A antiga Birmânia voltou a ser liderada pelos militares, que durante décadas comandaram o país. No último fim-de-semana, a nobel da paz e chefe de Governo Aung San Suu Kyi foi detida, juntamente com vários outros membros do Executivo e o vice-presidente pró-militar foi eleito novo chefe de Estado durante um ano, o mesmo período que vai durar o Estado de Emergência decretado pelos autores do golpe.
Enquanto todos estes acontecimentos decorriam, a Internet no país deixou de estar acessível em algumas zonas e passou a ser difícil de usar noutras, falhas que não foram acidentais.
As comunicações são tradicionalmente um ingrediente importante na organização deste tipo de ataques e a Internet passou a estar no topo dessa lista, pelo poder que hoje tem de levar informação difícil de controlar a qualquer lugar e destinatário.
Numa análise à estratégia que ditou as restrições, a BBC observa que as falhas decorreram sobretudo durante algumas horas, que convergiram com o pico das ações que conduziram ao golpe de Estado. Foram sentidas sobretudo na madrugada de domingo e na manhã seguinte, altura em que era espectável que mais gente procurasse informação sobre os acontecimentos da noite anterior.
Bloqueio às comunicações teve menos sucesso nas grandes cidades
Na manhã de domingo, consoante as zonas, a conectividade caiu 50% face aos valores normais ou chegou mesmo a ser inexistente, deixando poucas dúvidas de que as falhas resultaram de ordens expressas aos operadores locais.
Apurou-se também entretanto, através de serviços de monitorização como o Netblocks, que operadores estatais, como a Posts and Telecommunications, e internacionais como a Telenor tiveram falhas de serviços. Jornalistas locais também denunciavam que “o exército cortou a emissão da televisão e rádios estatais e desativou linhas telefónicas locais e internet por todo o país”, como partilhou no Twitter Wa Lone, jornalista da Reuters.
Outros dados dos serviços internacionais de monitorização de tráfego, como o IP Observatory da Austrália, permitiram ainda perceber que as falhas nos serviços de acesso à internet não foram iguais em todo o lado, refletindo a maior dificuldade do poder político em controlar zonas onde o número de prestadores de serviços é maior, como as grandes cidades. Nas zonas menos desenvolvidas do país, o acesso à internet chegou a ficar completamente bloqueado durante algumas horas.
A dar cobertura aos esforços para controlar o acesso à informação, os militares que retomaram o poder em Myanmar têm uma lei de 2013, que prevê a possibilidade de o Governo ordenar cortes nos serviços de telecomunicações durante um Estado de Emergência, precisamente aquilo que a antiga Birmânia terá de enfrentar durante um ano, a contar do último fim-de-semana.
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