Longe vão os tempos em que os dirigentes de futebol tomavam as decisões no seu escritório, na sede ou estádio. Os smartphones e computadores portáteis permitem tratar de toda a burocracia do clube em qualquer lugar. Essa é a premissa da plataforma EMJOGO, um software na cloud que pretende ajudar os clubes a melhorar a sua organização e comunicação. Podem ainda gerir as suas equipas, atletas e sócios do clube numa única plataforma, através da proposta da startup EMJOGO, prometendo potenciar a transformação digital no sector desportivo português.
A ideia nasceu em 2014, quando o fundador e CEO da startup, Gil Guilherme, então consultor e programador informático, recebeu o pedido para criar um website para um clube desportivo. A sua paixão por futebol e o desejo de criar algo com mais valor impediram que este pedido fosse apenas de mais um cliente. Após consultar o mercado, chegou à conclusão que a presença dos clubes na internet era praticamente inexistente ou de forma muito fraca. A ideia nasceu assim na necessidade de criar uma ferramenta que aproximasse os sócios e adeptos aos seus clubes, usando a internet para reforçar as relações, sobretudo em clubes mais pequenos e com recursos limitados.
Veja na galeria imagens da plataforma EMJOGO:
A startup EMJOGO começou a receber os seus primeiros clientes em 2016, tendo agora crescido para uma plataforma mais abrangente, oferecendo aos clubes a possibilidade de fazer a gestão dos diversos departamentos, considerando os seus recursos financeiros e humanos normalmente baixos em organizações mais pequenas. A empresa diz que atualmente já conta com mais de 300 clubes a utilizar a sua plataforma, procurando ser o parceiro tecnológico na modernização dos clubes desportivos.
Ao SAPO TEK, Gil Guilherme explica que atualmente, a nível desportivo, se assiste a uma enorme evolução no processo formativo dos clubes. “Os clubes perceberam que para melhorar os seus resultados, têm de trabalhar de uma forma melhor e por isso estão a reforçar-se com staff mais especializado”. Obviamente que se trata de uma estrutura composta por fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e até dirigentes altamente qualificados dentro das estruturas dos clubes.
"Os clubes perceberam que para melhorar os seus resultados, têm de trabalhar de uma forma melhor e por isso estão a reforçar-se com staff mais especializado."
O objetivo da plataforma é “ajudar os clubes a centralizar e organizar o resultado de toda esta aposta na melhoria da sua forma de trabalhar”. Na prática, cada elemento do staff tem acesso a uma ferramenta para se registar, aceder e perceber o seu trabalho. Do outro lado, a coordenação e direção do clube podem acompanhar todo o processo no seu dia-a-dia e ao longo de toda a época desportiva.
Tendo em conta a alta rotação de staff que existe nos clubes, considerando que as organizações são “donas” da informação, a plataforma garante que todo o histórico do trabalho registado ao longo dos anos seja mantido, dando dessa forma continuidade às eventuais mudanças de colaboradores.
Por fim, a plataforma EMJOGO pretende explorar o potencial de ligação entre o clube e a sua comunidade, oferecendo soluções para aproximar os sócios, adeptos e fãs no geral. “Os clubes precisam da informação para perceber o resultado do seu trabalho e essa está no EMJOGO”, salienta Gil Guilherme em entrevista.
Os seus utilizadores podem dessa forma aceder à plataforma em cloud, a partir de qualquer lugar e equipamento. “O clube, sendo o máximo responsável, consegue gerir quem tem acesso e a que informação. O sistema de permissões é bastante flexível e permite ajustar-se às funções de cada utilizador dentro do clube”. É assim dado acesso exclusivo a cada pessoa, com permissões limitadas às suas responsabilidades, o que aumenta a segurança no acesso e gestão de dados, como torna o staff mais eficiente e eficaz na sua contribuição no clube. “Como resultado, o clube tem toda a informação organizada e centralizada num local e assim facilita a leitura dos dados”.
Para dar um exemplo prático, o CEO da startup diz que “eu sendo um treinador vou registar a informação dos treinos e jogos da minha equipa e, no caso de um fisioterapeuta, regista informação de lesões, tratamentos e exames. O treinador não vai registar um tratamento ou exame, porque não tem permissão para o fazer e, se o tivesse, poderia fazê-lo de forma errada”.
