O potencial de Portugal, e mais especificamente de Sines, para se tornar um polo estratégico na economia de dados que é essencial para o desenvolvimento da Economia Digital na Europa foi hoje largamente elogiado na conferência “Encontros na ZILS: Sines Tech, EU-Atlantic Data Gateway Platform”, que decorreu hoje com transmissão online.
A instalação de conectividade através de cabos submarinos, a localização geoestratégica e o acesso a energia abundante e limpa são alguns dos pontos fortes apontados pelos vários intervenientes, que destacaram também o sistema de licenciamento simplificado que está a ser preparado e que Thomas Kuepper, da Comissão Europeia, classifica como inovador e um “game changer” nesta área.
Durante a sua intervenção, o secretário de Estado das Comunicações, Hugo Santos Mendes, defendeu que Portugal deve tirar partido da sua posição estratégica, com o acesso privilegiado ao Atlântico Sul e ao eixo Este/Oeste, e confirmou novos investimentos em cabos submarinos para Portugal, que se juntam ao EllaLink que foi oficialmente ligado em novembro de 2021. “Há mais cabos submarinos internacionais a preparar a sua instalação em Portugal, nos próximos três anos: o Equiano, da Google, 2África, do Facebook, e Medusa, da AFR-IX. E há outros a considerar”, afirmou.
Durante a conferência foi anunciado que o Medusa, da AFR-IX, se prepara para trazer mais 480 terabits para Sines, um investimento com financiamento do BEI e um orçamento de 326 milhões de euros, mas também que a IP Telecom pretende reforçar a conetividade nos próximos três anos.
“Estamos em grande posição para ter um papel chave na nova EU-Atlantic Data Gateway Platform”, defendeu o secretário de Estado das Comunicações, lembrando ainda os investimentos já confirmados em data centres, como o Start Campus, em Sines.
Hugo Santos Mendes alertou porém que é preciso compromisso e investimento para melhorar a competitividade, explicando que o Governo está envolvido na simplificação do processo de licenciamento de instalação de cabos submarinos, que podem potenciar a localização de mais infraestruturas na zona económica, concentrando a informação num único portal que será acessível a investidores e responsáveis das infraestruturas para interagir facilmente com as autoridades.
O tema do licenciamento foi abordado num painel com a participação da Anacom, da Direção Geral de Recursos naturais (DGRM) e da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), onde os intervenientes defenderam igualmente o potencial de Portugal. Nuno Lacasta, presidente da APA, sublinhou “a necessidade de colaboração entre as várias entidades para dinamizar ideias e projetos” enquanto Augusto Fragoso, da direção geral de inovação da Anacom, lembrou que Portugal já tem a capacidade que outros países, como a Nova Zelândia, estão a tentar desenvolver.
Os oradores do painel da tarde, “Sines CLSs & DCs ecosystem”, estiveram todos de acordo em relação ao potencial de Portugal, e de Sines, destacando diferentes aspectos para além da localização geográfica e da conectividade, sendo a capacidade de aceder a energia em quantidade relevante e com fontes “verdes” uma das citadas para atrair grandes datacenters, os hyperscalers.
Olivier Labbe, General Manager of CAP DC, não poupou elogios em relação à posição de Portugal. “Tem muitos bons trunfos, e o apoio do Governo é um deles”, afirmou. Para o executivo, a localização é de baixo risco e tem acesso abundante a energia limpa, ao contrário do que acontece por exemplo em Madrid, onde diz que é impossível garantir acesso a energia adicional para datacenters nos próximos anos.
“No passado a conectividade era o mais importante [para a localização de um datacenter] mas agora a energia é 50/50 e pode ser ainda mais importante no futuro”, afirmou Olivier Labbe.
As “batalhas ibéricas” são apontadas como um potencial obstáculo, mas que Olivier Labbe acredita que pode ser ganho. “Sines tem de ser comparado com Madrid e isso é a primeira batalha”, lembrando porém que Lisboa já beneficia da reputação como cidade aberta. Por isso aconselha que se invista em marketing, para destacar os pontos fortes da localização.
Também Afonso Salema, CEO da START - Sines Transatlantic Renewable & Technology Campus que vai instalar um megadatacenter, concorda com os aspectos chave referidos, e a necessidade de evangelização, mas lembra que é preciso ter escala, um ponto onde os investimentos de cabos submarinos anunciados, e outros que possam vir a localizar-se em Portugal, é relevante. O executivo destaca ainda o acesso a energia limpa e a proximidade do mar como potencial de fonte de arrefecimento para os datacenters.
Afonso Salema salienta também os recursos que foram comprometidos para o hub de Sines. “Conseguimos garantir mais de 500 megawats de energia para o Campus, e com o suporte do Governo, a nível nacional e regional, vamos conseguir levar poder ao nosso campus em volume a que todas as outras localizações europeias apenas podem aspirar, em termos de custo e de energia limpa”, explica, defendendo que podemos ser muito mais eficientes e que apesar de haver uma corrida com Madrid, temos a escala para ser uma alternativa a quem não consegue fixar-se na cidade espanhola, mas que os custos de operação são incríveis, só a nível das utilities.
Acrescenta ainda a camada da sustentabilidade. “Não pode encarar seriamente a sustentabilidade se está a pensar que o seu datacenter vai competir com recursos das cidades, e Sines, como tem o ADN de uma zona industrial com facilidade de se adaptar a uma economia digital, oferece o caminho da sustentabilidade”, afirma Afonso Salema.
O CEO da START explica que nas cidades FLAP (Frankfurt, Londres, Amsterdão e Paris), onde se localizam grande parte dos datacenters, os investimentos competem com o desenvolvimento urbanístico, e que isso é insustentável. “Há FLAPs a bloquear a instalação de centros de dados porque não há recursos disponíveis”, adianta ainda, falando de Frankfurt. “A tendência é afastar a localização dos grandes centros urbanos”.
Philippe Dumond, da EllaLink, destacou também as vantagens de Portugal e resumiu os projetos da empresa na ligação do cabo submarino que foi instalado em Sines em novembro de 2021, adiantando que a ligação à Madeira e Cabo Verde está feita, e que “temos um barco a ir para Marrocos para fazer a ligação a Casablanca”, mas que a Mauritânia é também um destino num futuro próximo, assim como as Ilhas Canárias.
Para o executivo, "Sines tem o potencial para ser a nova Ashburn”, uma cidade norte americana, na Virgínia, que nos últimos anos se tornou um dos principais destinos de centros de dados, mas avisou que há muito para fazer e que “não podemos esconder-nos atrás do sonho”.
Do lado da Comissão Europeia, Thomas Kuepper, ligado ao desenvolvimento de políticas para banda larga e cabos submarinos, reforçou a ideia de que a conectividade submarina é uma infraestrutura crítica e o “backbone do digital” e que não há uma alternativa técnica viável, mas que tem de se manter a consciência de que é vulnerável e tem de haver redundância e interconexão entre as várias redes.
A Europa tem em curso várias iniciativas para reforçar a conectividade através de cabos submarinos, não só em Portugal mas também no mar do Norte e no Báltico, e estas ligações beneficiam todo o espaço europeu.
O executivo anunciou que em breve vão ser lançadas 3 calls para Data Gateway e que a União Europeia vai cofinanciar estudos e infraestruturas de instalação de cabos, tendo reservado 300 milhões de euros para esta área até 2027.
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