No ano em que Portugal assumiu pela primeira vez a presidência da, na altura, Comissão Económica Europeia, entrou ao mesmo tempo na revolução móvel. Uma das principais responsáveis foi a então Telecel hoje, exatamente passadas três décadas, Vodafone Portugal.
Em outubro de 1992, na inauguração oficial do serviço comercial da empresa, foi o primeiro operador móvel privado do mercado, tendo apenas como concorrente a TMN, da incumbente PT. A taxa de penetração do serviço móvel no país era - imagine-se - de 0,3%, o que equivalia a 30.000 clientes.
Era o tempo dos telefones pesados, que não eram móveis e tinham os ecrãs a preto e branco, muitos deles com a limitação de só poderem ser instalados no carro. As aplicações eram ainda uma miragem, as redes sociais uma utopia e o conceito “sempre ligado”, nem sequer era imaginável.
Custavam escudos - ou “contos”, bastantes - em vez de euros e muitas vezes eram tratados como se fossem Walkie-Talkies, com as pessoas a falarem aos gritos, provavelmente as mesmas - ou outras - que chegaram a deitar fora as baterias, como se de pilhas se tratassem, entre muitas histórias caricatas para ler mais à frente.
Entretanto, regressamos a 18 de outubro de 1992, domingo, dia escolhido para a chamada inaugural da rede Telecel protagonizada pelo então Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Joaquim Ferreira do Amaral, na presença do CEO da operadora à altura, António Carrapatoso. Este foi o momento oficial, nas instalações da Avenida de Roma, em Lisboa, mas a prova de fogo aconteceu no dia seguinte. Na época a TMN tinha uma única loja e a Telecel arrancou com três: Faro, Porto e Lisboa.
O início do serviço comercial ao público, exatamente um ano após a atribuição da licença, marcou também o recorde mundial da instalação mais rápida de uma rede GSM, encomendada à Ericsson, que na altura do arranque abrangia 57% do território e a 83% da população nacional.
Pertencentes à categoria de telefones transportáveis, os Motorola 1000, que pesavam quase três quilos cada e custavam 175 mil escudos, transformaram-se no primeiro best-seller da marca. A par estavam o Ericsson GH172, o Nokia 6050 e o Siemens S1 que também se distinguiram pelo difícil e suado transporte. Tambem existiam modelos para fixar aos como o Nokia 6081.
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Era um facto que o mercado de telemóveis se resumia a "poucos e pesados" - também na carteira. Os preços eram elevadíssimos e era comum os clientes que contactavam a Vodafone identificarem-se como sendo "proprietários de um telemóvel".
Na manhã do primeiro dia da loja de Lisboa, no edifício Via Roma, um homem chamado Roberto Pereira entrou, pediu um Motorola 1000 e depressa saiu com o mesmo debaixo do braço, tornando-se o primeiro cliente Telecel
Quando a Telecel arrancou, em outubro de 1992, a taxa de ativação do serviço de telemóvel custava 9.000 escudos e tinha uma mensalidade de 6.500 escudos. O custo das chamadas nacionais de voz era de 72$50 na taxa normal (dias úteis das 08h00 às 20h00) e de 37$50 na taxa reduzida (dias úteis das 20h00 às 08h00, sábados, domingos e feriados).
No final de 1992, a Telecel tinha 7.766 clientes. Um ano depois, em dezembro de 1993, já era líder de mercado. Em 1998, a empresa superou o marco simbólico de 1 milhão de clientes.
No início estranhou-se...
Conta a Vodafone que, no início da venda de telemóveis em Portugal, havia clientes que falavam para o telemóvel com se fosse um Walkie-Talkie, deitavam fora as baterias como se de pilhas se tratassem e, quando “ouviam” silêncio durante a chamada, desligavam porque pensavam que a mesma tinha caído - e foi por isso que passou a colocar-se uma “chuva” em linha.
Entre as histórias caricatas há a famosa “Pin OK”, de um assistente que disse ao cliente que era preciso inserir o PIN e depois fazer OK, ao que o cliente responde: “Ó menina, isso eu já fiz, já pin ok [ler rápido], isto não dá na mesma”.
Outra popular foi a de uma cliente que perdeu o telefone, mas sabia que devia estar em casa. Ligou para o 1212 para fazerem o favor de telefonar-lhe para o telemóvel e assim poder encontrá-lo. O assistente sugeriu que a cliente utilizasse o seu telefone de rede fixa (que está a usar) para ligar para o seu telemóvel, ao que ela responde: “Você não está a perceber. É que o telefone não tem bateria e eu preciso que vocês o carreguem para depois o poder achar”.
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