Por Misha Byrne (*)
A mudança está em todo o lado, mas porque é que nos deixa tão nervosos no trabalho? Aplaudimos a inovação mas, secretamente, retraímo-nos quando um novo software aparece no nosso ambiente de trabalho. É engraçado, temos uma relação de amor e ódio com a mudança. A culpa é dos nossos cérebros - estão programados para zonas de conforto.
Atualmente, com a tecnologia a desenvolver-se à velocidade da luz, estamos num mundo em que "a mudança é o novo normal". Lembram-se da altura em que o "negócio como de costume" era o principal? Agora, é mais "surfar a onda tecnológica sem cair".
Líderes, passa-se o seguinte: o vosso trabalho já não se resume a gráficos e reuniões. Trata-se de construir uma equipa que seja como um brinquedo flexível que podemos dobrar e que, de seguida, recupera a forma com um sorriso de satisfação. Estamos na era digital, onde um caminho reto é coisa do passado. O caminho a seguir? Pensem nisto como uma emocionante viagem de montanha-russa em que temos de desfrutar dos altos, preparar-nos para os baixos e, acima de tudo, agarrar-nos bem!
Eis a grande questão: Porque é que nós, os mestres da adaptação, ficamos tão esgotados e perturbados pela mudança no trabalho? Tudo se resume a uma estratégia antiga do nosso cérebro: "Se funciona, não mexas." Por isso, antes de defendermos a próxima grande mudança, vamos saudar os nossos cérebros antigos, compreender as suas peculiaridades e empurrá-los gentilmente para o futuro.
Agora, só para esclarecer a situação: isto não significa que estejamos só a ser teimosos. Na verdade, é uma peculiaridade do software do nosso cérebro.
Vamos voltar atrás. Imaginem os nossos antepassados, a viverem num ambiente selvagem. A lista de tarefas deles? "Evitar ser comido. Encontrar comida. Não tocar naquela planta esquisita". Cada ruído ou sombra desconhecidos era um potencial perigo. Por isso, fazia todo o sentido que os seus cérebros desconfiassem da mudança. É como um sistema de alerta precoce da natureza.
Vamos dar agora uma vista de olhos ao mundo empresarial atual. Em vez de feras selvagens e bagas desconhecidas, temos novas atualizações de software, estruturas de equipa em mudança e estratégias comerciais em evolução. Mas o nosso cérebro continua a tratá-los como aqueles ruídos suspeitos que escutavam nos bosques ancestrais. Por isso, um memorando sobre "reestruturação organizacional" pode ter a mesma reação de arrepiar o coração que avistar um tigre dentes-de-sabre (bem, quase).
Eis a questão: No atual panorama empresarial em rápida evolução, com tecnologias a reinventarem as indústrias e a criarem cenários de "mudança como de costume", a adaptabilidade é algo verdadeiramente valioso. Não se trata apenas de sobreviver; trata-se de prosperar no meio deste turbilhão digital. Líderes? O vosso papel sofreu uma transformação. Além da estratégia e da direção, são agora capitães de um navio em mares tempestuosos e em constante mudança.
Querem mudança sem caos? Experimentem estas dicas para o cérebro:
- Conversar sobre o assunto: A comunicação é fundamental. Ajudem a vossa equipa a ver o panorama geral e os benefícios que a situação acarreta.
- Aperfeiçoar competências: Proporcionem a formação necessária. Quando as vossas equipas têm as ferramentas certas, navegar a mudança torna-se fácil.
- Chamar todos ao convés: Envolvam toda a gente. Quando todos fazem parte do processo, é mais trabalho de equipa e menos amotinação!
Em conclusão, embora a mudança possa parecer assustadora, é na realidade o ingrediente secreto para o crescimento. E embora seja tentador culpar o chefe (ou qualquer outra pessoa, na verdade) por essas mudanças desconfortáveis, lembrem-se de que se trata dos nossos cérebros antigos a tocar as campainhas de alarme. Mas, tal como qualquer software, com alguns ajustes e compreensão, podemos pô-los a funcionar exatamente como queremos.
P.S. Para quem quiser mergulhar mais profundamente nesta fascinante dança entre a mudança e o cérebro, este e outros tópicos semelhantes serão discutidos no próximo “SingularityU Executive 4-day Program”, a decorrer na Nova SBE. Estes estão numa missão para transformar os nossos cérebros relutantes e resistentes à mudança em ávidos recetores de mudança. Porque se os homens das cavernas conseguiram adaptar-se ao fogo, certamente que nós conseguimos lidar com o novo sistema CRM, correto?
(*) Especialista em Neurociência e Desempenho na Faculdade SingularityU Portugal
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