A Nokia anunciou que vai despedir até 14 mil pessoas a nível global para cortar custos. A justificar a medida está a procura abaixo do esperado de equipamentos e soluções para redes 5G que a empresa não estima ver recuperada tão cedo.

Para já não são conhecidos detalhes sobre os planos da empresa em termos de geografias ou áreas mais afetadas pelos despedimentos. Em Portugal, sabe-se que a Nokia emprega mais de 3.000 pessoas, em vários centros de serviços, e só no ano passado contratou 900. Em entrevista ao Negócios em março, o responsável local da empresa acrescentava que nos primeiros meses de 2023 a Nokia já tinha acrescentado à equipa em Portugal mais 200 pessoas e tinha planos para continuar a contratar.

A nível global, a companhia conta com 86 mil profissionais e quer passar a ter entre 72 e 77 mil, o que se traduzirá numa redução de 16%. A expectativa é de que a redução das equipas vá permitir poupanças entre os 800 milhões e os 1,2 mil milhões de euros, até 2026. No próximo ano, a empresa quer já atingir poupanças de 400 milhões de euros, com os cortes previstos, e mais 300 milhões em 2025.

Em entrevista à Reuters, Pekka Lundmark, CEO da companhia finlandesa, admitiu que “a situação do mercado é verdadeiramente desafiante”, destacando a realidade do mercado norte-americano, que é neste momento o mais relevante para as soluções de rede da Nokia e onde as vendas da empresa cairam 40% no trimestre.

Em termos globais, as vendas da Nokia caíram 20% no terceiro trimestre, face a igual período do ano passado e os lucros recuaram 69%, para 133 milhões de euros, performance que a empresa justifica com os desafios do ambiente macroeconómico e as taxas de juro elevadas. Para o ano de 2023 mantêm-se a previsão de receitas entre os 23,2 e os 24,6 mil milhões de euros.

Na mesma entrevista, o presidente da Nokia explicou que é cedo para dar mais detalhes sobre os despedimentos, porque a empresa quer reunir primeiro com os representantes dos trabalhadores. No entanto, garantiu já que a companhia pretende proteger as áreas de pesquisa e desenvolvimento.

Em Portugal, a Nokia inaugurou em novembro do ano passado um novo centro de investigação e desenvolvimento, focado nas redes 5G e desenvolvimento do 6G, onde se pretende desenvolver software para componentes chave destas redes móveis, desde a análise, especificação e desenvolvimento, até à fase de teste.

A empresa tem também centros de serviços que gerem remotamente reds de comunicações para alguns dos principais operadores mundiais, em Portugal. No ano passado assinou um protocolo de colaboração com o Governo para um centro de competências, onde também o 5G era um dos focos, e em 2018 criou um centro de desenvolvimento com 400 profissionais.

A Nokia não é a única empresa de soluções para redes de telecomunicações a queixar-se dos efeitos do abrandamento da economia e dos investimentos dos operadores na expansão das suas redes, num mercado onde há cada vez mais concorrência. A vizinha sueca Ericsson, que também já anunciou despedimentos, disse esta quinta-feira que antecipa uma persistência dos mesmos factores que este ano estão a condicionar o mercado, também no próximo. A Ericsson anunciou em fevereiro que iria despedir 8.500 pessoas em todo o mundo, até 2024, 1.400 só na Suécia. No final de 2022 a companhia dava emprego a 105 mil colaboradores.

Despedimentos nas tecnológicas voltam à atualidade

Depois da onda de despedimentos que afetou as empresas de Tecnologias da Informação entre o final do ano passado e o início de 2023, a redução de custos e equipas continuou em 2023, mas menos acentuada. Desde setembro, e embora não nas mesmas proporções do ano passado, as medidas de redução de custos parecem estar a ganhar novamente destaque na atualidade.

A Qualcomm anunciou, já em outubro, que vai despedir 1.258 colaboradores, que representam 2,5% da força de trabalho da fabricante de chips. Também já em outubro, o Linkedin revelou que vai despedir mais 668 pessoas, naquela que é a terceira decisão do género por parte da empresa este ano.

A Epic Games anunciou no final de setembro que ia despedir 16% dos colaboradores, cerca de 830. Uma das unidades mais afetadas em termos de proporção será a Brandcamp, adquirida em 2022 pela empresa e agora em processo de venda à Songtradr, que vai reduzir para metade a pool de colaboradores neste processo de transição. Cerca de 60 colaboradores irão sair, segundo dados do site Layoffs.fyi.

Em Portugal, também a Talkdesk estará a negociar a saída de cerca de 200 dos 800 colaboradores locais. A informação não foi oficialmente confirmada pela empresa. Foi avançada pelo Eco, que diz ter tido acesso à mensagem enviada para os colaboradores.