Portugal é há vários anos um mercado de destaque no negócio da SAP na EMEA – Europa, Médio Oriente e África, mas a transição para a cloud tem sido adiada por processos de decisão lentos em muitas empresas. Muito mais lentos do que acontece aqui no país vizinho, por exemplo.
“Portugal tem sido historicamente um mercado onde mantemos um crescimento acima da economia, há muitos anos. O que vemos agora com a cloud é que algumas empresas, sobretudo as maiores, querem analisar mais a possibilidade de migrar antes de tomar uma decisão”, admitiu Manos Raptopoulos, presidente da SAP EMEA, em conversa com o SAPOTEK, à margem do SAPPHIRE em Barcelona. “Não são todas [as empresas], mas uma parte sim. Demoram o seu tempo até tomar a decisão, algo que é compreensível. Os novos clientes seguem diretamente para a cloud”, acrescentou o responsável.
O presidente da SAP EMEA reconhece que estes tempos longos de decisão, para uma mudança com um impacto significativo para as organizações, não são algo exclusivo do mercado português, “é algo que também vemos noutros mercados do sul da Europa”. No entanto, reconhece que na comparação com países como Itália ou Espanha, Portugal está mais atrasado nesta migração das plataformas de negócio para a cloud.
Mas claro, os exemplos existem e a SAP levou alguns ao evento para partilharem as suas histórias de sucesso e aprendizagens, como a Casais. Nos últimos quase 20 anos, a empresa teve três grandes ondas de digitalização, sempre com uma máxima em mente: “se não dermos um passo hoje vamos ter de dar dois amanhã”, como repetiu Guilherme Teixeira, CIO, algumas vezes na conversa com o SAPOTEK.
A mais recente, destas três ondas, coincidiu com a pandemia. Privilegiou a consolidação do uso de ferramentas de colaboração, a modernização das relações com fornecedores (procurement) e preparou a empresa para continuar a crescer, a partir de qualquer lugar. Entre 2017 e 2020 foram implementados 20 projetos SAP nas áreas técnicas, financeira, de produção e de recursos humanos. Aqui incluem-se a migração para SAP S/4Hana, a implementação do SAP Concur ou de toda a suite SuccessFactors (recursos humanos).
Um português, um espanhol e um italiano…quem chega primeiro à cloud?
Aqui ao lado em Espanha, a transição para a cloud nas empresas começou cedo, há uns seis ou sete anos e manteve o passo, admite Manos Raptopoulos. Itália começou lenta, mas em determinado momento acelerou o ritmo dessa migração. Portugal continua a avançar lentamente. “Acredito que quando conseguirmos ter mais referências importantes dessa transição vai aumentar o ritmo de adoção”.
De um modo geral, em Portugal como na Europa, Manos admite que a generalidade das empresas já compreendem as ventagens da cloud e do que podem fazer quando lá estiveram. Ainda assim, pesa o facto de a região incluir realidades muito diferentes e uma larga percentagem de PME, que dita estágios muito diferentes de desenvolvimento.
“A grande maioria dos clientes compreendem já as vantagens que podem ter na cloud, nomeadamente com a IA. Aquilo que esperam dos sistemas TI hoje, aliás, também é muito diferente do que esperavam há uns anos”, admite o gestor.
“Há 15 ou 20 anos procuravam sistemas individualizados e personalizados. Agora querem processos out-of-the box, que possam implementar rapidamente” e sabem que na cloud encontram isso. “Nem todas as companhias estão já nesta fase, mas é a tendência geral que identificamos. Diferentes estádios de desenvolvimento por um lado, mas um objetivo muito claro e transversal”.
A inteligência artificial foi um dos fatores que veio contribuir para “alterar completamente a narrativa” e fazer com que “os clientes procurem resultados concretos para o negócio, com a GenAI e com a IA em geral”. “Não querem só fazer uma pergunta a um agente e obter uma resposta inteligente, querem perceber o que é que aquilo pode fazer pelas suas cadeias de abastecimento, pelos seus recursos humanos, ou pela sua área financeira”, sublinha Manos Raptopoulos, que diz residir também aí o grande interesse do ecossistema SAP em participar no SAPPHIRE deste ano e ver no local aplicações concretas destas tecnologias.
A SAP tem vindo a adaptar a oferta, primeiro à cloud, agora à onda da IA generativa. Na EMEA fâ-lo à volta de um contexto marcado por duas guerras, inflação e instabilidade económica. Manos Raptopoulos garante, ainda assim, que isso não tem afetado negativamente o negócio.
“A SAP otimiza processos de negócio e isso é algo que vale muito quando a economia está boa e vale ainda mais quando a economia está má. Quando as coisas estão bem, há mais dinheiro para investir e abertura para novos projetos. Quando o cenário é mais cinzento os clientes focam-se ainda mais no valor dos seus investimentos”.
As empresas europeias continuam a investir porque têm uma pressão adicional para serem mais ágeis, garante o responsável, embora como já se percebeu acima nem todas ao mesmo ritmo.
A Casais está num sector altamente tradicional e pouco modernizado, mas posiciona-se como exceção à regra. Guilherme Teixeira diz que as equipas em obra da construtora portuguesa estão digitalizadas, trabalham com tablets e smartphones. Os processos de construção estão a ser industrializados, com a construção modular, em fábrica, de componentes estruturais. Este conceito de produtização da construção tem vantagens ao nível da eficiência, reduz o desperdício, a quantidade de mão-de-obra necessária, o tempo e o preço dos projetos.
Nas fábricas que a Casais tem vindo a montar produzem-se módulos de paredes e fachadas com características diferenciadas consoante a finalidade (hotelaria, habitação, escritórios, etc). Como explicou Guilherme Teixeira, graças a este tipo de conceito “estamos a construir hotéis ao ritmo de um piso por dia”. Esta é uma área onde a tecnológica também já tem um papel importante, mas que a prazo terá ainda mais, pois é um domínio onde a empresa planeia usar plataformas de digital twins. Noutras áreas já usa. Em edifícios está a recorrer a esse tipo de tecnologia para “sensorizar os espaços e retirar os dados que precisa para plataformas digital twin e configurar os serviços que o cliente quer em cima disso".
Há quase duas décadas, a Casais deu os primeiros passos na digitalização começando a consolidar todas as empresas dentro de um mesmo sistema, uma uniformização que veio a permitir a entrada em 10 países em dois anos. Hoje isso está feito para 170 empresas em 17 países. Numa segunda fase, que coincidiu com a crise do subprime, a companhia explorou oportunidades nas áreas das casas inteligentes, materiais sustentáveis, building information modeling (BIM) e outras, para conseguir agilizar processos e trilhar novos caminhos para as soluções que queria levar ao mercado.
A onda mais recente de modernização da construtora, onde trabalham 6.000 pessoas, permitiu o salto para a cloud e pôs ao alcance da empresa um conjunto de novidades que a SAP, e outras, estão a disponibilizar ao sector empresarial na área da IA generativa. “Estamos a dar os primeiros passos” na área da IA generativa, confessa Guilherme Teixeira. “O passo seguinte será integrar essas ferramentas nos processos de negócio, mas para isso é preciso retirar as alucinações da equação”. Para isso é preciso que os datasets sejam melhorados “e é aí que reside o problema de Portugal”, admite o responsável, sublinhando que trabalhar na qualidade dos dados vai ser fundamental para que as empresas nacionais possam dar este passo e ter acesso aos bons insights que esperam.
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