamente, significa que o tempo se move mais devagar à medida que a gravidade aumenta. É por isso que o tempo passa mais devagar para objetos mais próximos do centro da Terra, onde a gravidade é mais forte. Convém sublinhar que o efeito acontece numa escala muito pequena.

Há um segundo fator a que se chama "dilatação do tempo de velocidade relativa", em que o tempo se move mais devagar à medida que nos movemos mais rápido. Por exemplo, ter dois gémeos, em que um segue numa nave espacial, viajando próximo da velocidade da luz, e o outro fica na Terra. Quando o “gémeo espacial” regressa envelheceu apenas alguns anos, enquanto o irmão "terrestre" envelheceu mais de uma década.

Tal experiência nunca foi realizada, mas há evidências que apontam nesse sentido. Já foi lançado um relógio atómico em órbita - mantendo um relógio idêntico na Terra - que regressou ligeiramente atrasado face ao seu congénere terrestre.

As coisas podem ganhar ainda mais “dimensão” quando a dilatação do tempo gravitacional e a dilatação do tempo da velocidade relativa se juntam. Uma boa maneira de exemplificar a situação é considerar os astronautas que vivem na Estação Espacial Internacional.

Veja as imagens que fazem da ISS uma "casa" muito espacial para os astronautas

Atualmente, as tripulações que vivem e trabalham a bordo da ISS, orbitando a Terra a cada 90 minutos, de acordo com a NASA, pairam a pouco mais de 418 quilómetros, onde a atração gravitacional do planeta é mais fraca do que na superfície. Isso significa que o tempo acelera para eles em relação a quem esteja em solo terrestre. Por outro lado, a ISS também está a girar a cerca de oito quilómetros por segundo em redor da Terra e tal significa que o tempo acaba por desacelerar para os astronautas.

Uma vez que a dilatação do tempo de velocidade relativa tem um efeito maior do que a dilatação do tempo gravitacional, quem está na Estação Espacial acaba por envelhecer mais lentamente do que as pessoas que estão por cá.

O esforço pode, no entanto, não compensar, já que a diferença é mínima: passar seis meses na ISS equivale a envelhecer menos 0,005 segundos. Isso significa que, quando o ex-astronauta da NASA Scott Kelly regressou da sua estadia de um ano na ISS, em 2016, era tecnicamente 0,01 segundos mais novo do que o seu irmão gémeo Mark Kelly, que ficou na Terra.

Recorde-se que, além de mais novo, Scott Kelly também terá regressado mais alto. Durante os 340 dias que passou a bordo da Estação Espacial Europeia o astronauta norte-americano terá crescido duas polegadas, o equivalente a 5,08 centímetros. Isto porque na ausência de gravidade a coluna vertebral tem tendência para alongar-se.

Além disso, Scott Kelly ficou conhecido por reunir um largo álbum de imagens, que publicou nas suas redes sociais. Veja algumas das últimas fotos registadas e muitas das entretanto publicadas ao longo do tempo passado pelo astronauta a bordo da ISS.

Clique nas imagens para mais detalhes 

Refira-se que um outro astronauta norte-americano, Mark Vande Hei, já bateu, entretanto, o recorde de Scott Kelly na NASA de maior número de dias seguidos no Espaço - 355 dias - e, pelo feito, foi alvo de experiências durante a estadia na ISS e depois em Terra.

Além da possibilidade de se ficar mais novo e mais alto, sabe-se que estar no espaço por um período de tempo prolongado pode levar ao desenvolvimento de problemas cardiovasculares e perturbações de sono, que estarão relacionados com as mitocôndrias.