A SeamlessCARE Empathic foi uma das startups irlandesas presentes na final da Altice International Innovation Awards, na categoria INCLUI. Trata-se de uma aplicação para smartphones e uma API que utiliza inteligência artificial para ajudar pessoas não-verbais a desenvolver formas de comunicarem de forma independente o que sentem.
Aviva Cohen, CEO e fundadora da SeamlessCARE, recebeu o SAPO TEK na NovaUCD, University College de Dublin, para explicar um pouco mais sobre o seu projeto e como o ecossistema de startups irlandês ajudou a catapultar a aplicação para um plano internacional.
A aplicação Empathic permite que qualquer pessoa com menos de 20 palavras no seu vocabulário a possa utilizar de forma consistente. Seja derivado a autismo, um ataque cardíaco ou danos cerebrais, afasia ou mesmo demência, a equipa descobriu que as limitações vocais são semelhantes.
A aplicação permite gravar estas vocalizações limitadas dos utilizadores, os seus sons, fazendo a interpretação das emoções que estão a sentir e a tentar se exprimir. E estas podem ser expressões de felicidade, estarem chateadas ou mesmo frustradas.
A equipa treinou a inteligência artificial com mais de mil amostras, que foram gravadas ao longo dos anos, captadas em pessoas não verbais. Aviva Cohen explica que o sistema não funciona com pessoas normais, com discurso fluído. O projeto nasceu de um caso pessoal, o seu marido Steve teve um ataque cardíaco e durante muitos anos sentiu a sua frustração por ninguém o compreender, assim que Aviva virasse costas. Foi para ele que o projeto foi criado e ao longo dos anos acabou por ser o seu “beta tester”.
Atualmente a SeamlessCARE conta com oito pessoas, incluindo developers, um especialista em RGPD para que a aplicação cumpra todas as regras de privacidade. Mas no início, Aviva estava sozinha, tendo começado por fazer a investigação e a publicar os seus estudos num blog pessoal. Um jornal irlandês pegou na história e acabou na televisão e a ganhar algum destaque pela sua causa.
Dirigiu-se depois ao Centro Nacional de Investigação Digital à procura de transformar em negócio as suas ideias. E apresentou várias ideias, incluindo uma aplicação que replicava as terapias que as pessoas recebiam em casa, ou uma linguagem terapêutica, que acabou por ser aceite. Em 2011 foi financiada para desenvolver os projetos e desde então afirma que já produziu 19 aplicações em seis línguas, ganhou prémios em diferentes países. No total, centenas de milhares de pessoas já fizeram o download das suas apps que ajudavam as pessoas a voltar a falar.
Pegando no exemplo do seu marido Aviva Cohen explica que “Steve ficava frustrado quando as pessoas falavam comigo sobre ele, mais ainda quando falavam por cima dele, pois queria ser ele a falar”.
Nesse sentido, com a app Empathic, é possível que se exprimam, gravando quatro ou cinco segundos, o suficiente para detetar se estão felizes ou tristes, e desta forma estabelecer conversas diretas.
Apesar de não ter ganho o prémio da sua categoria, estar entre os finalistas da Altice International Innovation Awards foi muito importante para a startup, por ser um reconhecimento internacional daquilo que estão a fazer para ajudar as pessoas. A versão portuguesa da aplicação já começou a ser desenvolvida, havendo planos para recrutar um português para supervisionar a localização, esperando-se um lançamento em março de 2023.
Questionada sobre o potencial de pessoas que podem usar a aplicação em Portugal, destaca que os números gerais são difíceis de obter, mas sabe que existem 194 mil pacientes com demência. E grande parte desses pacientes tornam-se não verbais. Além da demência, em Portugal, refere que uma em cada mil crianças de idade escolar são diagnosticadas com autismo, com espectros diferentes. Mas conclui que existem 200 milhões de pessoas em todo o mundo com este tipo de problemas na fala.
A sua investigação sugere que, independentemente do caso clínico, seja ataques cardíacos, nascer com autismo ou ter demência, as articulações dos sons que são feitas e a respetiva parte emocional ligada, são as mesmas. E o seu estudo focou-se em centenas de milhares de amostras. De salientar que a app analisa sons e não expressões faciais, essas sim são totalmente diferentes, porque um ataque cardíaco pode paralisar parte da face, por exemplo.
No que diz respeito à ligação com a Enterprise Ireland, a líder da startup afirma que foi crucial tanto neste, como no seu negócio anterior. Para desenvolver a plataforma não tinha qualquer salário durante cerca de um ano, tendo investido do seu bolso para se candidatar aos fundos de comercialização do produto na organização irlandesa. “Sem isso não seríamos capazes de mover em frente. E não apenas com o dinheiro, mas o suporte e mentoria que foram fundamentais”, salientando ainda que atualmente faz parte do fórum de fundadores do Enterprise Ireland, onde recebe treino ligado ao negócio e a possibilidade de trocar experiências com outros empreendedores.
Por fim, deixa alguns conselhos a quem inicia agora a sua aventura no mundo do empreendedorismo. “Primeiro não assumam que sabem tudo. Aproveitem cada oportunidade para aprender, mesmo quando pensam que sabem algo. Por exemplo, se houver um curso disponível na Enterprise Ireland ou na Nova ou outra instituição, aceitem”. Da mesma forma que aconselha a conhecer o máximo de empresas e organizações diferentes e aprender toda a parte do negócio. “Se não sou boa na parte técnica, eu pergunto a pessoas para me ensinarem algumas coisas”.
Veja na galeria fotografias da Altice International Innovation Award 2022:
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