A Worldcoin, fundada por Alex Blania, Max Novendstern e Sam Altman, atual CEO da OpenAI, é mais conhecida pelo seu projeto de distribuição de uma criptomoeda global, oferecendo uma determinada quantidade de tokens a quem aceitar fazer scan da sua íris através de um leitor próprio, chamado Orb, num projeto que tem levantado polémica, sobretudo no que toca à privacidade dos dados biométricos.
A Worldcoin quer ir mais dos tokens e, ainda em março, a empresa apresentou o World ID, um dos pilares do projeto, que é descrito como um novo protocolo de identidade descentralizado.
De acordo com a empresa, o World ID permitirá provar que uma pessoa é "real e única" quando acede, por exemplo, a serviços ou plataformas digitais e um dos objetivos passa por criar a “maior rede online de humanos autênticos”. Mas o que significa este novo protocolo e de que forma funciona?
Num encontro com jornalistas em Lisboa, a propósito do lançamento do World ID em Portugal, Pedro Trincão Marques, responsável pelo mercado ibérico na Worldcoin, explica que com o crescimento e popularização de soluções baseadas em IA, incluindo daquelas que são capazes de se fazerem passar por humanos, a identidade online assume um papel cada vez mais relevante.
“Trazer o conceito de humanidade para os mundos digitais” através do World ID é, para a empresa, uma das formas de lidar com esta questão. O novo protocolo, que chega também com um SDK (Software Development Kit) para os developers que pretendam implementá-lo nas suas soluções, é baseado em criptografia zero-knowledge.
Na prática, o protocolo zero-knowledge “verifica se uma informação é verdadeira ou falsa sem enviar a informação”, detalha Pedro Trincão Marques. “As empresas que usarem o WorldID não ficam com os dados, ou seja, sabem apenas que eu sou um humano, mas não sabem quem eu sou”.
Segundo a Worldcoin, o World ID suporta vários métodos de verificação que permitem provar que uma pessoa é real sem partilhar informação pessoal. Nesta fase do projeto, são apenas suportados dois, verificação através do número de telefone e através da leitura da íris num Orb.
Como é que o World ID é usado?
Para já, para criarem um World ID os utilizadores precisam de fazer o download de uma aplicação, a World App, que compõe o terceiro pilar do projeto da Worldcoin e que serve como uma carteira self-custodial. Por um lado, a verificação através do número de telemóvel está disponível para a maioria dos países, tanto para utilizadores como developers.
Por outro, a verificação através da leitura da íris está limitada aos países onde as Orbs estão disponíveis, onde se incluem Portugal, assim como Espanha, Argentina, Chile, Índia, Kenya e Uganda.
Como explica Pedro Trincão Marques, antes de uma Orb ler a íris do utilizador, o equipamento verifica se está mesmo perante uma pessoa através de sensores de temperatura e de uma leitura facial. A partir daí, a Orb capta as íris, convertendo essa informação num código, o Iris Code, antes de apagar as imagens registadas.
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Uma vez que a empresa está ainda numa fase inicial do projeto, “se a pessoa quiser deixar a sua imagem na Orb pode fazê-lo para ajudar o algoritmo a ser desenvolvido, mas é completamente opcional”, afirma o responsável, acrescentando que “a nível global, apenas 10% das pessoas” deixam esses dados, que são depois encriptados, com a Worldcoin.
No contexto da verificação através da leitura da Iris, o Iris Code é comparado com outros códigos para verificar se uma pessoa é real quando faz, por exemplo, sign in numa plataforma que suporta o protocolo do World ID. Para já, a ideia está a ser posta em prática no Discord da Worldcoin, com quem usar o World ID a ganhar um “badge” que prova que é humano.
A empresa afirma que o World ID não deriva nem está ligado aos dados biométricos, número de telefone, carteira de criptomoedas ou qualquer outro identificador da pessoa que o detém.
Já o token da Worldcoin, que ainda está em fase beta, é a forma como a empresa pretende governar o protocolo criado, prevendo o seu lançamento ainda na primeira metade deste ano. O objeto é criar uma DAO (Organização Autónoma Descentralizada, em português), descrita como uma comunidade onde as pessoas decidem o que a empresa faz com a tecnologia.
Segundo Tiago Sada, responsável de Produto, Engenharia e Design, na Worldcoin, a questão do impacto da IA na forma como o mundo funciona já estava presente desde o início da empresa.
Como explica o responsável, os três pontos que guiam a tecnológica e o seu projeto são como democratizar o acesso a estes sistemas de IA, como distribuir de forma equitativa os benefícios económicos gerados por esta tecnologia e como garantir que se distinguem humanos de bots alimentados por IA.
“Todas estas coisas que estamos a construir vão existir, isso não é uma questão neste ponto. A grande questão é se vão existir de uma forma que seja privada, descentralizada, Open Source e inclusiva”, afirma Tiago Sada.
Para lá da segurança do projeto, das Orbs ao World ID, passando pela World App, a privacidade dos dados dos utilizadores é vista como uma prioridade para a empresa, embora ainda existam questões "no ar". Por exemplo, o SAPO TEK questionou o que acontece quando um utilizador decide que não quer mais fazer parte do sistema e quer que os seus dados, especificamente o seu Iris Code, sejam eliminados, e estamos a aguardar uma resposta.
Olhando para Portugal, onde a Worldcoin está presente há quase um ano, tendo sido escolhido para a estreia no mercado europeu, a empresa conta com mais de 130 mil inscrições.
Ricardo Macieira, manager europeu da Worldcoin, indica que, no país, a empresa está no processo de desenvolver parcerias para a integração do World ID. Depois de construírem uma base em Portugal ao longo destes últimos meses, a tecnológica está agora a preparar-se para dar verdadeiramente uso ao protocolo no país, algo que espera fazer ao longo dos próximos meses.
Nota de redação: A notícia foi atualizada com mais informação. (Última atualização: 16h14)
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