Em setembro de 2022, e pela primeira vez na história, uma sonda chocou de propósito contra um asteroide. A missão suicida DART foi bem-sucedida, mas falta perceber se teve o feito desejado, no derradeiro objetivo de defender a Terra, pela capacidade de alterar a rota de um asteroide no espaço. Essa parte é da responsabilidade da ESA.

Estima-se que a missão da agência espacial europeia para analisar os resultados do impacto da DART em Dimorphos, denominada Hera, comece em 2024. O estudo detalhado vai permitir compreender o que realmente aconteceu e contribuir para melhorar a técnica, para replicá-la com maior sucesso, se necessário.

Clique nas imagens para mais detalhes sobre a partida da missão DART para o Espaço

Entre os principais protagonistas da Hera está uma antena que transmitirá as primeiras imagens em close-up do distante asteroide Dimorphos, desde que sua órbita foi alterada pelo choque com a DART. Denominada High Gain Antenna, passou recentemente por um conjunto de testes durante uma semana, segundo relata a ESA, levados a cabo no Compact Antenna Test Range (CATR), localizado nos Países Baixos.

As paredes metálicas do CATR isolam os sinais de rádio externos, enquanto o seu interior revestido de espuma absorve os sinais de rádio para evitar reflexos e reproduzir o vazio do espaço. Cada uma das sessões de teste levou mais de 10 horas, com a antena girada um grau por vez para criar uma imagem de 360 graus da forma detalhada do sinal da antena.

Os engenheiros da ESA explicam que a High Gain Antenna é crucial na missão, uma vez que é o único meio de receber dados e enviar comandos com o volume necessário. A antena também realizará ciência por si só, mas para que a experiência científica de rádio funcione bem, o sinal da antena necessitará de permanecer estável ao longo do tempo, o que significa que a própria antena deve manter a sua forma geométrica com muita precisão.

O refletor da antena é feito de fibra de carbono, tornando-a muito estável e resistente a temperaturas extremas e a outros desafios ambientais no geral. Com uma massa de apenas 7,5kg, é uma versão em escala de um modelo menor produzido para o observatório Euclid, que irá operar a 1,5 milhões de quilómetros da Terra. No entanto a antena da Hera terá de cobrir uma distância muito maior transmitindo e recebendo dados até 400 milhões de quilómetros.

Localizada no exterior da nave espacial, a High Gain Antenna é especialmente sensível a acelerações durante o lançamento e às altas e baixas temperaturas experimentadas no espaço - para maior proteção contra estas últimas, vai voar coberta por um protetor solar Kapton-Germânio que fornece isolamento térmico, mas que permite que as ondas de rádio passem na mesma.

A próxima fase inclui testes de vibração, para reproduzir as tensões de lançamento, seguidos de testes de “vácuo térmico”, para simular temperaturas extremas. Esta Primavera será apurado se esses testes ambientais não prejudicaram o desempenho de radiofrequência da antena.

Recorde-se que o lançamento da missão HERA está previsto para 2024, com chegada ao destino dois anos depois.

O “contributo” da agência espacial europeia na missão de defesa planetária conjunta com a NASA e o AIDA (Asteroid Impact Deflection Assessment) conta com a participação das portuguesas GMV, Efacec e Synopsis Planet, que serão responsáveis pelo desenvolvimento de alguns dos elementos fundamentais para o sucesso da missão, assim como com a participação de um professor e investigador da Universidade de Évora.

GMV Portugal é responsável por desenvolver um dos sistemas da sonda, o GNC - Guiamento, Navegação e Controlo, que permite a condução do veículo em trajetórias no complexo e desconhecido ambiente de proximidade do sistema de asteroides.

“A equipa em Portugal, especificamente, ficou com a responsabilidade do desenho das trajetórias, desenho do sistema de controlo de manobra e contribuição para o sistema de deteção e recuperação de falhas da sonda”, referiu fonte da GMV ao SAPO TeK.

contribuição da Efacec para a HERA, por sua vez, traduz-se no PALT (Planetary ALTimeter). Para o desenvolver, a empresa lidera um consórcio composto por mais uma empresa portuguesa, a Synopsis Planet, duas empresas romenas (Efacec-Roménia e INOE) e uma empresa da Letónia (Eventech).

Synopsis Planet, spin-off da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, vai desenvolver o laser microchip do altímetro da Efacec, além de participar na criação do front-end ótico.

De referir que nenhum asteroide está atualmente em rota de colisão direta com a Terra, mas existem mais de 27.000 asteroides “no radar” do planeta azul, de diferentes formatos e tamanhos.