Três anos depois da atribuição das primeiras licenças 5G começam agora a surgir os desenvolvimentos do 5G SA (standalone), mas são ainda muito incipientes e limitados. Em entrevista ao SAPO TEK, Juan Olivera, CEO da Ericsson Portugal, lembra que a tecnologia 5G (e o seu desenvolvimento) é a única área onde a Europa tem a possibilidade de manter liderança face aos Estados Unidos e China, mas que há o risco de perder esta oportunidade se não houver investimento, também em Portugal.

Os operadores não podem fazer tudo e por isso é importante um plano nacional estratégico, com parcerias público privadas, à semelhança do que foi feito em Espanha e França. “Deve ser um plano transversal, nacional, em sintonia com a indústria”, explica Juan Olivera, afastando a ideia de que terá de ser alinhado pelo ministério das Infraestruturas, da Modernização ou da Economia.

A aposta no 5G Standalone é apontada como crítica e os dados não são positivos. Na Europa a implementação de redes 5G, a cobertura da população e a performance, estão atrás de outras zonas geográficas, e isso é ainda mais visível nas redes SA, que tiram partido do potencial da nova geração de redes móveis e são conhecidas como redes de 5G puro.

5G SA Ookla Julho 24
5G SA Ookla Julho 24 Mapa de redes 5G SA no mundo Fonte:Ookla Julho 24 créditos: Ookla
“É preciso ter 5G para desenvolver a indústria com mais casos de uso de redes standalone […] há muitos testes e laboratórios, o que é positivo, mas o tempo dos trials está a acabar e agora é tempo de uso real”, justifica Juan Olivera.
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O CEO da Ericsson Portugal aponta a análise do Relatório Draghi para sustentar a necessidade de ter operadores fortes, com uma situação financeira estável, competitivos e inovadores, mas não podem fazer tudo. Por isso o caso de Espanha, onde o programa “Espana puede” recorre a fundos públicos para investir na conetividade em áreas rurais, é apontado como um exemplo que está a ter resultados positivos no desenvolvimento do país. 

O executivo da Ericsson Portugal defende que os Governos devem assumir uma posição ambiciosa e eliminar algumas incertezas que existem no mercado, nomeadamente em relação aos custos de licenciamento. E também adotar a tecnologia em áreas “mission critical”, como a segurança e proteção civil, assim como suportar o investimento de grandes empresas em redes privadas.

A Ericsson publicou em julho um documento com 15 recomendações para os Governos sobre a aposta na conetividade, o “A New Deal for Mobile, onde se destaca a necessidade da política industrial, o mercado único e a agenda de sustentabilidade ser sustentada na conetividade para ajudar a reduzir as diferenças da competitividade, inovação e crescimento da Europa face a outras regiões.

“Precisamos de uma nova aposta com o mesmo foco e compromisso que permitiu há 40 anos tornar a Europa líder com o GSM […] existe a capacidade, temos a tecnologia mas é preciso conseguir investimento público e privado para desenvolver as redes e a inovação”, destaca Juan Olivera.