Durante a exploração dos pavilhões do Web Summit, na FIL, o SAPO TEK decidiu investigar algumas das startups que se estenderam pelos quatro enormes edifícios. Umas dedicavam-se a utilizar inteligência artificial para diferentes fins, outras pretendem ajudar os negócios dos seus clientes a crescer. Havia também quem criasse soluções para transformar dados públicos em valor. Foi muito difícil escolher, pois eram centenas de microempresas à procura de atenção, umas mais concorridas, outras completamente “às moscas”.
Para contrariar a tendência de que “restaurante vazio é porque não presta”, decidimos investigar a proposta de uma delas, a Saally, que tem como moto “Find new customers with Facebook page”. A startup é italiana, mais concretamente da Sicília, mas garantiu-nos, de forma divertida, que não tinham negócios com a máfia. Segundo o CEO da empresa, Giuseppe Egitto, o seu negócio centra-se num consultor digital gerido pela IA, uma solução para ajudar os negócios locais a encontrar novos clientes através da sua página no Facebook, ou pelo menos, a converter os “seguidores” em potenciais consumidores.
A plataforma é diferenciadora de outras opções ao informar os seus clientes não só onde estão potenciais clientes, mas como atraí-los para o seu negócio. A IA atua ao supervisionar o que se está a passar na sua rede social, sejam fotografias ou “posts”, e alerta as empresas para o que devem fazer para melhorar a sua oferta. Por exemplo, se tiver um restaurante, a consultora virtual Saally poderá recomendar que se tire uma fotografia do chef a cozinhar, ou aos pratos confecionados, para colocar na página da empresa. “O problema deste tipo de empresas é que não sabem o que fazer, e depois da sugestão da IA, nós falamos de forma personalizada com os clientes para melhorarem o seu negócio”.
Os seus principais clientes são restaurantes, lojas de retalho, e já têm uma base de 200 empresas que aderiram à plataforma, e esperam futuramente um crescimento de 80-100 novos utilizadores por mês. O CEO da empresa salienta, no entanto, que apesar de utilizar informações dos clientes, apenas aquelas que são públicas e B2B são filtradas pela aplicação. A plataforma, que funciona em ambiente web ou app mobile, tem uma subscrição anual de 199 euros, e como está a correr bem, em janeiro será aumentada para 299 euros. “Num período entre seis a 12 meses, os nossos clientes aumentaram as suas receitas entre 10-100% utilizando a nossa plataforma”, destaca o CEO da startup, que para já apenas opera na Itália, mas em 2020 irá expandir-se para outros países, incluindo Portugal.
Das três startups ligadas à IA que abordámos, de forma mais ou menos aleatória, a segunda está ligada a serviços de internet. A MyWifi Networks chegou do Canadá e é uma “plataforma social Wifi” que permite aos clientes ligarem-se às suas redes sociais como o Facebook, Twitter e Instagram para utilizar o serviço de “Guest Wifi” em locais públicos.
O serviço liga-se ao hardware WiFi existente nas lojas públicas e os clientes dos estabelecimentos conectam-se através da autenticação nas suas redes sociais. Em troca, o serviço fica-lhe com os dados pessoais, o email e localização para fins de marketing automatizado. Parece estranho, mas nos olhos da empresa é uma troca “justa”, as pessoas entram na loja, precisam de se ligar à internet, e deixam os seus dados para uma base de marketing…
E o que faz a Nam.R (lê-se como o nome do craque brasileiro) e chega de Paris? O seu projeto tem dois anos e assenta em IA e machine learning para trabalhar em informação baseada em geodata pública, que os seus clientes podem requisitar, sejam eles entidades públicas ou corporações. O seu sistema tem toda a informação relativa a edifícios, estradas e outros do território francês, angariada através de machine learning para criar valor.
Na prática, segundo o responsável Louis Petros, é possível pesquisar edifícios mediante certos critérios. Por exemplo, pode apontar no mapa um prédio e o sistema alerta se este precisa de renovações, e em caso positivo, que tipo de obras deve executar na sua estrutura. “A base de dados é massiva, por isso temos de introduzir separadores por temas, tal como por exemplo eficiência energética”, explica o empresário. Uma empresa de energia solar pode filtrar os edifícios que sejam alimentados por combustível, para que recebam propostas aliciantes para o seu sistema energético, como outro exemplo.
A empresa oferece aos seus clientes a plataforma Nam.R através de uma subscrição anual, acessível através de web app ou mobile. Para já a empresa tem apenas cinco clientes e ainda não é rentável, mas espera nos próximos dois anos expandir-se para outros países fora da França.
Seriam precisas semanas para aglutinar todas as microempresas e startups que visitaram esta edição do Web Summit, mas infelizmente foi preciso filtrar para encaixar na agenda, entre os intervalos das conferências. Ainda assim, foi possível visitar algumas empresas portuguesas que investiram na cimeira, numa tentativa de captar atenções para internacionalização. É o caso da Codevision, que depois de uma década a implementar a sua plataforma eSchooling nas mais de 300 instituições nacionais, procura agora aplicar o modelo na realidade de outros países. Ou a plataforma FootballISM que reúne numa única aplicação todas as ferramentas utilizadas pelos clubes de futebol, desde a gestão de scouting à área técnica ou a logística dos equipamentos, por exemplo.
Não faltou mesmo uma espécie de “batalha de pitchs”, colocando as diversas startups a “vender” as suas ideias ao júri, sob um cronómetro apertado. No final do Web Summit venceu a Wayne, uma startup que utiliza inteligência artificial para “ensinar” os carros autónomos a conduzir.
Como se costuma dizer, para o ano há mais Web Summit, e muitos dos que visitaram esta edição irão certamente regressar. Em todo o caso, se tiver ou pensar abrir uma startup e desejar obter sucesso, espreite alguns conselhos e segredos dos especialistas.
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