A tecnologia oferece um mundo de possibilidades para promover e concretizar metas de sustentabilidade e criar ecossistemas mais amigos do ambiente, mas para poder tirar partido dela e acelerar políticas que reduzam a nossa pegada ambiental é preciso assegurar o básico: conectividade.
Aquilo que é dado como garantido em muitas regiões do mundo, continua a faltar noutras e a minar todo o trabalho que seria possível fazer se existissem infraestruturas de comunicações ubíquas e resilientes, lembrou-se num dos debates do Digital with Purpose Global Summit.
Em Moçambique por falta de investimento, ou na Ucrânia por causa da destruição da guerra e das restrições dos operadores móveis no acesso às suas estações-base no país, a base para lançar ou desenvolver projetos que possam promover uma gestão mais eficiente dos territórios está comprometida. Isso disseram no painel de debate Cidades inclusivas Manuel de Araújo, presidente da província de Quelimane em Moçambique e Victoria Itskovych, CIO da cidade de Kiev, na Ucrânia. Isso também sublinhou Massamba Thyoie, Project Executive do Climate Change Global Innovation Hub das Nações Unidas: “conectividade disponível em todo o lado e para toda gente é indispensável se queremos atingir as metas a que nos propusemos”.
Para isso, frisou, é também fundamental que os decisores políticos, ao nível das cidades, combinem a tecnologia com políticas que adaptem aquilo que a tecnologia permite a cada contexto particular e isso exige financiamento inovador e colaboração, destacou.
“Se realmente queremos ter inovação com propósito temos de reinventar a inovação em si mesma e a nós próprios. Temos de ter uma inovação orientada para as pessoas, para uma visão. Tem de ser transformadora e colaborativo”. A inovação de hoje não é assim, serve poderes, defendeu também Massamba Thyoie.
Voltando à realidade de Moçambique, Manuel de Araújo lembrou que além das limitações financeiras e de infraestruturas, os países em vias de desenvolvimento enfrentam outros constrangimentos básicos para poder passar das ideias à prática e fazer mais pelo ambiente e pela qualidade de vida das suas populações. Não têm abundância de recursos humanos de qualidade para promover projetos inovadores e atrair os parceiros necessários nem um ambiente económico favorável aos negócios, que possa ajudar a colmatar essa lacuna.
Veja as imagens dos primeiros dias da conferência
O tema da colaboração entre cidades foi igualmente abordado, bem como a sua importância para resolver problemas que, se numa camada superficial podem parecer diferentes para cada região, analisados mais a fundo acabam muitas vezes por ser semelhantes e por ter uma resposta favorecida com trabalho em conjunto, destacou Victoria Itskovych. A CIO de Kiev, que participou no evento a partir da Ucrânia, admitiu os constrangimentos adicionais de uma cidade em guerra, para implementar novas políticas na área da sustentabilidade, mas sublinhando que o trabalho continua também nesta área.
A sensorização da cidade tem sido uma das prioridades e com os dados recolhidos a partir daí é passada informação aos moradores sobre níveis de poluição, concentração de partículas prejudiciais à saúde, entre outros. Esta informação chega a quem mora na capital através de uma app que é usada por 2,5 milhões de pessoas, a esmagadora maioria dos habitantes de Kiev.
Cascais, cidade anfitriã do evento, é uma referência em termos de políticas de sustentabilidade e Luís Capão, presidente da Cascais Ambiente veio dar alguns exemplos do trabalho realizado. O concelho tem investido em força na sensorização, para recolher dados que permitam monitorizar alterações ou identificar padrões relevantes para fenómenos como as cheias, a erosão, os fogos, ou mesmo o risco de tsunami. Com esses dados são alimentados modelos que ajudam os decisores políticos a atuar. Estes dados servem também para fazer comparações com informação mais antiga e identificar alterações importantes.
“Os mapas que conseguimos criar e a ligação destes com diferentes fontes de informação traz-nos novos conhecimentos. Estamos a ligar o conhecimento com tecnologias inovadoras para produzir novos conhecimentos”, destacou Luís Capão, que lembrou a importância de temas como a cibersegurança e a privacidade em todos estes processos de recolha e tratamento de dados digitais.
O SAPO TEK é Media Partner do Digital with Purpose Global Summit 2024 e pode acompanhar tudo no dossier que criámos.
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