"Eu sendo um treinador vou registar a informação dos treinos e jogos da minha equipa e, no caso de um fisioterapeuta, regista informação de lesões, tratamentos e exames".
Sobre o investimento da startup, Gil Guilherme diz que investiu a nível pessoal e com a ajuda da família, permitindo-lhe dedicar-se a tempo inteiro no projeto. “Desde então, temos vindo a crescer de forma orgânica, ou seja, o retorno que obtemos da base de clientes tem sido consecutivamente reinvestido no nosso crescimento, enquanto empresa como de produto”. A EMJOGO já participou em dois programas de aceleração de startups que contribuíram com um pequeno apoio financeiro, disse o CEO da empresa.
Questionado sobre os planos de crescimento da empresa e eventual expansão internacional, Gil Guilherme afirma que ainda tem muitos desafios pela frente com os milhares de clubes existentes em Portugal, o que torna difícil pensar em outros mercados. “Para 2022, a nossa prioridade será continuar a trazer valor em Portugal”. No entanto, diz que tem recebido alguns trabalhos fora do país, mas sem relevância do no dia-a-dia da empresa. No futuro, tem a expetativa de levar o seu software além-fronteiras, referindo que a sua solução agora apresentada está mais capacitada para satisfazer outros mercados.
Apesar do futebol ser o desporto mais representativo, entre os 300 clubes que serve no mercado português conta com outras modalidades, tais como o futsal, andebol, basquetebol, rugby, voleibol e hóquei em patins. O seu modelo de negócio é a oferta de software as a service, ou seja, “os clubes pagam uma pequena prestação recorrente pelas ferramentas que queiram aderir”, acrescentando que a plataforma tem vários módulos. Para estruturar o clube é necessário obrigatoriamente o módulo de Gestão Desportiva, que diz contemplar muitas áreas. Na sua oferta tem dois planos de mensalidades, um de 25 euros e outro de 50 euros, pagos de forma anual, que diz ser o período mais escolhido.
Gil Guilherme explica que ainda existe muito trabalho a fazer na transformação digital dos clubes, afirmando que só recentemente começaram a estar mais atentos a esta realidade nos seus processos de gestão. “É notória a diferença nas necessidades e objetivos dos clubes, de quando começamos para hoje”.
Afirma que um dos maiores desafios atuais é mesmo a mudança dos processos de gestão, em que os clubes passaram de “não fazer nada, para querer fazer tudo num curto espaço de tempo. Como é normal, a implementação de novos processos, mais recursos humanos e novas formas de trabalho, precisam de tempo, persistência e esforço de todos. Através da transformação digital, o EMJOGO, veio simplificar a gestão e operacionalização desses processos”.
"Os clubes passaram de não fazer nada, para querer fazer tudo num curto espaço de tempo."
É ainda referido que os clubes sabem que esta modernização faz parte do caminho e não é o destino. Diz ainda que depois de começarem a utilizar a sua solução, os clubes começam a perceber outras possibilidades que até aqui não tinham noção. “Neste momento, os clubes estão apenas a criar a base tecnológica para começar a aproveitar muito mais o que a tecnologia pode oferecer”.
A simplicidade na utilização da plataforma é também uma das apostas da startup desde o início, refere Gil Guilherme. E o feedback que tem recolhido dos clubes que aderem aos serviços parecem responder de forma afirmativa a essa premissa. “Procuramos ajudar os clubes a desenvolver o seu potencial e por isso apostamos num acompanhamento mais próximo de cada clube. Para além deste acompanhamento, também temos o nosso centro de ajuda e apoio para o uso da plataforma”.
A equipa da EMJOGO conta com 11 colaboradores, estando previsto um aumento da equipa com mais quatro pessoas. O objetivo é preencher diferentes áreas de atuação, desde o acompanhamento ao cliente, área comercial e área de produto, entre os perfis que procura recrutar. “Para além da área de especialização, procuramos essencialmente pessoas que estejam alinhadas com a nossa missão e tenham o gosto pelo sector desportivo. No dia a dia vão sentir com maior satisfação o resultado do seu contributo”.
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