Portugal está a emergir como um hub internacional de infraestruturas e os datacenters estão a tornar-se o principal pilar da economia digital em Portugal. Estas são algumas das conclusões do estudo que a Portugal DC acaba de partilhar e que mede o impacto do sector na economia, estimando um crescimento do emprego e do peso no PIB, que deverá ultrapassar os 3,7 mil milhões de euros, assente num investimento de mais de 13 mil milhões de euros realizado pelos hyperscalers, os fornecedores de serviços de colocation e as novas empresas especializadas em infraestruturas de IA.

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O estudo, que vai ser apresentado publicamente amanhã, dia 23 de outubro, teve como objetivo “reunir um conjunto de dados sólidos e fiáveis que permitam qualificar e quantificar, de forma objetiva, o impacto económico e social do setor no nosso país” e foi feito em parceria com a Pb7 Research, uma consultora europeia independente especializada no setor dos centros de dados com base nos dados existentes à data.

Luis Duarte, presidente da Portugal DC, admitiu ao TEK Notícias que a estimativa pode pecar por defeito, dado que o contexto é muito dinâmico e estão a ser anunciados novos investimentos em datacenters e na instalação de mais capacidade em Portugal, como aconteceu recentemente com a divulgação do projeto da Microsoft em Sines e também com o anúncio do investimento planeado para um datacenter em Abrantes, no valor de  7 mil milhões de euros.

“A indústria de datacenters está a passar por uma grande transformação em Portugal […] Há dois ou três anos poucas pessoas sabiam o que era um datacenter”, defende Luis Duarte em entrevista ao TEK Notícias.

O sector passou de uma presença e contribuição modesta para a economia nos últimos anos para se tornar uma força competitiva, posicionando Portugal como um Hub internacional, e tirando partido de vantagens do posicionamento estratégico do país e de investimentos públicos e privados.

Num encontro com jornalistas que decorreu hoje em Lisboa, Rita Lourenço, fundadora e vice presidente da Portugal DC, sublinhou as oportunidades de crescimento num contexto europeu onde várias capitais já esgotaram a capacidade energética. "Portugal é um dos últimos países a entrar neste mercado, queremos aprender com os bons exemplos", justifica, apontando as questões do licenciamento, regulação e também da sustentabilidade energética.

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Como maus exemplos, Rita Lourenço aponta Dublin, "que já está saturada" e não tem energia para a instalação de novos centros de dados. "Nos últimos anos temos assistido à deslocalização de projetos para o sul da Europa, com Marselha, Milão, Espanha, Portugal e agora a Grécia", detalha.   

A porta da Europa e capacidade de atração

A localização geográfica privilegiada e a conetividade das redes de fibra ótica, assim como da amarração de cabos submarinos que ligam o país à Europa, América do Norte e América do Sul, África e Ásia, fazem parte da equação que impulsiona o crescimento do sector. Luis Duarte sublinha as vantagens de Portugal ter um gateway digital único com os cabos EllaLink, o Equiano, o 2Africa e os futuros Nuvem, Medusa e PISCES que contribuem para melhorar significativamente a conectividade internacional de Portugal,  num ecossistema que é reforçado pelos novos Internet Exchange Points (IXPs) e os IP Transit Providers Tier1.

Soma-se a isso a disponibilidade de energia, a utilização de fontes renováveis que já somam cerca de 70% da capacidade, e ainda o talento português, com uma mão de obra qualificada e a um custo acessível.

O aumento da necessidade de computação, impulsionada pela digitalização da economia e a aceleração da Inteligência Artificial fazem com que o cenário de evolução seja ainda mais positivo, reforçado pela aposta que tem sido feita em energias renováveis que tornam Portugal uma localização estratégica para plataformas de cloud e também de treino e inferência de grandes modelos e soluções de Inteligência Artificial.

O estudo indica a previsão de que, no espaço de cinco anos, a procura elétrica conjunta de setores emergentes atinja os 8,5 terawatts (TWh) pode ano.

Mais investimento e mais emprego

De acordo com os dados partilhados no estudo, a expectativa é que até 2031 o investimento no sector some os 13 mil milhões de euros, acompanhado por um crescimento no fornecimento total de energia de TI para os 1,5 GW, mais de 40 vezes o número atual.

“Esta entrada muito significativa de investimento vai provocar o crescimento do mercado mas também tem impactos económicos relevantes no que diz respeito à construção, aos serviços públicos, à cadeia de abastecimento e aos serviços em geral”, realça o presidente da Portugal DC.

Com a possibilidade de instalação de um novo datacenter em Abrantes, do qual ainda pouco se sabem os números podem ainda crescer. Luis Duarte diz que há 10 projetos de datacenters para instalação em Portugal nos próximos anos e admite que isso pode fazer com que, em 2031, seja atingido o limite de capacidade energética, pelo que é preciso preparar a rede de energia elétrica para acompanhar o desenvolvimento.

Para já a lista conta com a StartCampus, que quer aumentar a capacidade do datacenter em Sines para 1,2 GW, a Merlin com o projeto de Vila Franca de Xira para 180 MW, a AtlasEdge que se prepara para inaugurar na próxima semana o centro de Carnaxide com capacidade de 20 MW, a Quetta com um projeto para 60MW em Lisboa e a Voltekko que vai instalar em Alcochete um centro com 6MW.

O emprego deverá também acompanhar este crescimento, sendo o número de postos de trabalho a tempo inteiro estimado em 9.400 para 2031. Só em 2024 o sector terá sido responsável pela criação de mais de 2.800 empregos diretos e indiretos, assim como mais de 670 empregos ligados à atividade.

O contributo para a economia deverá também aumentar em linha com este desenvolvimento e o estudo aponta para que o peso das instalações de serviços de colocation para o PIB português cresça para os 3,7 mil milhões de euros. Em 2024 o valor indicado era de 160 milhões de euros.

Em entrevista ao TEK Notícias, Luis Duarte lembra que estes valores podem ainda ser mais significativos com o anúncio de novos investimentos previstos para os próximos anos, como o recém anunciado investimento em Abrantes e a possível localização de uma gigafábrica de Inteligência Artificial em Portugal.

O crescimento traz também desafios e o presidente da Portugal DC lembra que vai ser necessário investir na infraestrutura elétrica para sustentar as necessidades de fornecimento de energia, apostar na sustentabilidade e no desenvolvimento e retenção de talento nesta área.

Realça ainda que a associação tem vindo a trabalhar em várias iniciativas nesta área das competências para o sector dos datacenters e a trabalhar com as várias entidades para preparar as condições necessárias para que Portugal continue a ser competitivo nesta área e tenha as melhores condições para que o crescimento seja sustentável em termos de consumo energético e ambiental.

O objetivo da associação é agora repetir este estudo todos os anos para acompanhar a evolução do mercado de datacenters em Portugal

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