Por Luís Bravo Martins (*)
2,6 mil milhões de dólares depois, a Magic Leap lançou, no início de Agosto, os ML One – Creator Edition, os seus primeiros óculos de Realidade Aumentada – ou como eles preferem dizer, óculos de “spatial computing” (Mais uma buzzword que não fazia falta nenhuma e que felizmente não está a pegar).
Estes óculos são o culminar de um crescendo de expetativa. Um dos primeiros vídeos que promovia o potencial da Magic Leap no Youtube apresentava uma baleia a saltar num ginásio, perante um público entusiasta a aplaudir e… sem óculos. Seguiram-se vídeos com e-mail, post-its e jogos em realidade aumentada onde a resolução dos hologramas criados era, de facto, muito interessante e alimentava o hype. Juntem a isto a cultura de secretismo da empresa, o facto de não terem lançado nenhuma versão do produto em oito anos e estarem avaliados pelos seus acionistas em 6,4 mil milhões de dólares e temos todas as condições para a criação de um culto. O que foi, de alguma forma, mesmo o que se criou.
Nestas primeiras semanas já foram realizados e publicados no Youtube diversos testes e todos apontam para essa mesma expetativa desfeita: afinal, os hologramas surgem numa parcela menor do campo de visão dos óculos; afinal, precisamos mesmo de óculos para os ver; afinal, precisamos de um comando manual para controlar os menus e as experiências; afinal, não são tão distantes dos seus concorrentes mais diretos, os Microsoft Hololens. Mas a verdade é que nenhum dos constrangimentos tecnológicos tem assim tanta importância.
Pela primeira vez, encontramos óculos de Realidade Aumentada no retalho tradicional. Só por si, este facto tem valor. O impacto social disto é tremendo. Temos destaques à Realidade Aumentada nos pontos de venda com comunicação em mass-media e ponto de venda. Mesmo que não esteja ao alcance financeiro de todos, a valorização da realidade aumentada enquanto canal de experiências torna-se visivelmente disponível para todos. Temos espaços privilegiados para a experimentação de realidade aumentada. Milhares e depois milhões de utilizadores poderão interagir com o ML One e sonhar conceitos para aplicarem na sua área profissional. Este é um passo determinante na massificação da tecnologia.
Sobretudo se pensarmos nos investidores nesta empresa. Para além de acionistas puramente tecnológicos, como a Google, encontramos especialistas em comércio eletrónico (Alibaba), cinema (Warner Bros) e televisão (Rede Globo). Aliás, a primeira aparição pública dos ML One aconteceu numa emissão da Rede Globo durante o Mundial de Futebol. Isto alinha diretamente com o discurso oficial de Rony Abovitz, CEO da Magic Leap, que nos aponta a evolução do e-commerce para pop-up stores aumentadas e da televisão para uma experiência hologramática e contextualizada no espaço.
E esta visão não é tão futurista quanto isso, se tivermos em conta que marcas como a Airwalk,
Ou seja, a realidade aumentada irá criar disrupção no retalho, no entretenimento e vai transformar os nossos hábitos de consumo profundamente. Ou seja, vai transformar as nossas vidas.
A par da indústria, o volume de óculos de realidade aumentada continua a crescer – no momento da publicação deste artigo, existem 25 marcas e ainda mais modelos disponíveis, donde alguns já se destacam em áreas como a saúde, a educação ou outros contextos organizacionais.
Dependendo do sucesso do ML One, teremos mais dispositivos à venda no retalho tradicional. Estou certo que esse sucesso vai depender muito das experiências disponíveis, que por sua vez dependem da aposta que agências, estúdios e empresas em construi-las para a Magic Leap. A estratégia de secretismo inicial não ajudou ao conhecimento antecipado das possibilidades da plataforma e muito provavelmente vamos assistir a um momento inicial em que, a par da tecnologia, as soluções disponíveis também serão alvo de crítica, por não serem brutalmente transformadoras. E quando essa crítica e vontade de ter mais e melhor for audível tanto pela indústria como pelas agências, esse será o sinal de que o mercado da Realidade Aumentada está a massificar.
(*) Head of Marketing da IT People e co-presidente do Lisbon Chapter da VRARA.
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