Quando este ano terminar, termina também o sonho que dava vida à Hyperloop One, a empresa que desde 2013 tentava passar do papel para a realidade, um novo conceito de transporte, idealizado por Elon Musk. A história termina 10 anos depois de começar e 450 milhões de dólares depois de angariar o primeiro cêntimo. O número mostra que não foi a falta de investimento que deitou por terra o sonho, mas a dificuldade técnica em converter em realidade uma ideia que no papel tinha tudo para funcionar.

Ao longo dos anos, vários investidores deram milhões para criar um sistema de transporte que a Hyperloop descrevia como “um novo padrão para as viagens no século 21”, capaz de ligar cidades distantes em minutos.

O conceito do Hyperloop passava por um sistema de tubos que permitem viagens a alta velocidade, com um baixo nível de consumo de energia. Dentro dos tubos circulariam cápsulas que poderiam viajar a mais de 1200 quilómetros por hora, graças à tecnologia de propulsão magnética usada, ou Maglev (uma abreviatura de “magnetic levitation”).

A pandemia atrasou os planos da empresa. Os escândalos que envolveram dois cofundadores também não terão ajudado - um saiu da empresa em 2017, na sequência de um processo onde foi acusado de sabotagem, outro foi destituido do cargo por agressão sexual. Dez anos depois chegou o momento em que as torneiras dos investidores se fecharam, sem possibilidade de voltarem a abrir-se.

A Bloomberg revela que a empresa encerra no final do ano. Está a vender ativos, a fechar escritórios e a despedir empregados, para encerrar as contas ainda em 2023. Toda a propriedade intelectual entretanto desenvolvida passa para as mãos do principal acionista, a DP Word, uma empresa de logística do Dubai.

Ao longo destes anos, a Hyperloop realizou apenas um teste com humanos, no circuito que construiu no deserto de Nevada. A viagem juntou um co-fundador e um funcionário da empresa e fez-se a uma velocidade muito inferior àquela que a tecnologia alegadamente permitiria: atingiu-se os 173 Km/h. Isto aconteceu em 2020, quando as previsões iniciais de engenheiros da empresa antecipavam que nesse ano, existirião já Hyperloops em diferentes pontos do mundo.

Neste ano, ainda a Virgin do milionário Richard Branson era acionista de referência da empresa, no entanto, o ânimo parecia manter-se. A empresa fez um vídeo a explicar tudo o que a tecnologia tinha para oferecer ao mundo e como ia fazê-lo.

O futuro do Hyperloop explicado pela Virgin

A Virgin referia, aliás, que depois de realizar vários testes bem-sucedidos do sistema, o foco estava no desenvolvimento de um serviço comercial cujos motores seriam 10 vezes mais eficientes do que os atuais comboios Maglev. Ao contrário dos comboios, as cápsulas do Hyperloop não iam estar interligadas. Assim, diferentes cápsulas de um mesmo sistema poderiam ter destinos diferentes, sublinhava-se. pelo caminho o projeto ainda mudou de estratégia e deixou de lado a intenção de transportar passageiros, para querer transportar carga. Não chegou para manter a luz ao fundo do túnel.