Tim Cook, atual CEO da Apple, é da opinião de que as pessoas passam demasiado tempo no telefone. O responsável máximo da gigante tecnológica esteve presente na TIME 100 Summit para discutir a natureza aditiva dos equipamentos móveis e o papel da sua empresa no fenómeno, e afirmou que nunca foi intenção da marca da maçã fazer com que os utilizadores estivessem constantemente focadas no iPhone. Muito recentemente, o próprio fez questão de silenciar as notificações do seu telefone.

"A Apple nunca quis amplificar o tempo de utilização do telefone. A nossa intenção nunca foi essa", explicou Cook. Na imprensa internacional, a afirmação ressoou, especialmente quando é emitida pelo CEO de uma empresa que desenhou uma plataforma que permite aos programadores afinarem as suas apps para que estejam em permanente contacto com os users, "seja pela existência de uma nova promoção num produto ou por um nível novo que foi adicionado a um jogo", como escreveu o TechCrunch.

Ao analisarmos a natureza da plataforma de notificações, percebemos facilmente que a mesma é contrastante com a afirmação de Cook. Na prática, esta permite que os programadores captem ativa e sucessivamente a atenção dos utilizadores através de notificações estrategicamente desenhadas para os levar a abrir a respetiva app. Uma alternativa possível a este sistema, sugere o mesmo site, podia incluir um sistema de calendarização de notificações, que as emitiria apenas e só quando o utilizador as solicitasse. E se isto não funcionasse, também não seria difícil idealizar uma versão alternativa com notificações urgentes e outras não tão prioritárias, onde a categorização serviria exatamente para definir que tipo de conteúdo teria peso suficiente para fazer vibrar o telefone, acender o ecrã e emitir um som, ou, por outro lado, aparecer apenas na zona de notificações sem "chamar" o utilizador com qualquer tipo de sinal.

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Atualmente, a Apple não parece ter planos para alterar substancialmente o sistema vigente. Em vez disso, a empresa disponibiliza uma opção mais drástica, que não permite grande ajuste pessoal nas autorizações da app. Falamos de desligar completamente o sistema de notificações push, como Cook assume ter feito há muito pouco tempo. "Se ainda não o fizeram, eu aconselho-vos a fazê-lo - giram as vossas notificações", disse o CEO. "O que eu fiz foi cortar o número de notificações que recebia diariamente", afirmou. "Perguntei a mim mesmo: 'será que preciso mesmo de receber milhares de notificações por dia?' Não é uma coisa que esteja a trazer valor para a minha vida ou a fazer de mim uma pessoa melhor", justificou.

Note que este sistema de notificações foi um dos maiores pontos de venda do iPhone, em 2008. Na verdade, o facto de uma app poder chegar até ao utilizador para lhe comunicar novidades em tempo real, sem que este tenha de se lembrar de abrir a mesma para conferir se existiam, ou não, coisas novas para ver, era uma ideia nova e, na teoria, com potencial para poupar tempo aos consumidores. No entanto, a apropriação do sistema foi quase exclusivamente comercial, abrindo as portas a uma espécie de "abuso psicológico" que manipula o utilizador com uma sequência, por vezes inútil, de notificações. Em consequência, os utilizadores ficaram prontamente agarrados aos seus telefones, para que as novidades caíssem diretamente nas suas mãos. Criou-se o chamado "fear of missing out", que pode ser cruamente traduzido para "medo de ficar de fora", neste caso, dos conteúdos novos que iam surgindo nas suas apps.

Uma década depois do primeiro iPhone, a Apple decidiu criar um primeiro conjunto de ferramentas para que os utilizadores pudessem começar a controlar, ainda que parcialmente, as suas notificações. Estas foram anunciadas no WWDC 2018 e, para além de permitirem o silenciar uma "catadupa" de notificações, contemplam ainda um par de outras funcionalidades, como controlos parentais para utilizadores mais novos e um contador que regista o tempo que passamos no telefone.

"Sempre que pegamos no telefone, significa que estamos a desviar as nossas atenções das coisas com que estamos a trabalhar, das pessoas com que estamos a falar, certo?", disse Cook. "E se estamos a olhar para os nossos telefones, mais tempo do que olhamos uma pessoa nos olhos, é porque estamos a fazer a coisa errada", continuou. "Queremos educar as pessoas neste domínio. Temos de melhorar este processo ao longo do tempo, tal como tudo o que fazemos. Vamos inovar neste área, tal como fazemos nas outras".

"Mas, em resumo, não queremos que as pessoas estejam constantemente a utilizar o seu telefone. Isso nunca foi um objetivo nosso", declarou Tim Cook.